Revista Exame

A força dos caramelos: o amor aos pets movimenta um mercado de R$ 50 bilhões e gera novos negócios

Na Zazuu, empreendedora aposta na digitalização para se diferenciar num mercado em expansão

Aline Lex, da Zazuu: “A ideia é que o tutor encontre na plataforma tudo que envolva a vida de seu pet” (Leandro Fonseca/Exame)

Aline Lex, da Zazuu: “A ideia é que o tutor encontre na plataforma tudo que envolva a vida de seu pet” (Leandro Fonseca/Exame)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 23 de maio de 2024 às 06h00.

O país parou para assistir ao resgate do Caramelo, um cavalo que resistiu bravamente em cima de um telhado de uma casa inundada, na tragédia que assola o estado do Rio Grande do Sul. As cenas de socorro e resgate a cães, gatos e outros animais também correram por TVs e redes sociais. Emblemáticas sob várias perspectivas, as imagens ilustram um novo momento na relação dos brasileiros com os animais. O Brasil é o terceiro país com maior população de animais de estimação, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Na pandemia de covid-19, quando o isolamento bateu à porta, chegaram às casas e aos apartamentos companhias como Thor, Luke, Nina e Mel, os nomes mais comuns escolhidos pelos tutores para seus cães e gatos.

É dessa troca que se alimenta um setor que deve chegar a 50 bilhões de reais neste ano apenas com gastos em ração e cuidados — sem considerar medicamentos e seguros —, segundo a Euromonitor. O valor é mais do que o dobro de 2019. Naquela mesma época, a paulistana Aline Lex decidiu largar uma carreira no mercado financeiro para empreender no setor com a Zazuu, negócio em operação desde o segundo semestre de 2020. “Vi a oportunidade de digitalizar o mercado pet, assim como os restaurantes estavam fazendo. Eu queria usar a tecnologia como uma aliada na jornada, priorizando a experiência do animal, além de garantir praticidade aos tutores”, afirma. 

A pet tech foi criada com aplicativo próprio e três pet trucks, carros adaptados que se deslocam até os clientes para prestar serviços. Do início com banho e tosa, a fundadora percebeu que a plataforma poderia oferecer mais e conectar profissionais veterinários e prestadores de serviço aos clientes. Consultas online, exames, certificados de viagem e vacinas são alguns dos serviços disponíveis na ferramenta, que tem 500 profissionais cadastrados. No período, mais de 50.000 agendamentos foram realizados na capital paulista, entre atendimentos online e presenciais. “A ideia é que o tutor consiga encontrar na plataforma da Zazuu tudo o que envolva a vida de seu pet”, diz. Com o aporte de investidores-anjos da Harvard Angels, em 2021, e extensão em 2022, a startup profissionalizou a gestão para armazenar dados dos mais de 15.000 pets na base e ampliou para 14 o número de pet trucks na cidade de São Paulo. No último ano, o faturamento foi de 2,5 milhões de reais.

A Zazuu é parte de um quadro em expansão no universo de animais de estimação: as pet techs, negócios que usam tecnologia para entregar soluções melhores em serviços e produtos aos bichinhos. De acordo com a plataforma Distrito, são mais de 400 startups atualmente no país, ante 265 em 2019. No Web Summit Rio, a edição carioca de um dos principais eventos de inovação do mundo, lá estavam elas disputando espaço em meio às onipresentes conversas sobre os avanços da IA generativa. Entre os negócios, ferramentas digitais de adestramento, pet sitters e até uma plataforma que quer dar “voz” aos pets a partir da análise de dados comportamentais. É um ecossistema que poderia ser ainda maior, não fosse a escassez de recursos que afetou transversalmente o venture capital nos últimos 24 meses. Após um boom em 2021, com 15 aportes que totalizaram mais de 11,6 milhões de dólares, o setor fechou o ano passado com apenas cinco captações e minguados 500.000 dólares. Mas a virada está a caminho, acredita Lex. “O momento está favorável para novas captações, dadas as movimentações no mercado brasileiro e seu potencial de crescimento”, diz. A própria Zazuu está em conversas para uma rodada, a fim de levar a operação a cidades no interior do estado e introduzir funcionalidades à plataforma.

O otimismo está no aumento dos gastos com os animais, previstos para alcançar 85 bilhões de reais em 2029, e ainda no tamanho do potencial. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, o país mais maduro no setor, o volume movimentado foi de 147 bilhões de dólares em 2023 — na conta com alimentação, produtos, tratamentos e medicamentos, de acordo com a associação americana de itens para pets (Appa). Ou seja, há ainda muito a ser feito por aqui. A recente fusão entre Petz e Cobasi, criando um gigante com faturamento de 6,9 bilhões de reais, caminha neste sentido de ampliar a escala dos negócios, refinar as estratégias e buscar a consolidação. As cifras e as oportunidades atraem também empresas tradicionais à procura de diversificação. Com faturamento de 30,8 bilhões de reais em 2023, o Grupo Boticário lançou a Au.Migos, linha para pets com xampu e colônia. Num período piloto de quatro meses, os produtos foram disponibilizados em 122 lojas e 17 espaços do revendedor. A meta agora é que cheguem a 4.000 lojas do grupo, além de 600 pontos de venda entre pet shops e megalojas. “Essa é a primeira marca lançada simultaneamente em lojas físicas, revendedores, marketplace e lojas do setor”, diz Renata Gomide, vice-presidente de Consumer do Grupo Boticário. Os caramelos, cor símbolo dos pets no país, estão em alta — e continuarão por muito tempo.   

Acompanhe tudo sobre:1263

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda