Revista Exame

A arte de fazer menos com mais

A produtividade da economia, que já não era das melhores, caiu nos últimos dois anos. A consequência: o investimento trava, o PIB não consegue crescer e vamos na contramão de nossas necessidades

Produção de computadores: o ambiente da economia brasileira sufoca a iniciativa das empresas do país  (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Produção de computadores: o ambiente da economia brasileira sufoca a iniciativa das empresas do país (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2012 às 16h39.

São Paulo - Aconteceu de novo: a produtividade da economia brasileira caiu, pelo segundo ano consecutivo, em 2012. Recorrendo ao “Teatro Corisco”, de Millôr Fernandes, aquele que resumia a peça inteira numa frase e acabava com “pano extremamente rápido”, isso quer dizer que, durante o governo da presidente Dilma Rousseff, o Brasil está ficando menos produtivo do que era.

Não aumenta seu índice de eficiência econômica, condição indispensável para crescer, gerar riqueza e distribuir melhor a renda; em vez disso, diminui o que deveria estar aumentando e torna a situação ainda pior do que já era. Os cálculos, que acabam de ser divulgados, são da Fundação Getulio Vargas.

Falam em “produtividade total dos fatores” e outros horrores de uso privativo do linguajar econômico, mas, quando são traduzidos para o português corrente, mostram que o país está fazendo o mesmo esforço e gastando os mesmos recursos para produzir menos — o que vai na exata contramão do que vinha acontecendo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a produtividade fez avanços importantes. A consequência imediata disso é que o PIB trava nas vizinhanças do zero e os investimentos puxam o freio.

A produtividade não cai porque o trabalhador brasileiro é preguiçoso ou porque os dirigentes das empresas mandam os funcionários produzir menos.

Cai porque a economia brasileira opera em condições que praticamente impedem o funcionamento lógico da produção, escravizada por um sistema demente de exigências burocráticas irracionais e por uma carga de impostos excessiva no montante a pagar e complicadíssima nas exigências a cumprir.

Tem volume e escala de uma economia de Primeiro Mundo e uma infraestrutura de país africano. Para completar, conta com autoridades econômicas que, a partir do atual governo, vêm superando a cada momento novas fronteiras em matéria de mediocridade. (Nunca é demais dizer que isso é muito melhor do que vir com pacotes de medidas adotadas no pânico ou com planos econômicos exóticos, como se fazia em todos os governos antes dos oito anos de gestão do presidente Fernando Henrique; mas é pouco, muito pouco, para um país que tem necessidades dramáticas de crescer mais e crescer mais depressa.)


O resultado é que a produtividade da economia brasileira se defende, e até cresce, quando o alinhamento dos astros é favorável — e bate com a cara na parede assim que aparecem as primeiras dificuldades mais sérias. É o que está acontecendo agora.

Influi muito nisso tudo, também, o medo quase infantil que a maioria dos altos funcionários da área econômica do governo tem da presidente da República.

Ao contrário de seu antecessor, que escolheu com grande acerto uma equipe competente para a economia e deixou com eles a administração do dia a dia, Dilma Rousseff gosta de agir como a ministra plenipotenciária do setor econômico de seu próprio governo — da Fazenda ao Planejamento, da Energia à Indústria, Comércio, Transporte e o que mais aparecer pela frente.

Acha que ninguém à sua volta é melhor que ela (no que pode, aliás, ter toda a razão), e a consequência imediata disso é que os ministros e outros doutores do governo federal ficam esperando para ver o que Dilma resolve, ou tentando adivinhar o que lhe vai pela cabeça.

Acontece que a presidente não pode conhecer, ao mesmo tempo, todos os assuntos possíveis da economia brasileira e mundial; com frequência, como qualquer ser humano normal, simplesmente não sabe qual é a melhor solução para isso ou aquilo. Não é preciso grande sabedoria para concluir que assim não vai.

Lula, no palanque, não parou um instante de dizer que o governo Fernando Henrique havia deixado a economia brasileira numa ruína só comparável à de Hiroshima depois da bomba atômica. Mas, na hora de assinar qualquer papel, ou seja, quando a coisa era para valer, copiou rigorosamente, na essência, tudo o que seu predecessor tinha feito na área econômica. Dilma deveria, talvez, tentar algo parecido.

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