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A crise, enfim, está passando, diz ex-economista-chefe do FMI

Para Kenneth Rogoff, a economia mundial parece ter encontrado um rumo

Kenneth Rogoff: “É preciso cautela para aumentar os juros” (Eduardo Munoz/Reuters)

Kenneth Rogoff: “É preciso cautela para aumentar os juros” (Eduardo Munoz/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 5 de outubro de 2017 às 05h55.

Pouco depois do estouro da crise financeira de 2008, Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, escreveu um artigo dizendo que aquela não era uma crise comum, e que seus efeitos ainda levariam muitos anos para se dissipar. Ele estava certo. Só agora — quase dez anos depois — os países ricos entraram numa fase de recuperação mais clara. Para Rogoff, que é professor de políticas públicas e de economia na Universidade Harvard, agora é preciso entender por que a inflação ainda não voltou. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

A fase de crescimento baixo ficou para trás?

A maior parte das projeções para 2017 e 2018 sugere um crescimento global sólido, especialmente porque os dados da Europa têm superado as expectativas e porque os Estados Unidos parecem ter encontrado um rumo, depois de um início de ano difícil. A China também tem surpreendido e o cenário para os mercados emergentes, incluindo o Brasil, é bom. Na minha opinião, o fato de algumas economias ainda registrarem um crescimento mais fraco e de os investimentos serem baixos ainda é um resquício da crise econômica, mas ela finalmente está passando. Em algum momento, veremos mais investimentos e juros maiores.

Os bancos centrais estão certos em reverter as políticas de juros baixos?

Os bancos centrais precisam ter muita cautela na hora de aumentar a taxa de juro, pois, até agora, não há sinais claros da volta da inflação. O que não deixa de ser um enigma.

Qual é sua explicação?

Na minha opinião, existem duas respostas possíveis. A primeira é que, mesmo com desemprego baixo, os rendimentos salariais continuam perdendo participação no PIB, o que pode estar pressionando os preços para baixo. A segunda é que, apesar de o mercado de trabalho nos países desenvolvidos parecer saturado, no cenário global há ainda muito espaço para crescer. É o caso da Índia e da China, que devem contratar 10 milhões de trabalhadores cada um nos próximos anos. Esse aumento da força de trabalho também pressiona os salários para baixo nos países ricos, reduzindo a inflação.

Quem foram os maiores perdedores e ganhadores com a crise econômica?

Obviamente, a crise financeira não foi positiva, mas é evidente que políticos populistas se beneficiaram do descontentamento generalizado. Isso é algo que reverbera em todo o mundo. É só ver o que o resultado da eleição na Alemanha.

Vista hoje, a resposta dos países à crise foi acertada?

A melhor solução para a crise teria sido o governo americano usar recursos públicos para ajudar as pessoas a quitar as dívidas imobiliárias em troca de uma participação em suas casas. Essas medidas teriam sido custosas no curto prazo, mas os países economizariam no longo prazo. Além disso, eles foram muito tímidos em nacionalizar os bancos. Deveriam ter feito isso, exigindo uma recompra por parte do setor privado. Seria arriscado, mas a concessão de empréstimos seria normalizada mais rapidamente e a medida ainda mostraria para as pessoas que os responsáveis pela crise iriam pagar por seus atos. Possivelmente, isso teria calado a resposta populista que veio em seguida.

 

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