Exame Logo

Yes, nós temos empregos para estrangeiros

As boas oportunidades no Brasil estão atraindo uma leva de estrangeiros que querem trabalhar aqui. Como aproveitar este momento?

Alexander Tabor, Júlio Vasconcellos e Emerson Andrade, do Peixe Urbano: Aulas particulares de português e aluguel de tríplex em Copacabana para ajudar na adaptação dos estrangeiros (Eduardo Monteiro)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2012 às 06h00.

São Paulo - Já não é novidade para o empreendedor paranaense Carlos Walter Martins Pedro, de 54 anos, apresentar a seus funcionários o mais novo estrangei­ro a fazer parte da equipe de sua empresa de equipamentos para irrigação, a ZM Bombas, de Maringá. Todos os anos, Pedro recebe pelo menos um engenheiro estrangeiro recém-formado para um intercâmbio de trabalho.

Já passaram pela ZM Bombas profissionais de países como Austrália, Holanda, Moçambique e Colômbia. Todos chegam com a missão de desenvolver um produto novo e depois de um período, que varia de três meses a um ano, voltam para seu país de origem. Ultimamente, Pedro tem mudado um pouco esse roteiro.

Seu objetivo é oferecer uma vaga aos jovens que mais se destacam. Dois deles, um venezuelano e um mexicano, acabaram ficando em Maringá como contratados da ZM Bombas depois de concluírem seus projetos. "São jovens com experiên­cia em mais de um emprego no exterior e com uma ótima formação técnica", afirma Pedro. "Tentamos atraí-los oferecendo algumas de nossas melhores vagas."

A exemplo de Pedro, muitos empreendedores brasileiros estão abrindo as portas de suas empresas para profissionais de fora. Em 2011, as autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros aumentaram 25% em relação ao ano anterior. Muitas delas são temporárias e têm duração de até dois anos. Se apenas as autorizações permanentes de trabalho forem levadas em consideração, o aumento é ainda maior, chegando a quase 50% no mesmo período.

"Há alguns anos, os estrangeiros que vinham para o Brasil a trabalho eram executivos expatriados que ocupavam altos cargos em grandes empresas", diz o recrutador Adria­no Bravo, da Petra Executive Search. "Recentemente, uma boa leva de jovens qualificados tem chegado em busca de novas experiências em empresas menores, que oferecem oportunidade de crescimento rápido."

Uma conjunção de fatores colabora para que o momento seja especialmente propício à contratação de imigrantes por empresas brasileiras de pequeno e médio porte. Os paí­ses da Europa enfrentam um período de crise que gerou as mais altas taxas de desemprego das últimas décadas - só na Espanha, um quarto da população em idade ativa está desocupado.

No Brasil, a disputa por funcionários qualificados tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, o que gerou um apagão de mão de obra. Um índice de desemprego de 6% foi registrado no país em 2011, o mais baixo desde que o IBGE começou suas medições nas principais regiões metropolitanas, em 2002. "Essa é uma boa hora para que os empreendedores brasileiros diminuam o impacto do apagão de mão de obra buscando profissionais qualificados em países castigados pela crise", diz Bravo.


Do total de imigrantes que receberam autorização para trabalhar no Brasil em 2011, 60% têm ensino superior completo. A chegada desse tipo de mão de obra pode dar um alívio a setores que atualmente sofrem com a escassez de talentos. No caso da ZM Bombas, nos últimos anos Pedro tem sentido uma grande dificuldade para contratar engenheiros especializados em projetar novos produtos.

De acordo com o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, há uma carência de 20.000 engenheiros a cada ano no Brasil - déficit que tende a piorar conforme avançam as obras para a Copa do Mundo e para a Olimpíada. "Já não sei quantos bons engenheiros perdi por não conseguir cobrir a oferta de uma empresa muito maior que a minha", diz Pedro.

Na contratação de um imigrante é diferente. Como é em nome da empresa que se entra com um pedido de autorização de trabalho, a permanência do estrangeiro no Brasil é ligada ao tempo previsto em contrato. "O fato de o visto de trabalho ser emitido mediante um pedido do empregador torna um pouco mais difícil a ida do funcionário para a concor­rência", diz o advogado Antonio Cândido de Fran­ça Ribeiro, da Overseas Consultoria, especializada em processos de migração.

Outro fator que pesa em favor dos donos de empresas em rápida expansão é a chance de oferecer reais possibilidades de ascensão ao imigrante num período relativamente curto.

O engenheiro mecânico mexicano Jorge Arnaldo Anacleto Ortiz, de 29 anos, experimentou as vantagens de ocupar uma vaga numa empresa do tamanho da ZM Bombas, que no ano passado faturou 20 milhões de reais, 14% mais do que em 2010.

"Aqui coordeno a criação de produtos importantes, como geradores de energia eólica para prédios e residências, e meu salário é o dobro do que eu ganharia no México", diz Ortiz. Antes de chegar ao Brasil, em 2008, ele fez um período da faculdade nos Estados Unidos e outro na Alemanha, onde foi estagiário da BMW.

Contratar um imigrante tem lá suas complicações. Para poder regularizar a situação de alguém que já esteja no Brasil com um visto de turismo, por exemplo, é preciso entrar com um pedido no Ministério do Trabalho e contratar um advogado para acompanhar o trâmite - o que pode custar, em média, entre 5.000 e 6.000 reais.


Algumas empresas ainda oferecem uma ajuda extra, como cursos de português, para que os estrangeiros se adaptem mais rapidamente ao trabalho. "Não dar o devido apoio ao estrangeiro pode com­prometer a produtividade", diz Andréa Fuks, da consultoria Global Line, especializada em treinamento de expatriados.

Para evitar esse tipo de problema, o site de compras coletivas Peixe Urbano, do Rio de Janeiro, alugou um tríplex em Copacabana para receber seus funcionários estrangeiros que chegam ao país. O espaço serve de moradia temporária até que eles se estabeleçam em sua própria casa.

O Peixe Urbano tem hoje 15 funcionários de países como Suécia, Argentina, Itália e Espanha. Além da ajuda com a moradia, eles também têm cursos de português pagos pela empresa. "Nosso tipo de negócio é relativamente novo e quase não há gente com experiência suficiente por aqui", diz o administrador Emerson Andrade, de 37 anos, um dos donos do Peixe Urbano.

Com pouco mais de dois anos de existência, o Peixe Urbano já ultrapassou 200 milhões de reais em receitas, segundo estimativas do mercado. Seu crescimento acelerado faz com que cerca de 60 vagas sejam abertas a cada mês. "Precisamos de muitos engenheiros de software e programadores com aptidão para negócios", diz Andrade.

Para suprir essa necessidade, um grupo de diretores  do Peixe Urbano desembarcou em janeiro na Califórnia para recrutar egressos de universidades como Stanford e Berkeley. Entre 300 interessados, um foi contratado e três farão um estágio de três meses a partir de julho. "Estamos aproveitando a boa impressão causada pela economia brasileira para trazer os melhores profissionais", diz Andrade.

Veja também

São Paulo - Já não é novidade para o empreendedor paranaense Carlos Walter Martins Pedro, de 54 anos, apresentar a seus funcionários o mais novo estrangei­ro a fazer parte da equipe de sua empresa de equipamentos para irrigação, a ZM Bombas, de Maringá. Todos os anos, Pedro recebe pelo menos um engenheiro estrangeiro recém-formado para um intercâmbio de trabalho.

Já passaram pela ZM Bombas profissionais de países como Austrália, Holanda, Moçambique e Colômbia. Todos chegam com a missão de desenvolver um produto novo e depois de um período, que varia de três meses a um ano, voltam para seu país de origem. Ultimamente, Pedro tem mudado um pouco esse roteiro.

Seu objetivo é oferecer uma vaga aos jovens que mais se destacam. Dois deles, um venezuelano e um mexicano, acabaram ficando em Maringá como contratados da ZM Bombas depois de concluírem seus projetos. "São jovens com experiên­cia em mais de um emprego no exterior e com uma ótima formação técnica", afirma Pedro. "Tentamos atraí-los oferecendo algumas de nossas melhores vagas."

A exemplo de Pedro, muitos empreendedores brasileiros estão abrindo as portas de suas empresas para profissionais de fora. Em 2011, as autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros aumentaram 25% em relação ao ano anterior. Muitas delas são temporárias e têm duração de até dois anos. Se apenas as autorizações permanentes de trabalho forem levadas em consideração, o aumento é ainda maior, chegando a quase 50% no mesmo período.

"Há alguns anos, os estrangeiros que vinham para o Brasil a trabalho eram executivos expatriados que ocupavam altos cargos em grandes empresas", diz o recrutador Adria­no Bravo, da Petra Executive Search. "Recentemente, uma boa leva de jovens qualificados tem chegado em busca de novas experiências em empresas menores, que oferecem oportunidade de crescimento rápido."

Uma conjunção de fatores colabora para que o momento seja especialmente propício à contratação de imigrantes por empresas brasileiras de pequeno e médio porte. Os paí­ses da Europa enfrentam um período de crise que gerou as mais altas taxas de desemprego das últimas décadas - só na Espanha, um quarto da população em idade ativa está desocupado.

No Brasil, a disputa por funcionários qualificados tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, o que gerou um apagão de mão de obra. Um índice de desemprego de 6% foi registrado no país em 2011, o mais baixo desde que o IBGE começou suas medições nas principais regiões metropolitanas, em 2002. "Essa é uma boa hora para que os empreendedores brasileiros diminuam o impacto do apagão de mão de obra buscando profissionais qualificados em países castigados pela crise", diz Bravo.


Do total de imigrantes que receberam autorização para trabalhar no Brasil em 2011, 60% têm ensino superior completo. A chegada desse tipo de mão de obra pode dar um alívio a setores que atualmente sofrem com a escassez de talentos. No caso da ZM Bombas, nos últimos anos Pedro tem sentido uma grande dificuldade para contratar engenheiros especializados em projetar novos produtos.

De acordo com o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, há uma carência de 20.000 engenheiros a cada ano no Brasil - déficit que tende a piorar conforme avançam as obras para a Copa do Mundo e para a Olimpíada. "Já não sei quantos bons engenheiros perdi por não conseguir cobrir a oferta de uma empresa muito maior que a minha", diz Pedro.

Na contratação de um imigrante é diferente. Como é em nome da empresa que se entra com um pedido de autorização de trabalho, a permanência do estrangeiro no Brasil é ligada ao tempo previsto em contrato. "O fato de o visto de trabalho ser emitido mediante um pedido do empregador torna um pouco mais difícil a ida do funcionário para a concor­rência", diz o advogado Antonio Cândido de Fran­ça Ribeiro, da Overseas Consultoria, especializada em processos de migração.

Outro fator que pesa em favor dos donos de empresas em rápida expansão é a chance de oferecer reais possibilidades de ascensão ao imigrante num período relativamente curto.

O engenheiro mecânico mexicano Jorge Arnaldo Anacleto Ortiz, de 29 anos, experimentou as vantagens de ocupar uma vaga numa empresa do tamanho da ZM Bombas, que no ano passado faturou 20 milhões de reais, 14% mais do que em 2010.

"Aqui coordeno a criação de produtos importantes, como geradores de energia eólica para prédios e residências, e meu salário é o dobro do que eu ganharia no México", diz Ortiz. Antes de chegar ao Brasil, em 2008, ele fez um período da faculdade nos Estados Unidos e outro na Alemanha, onde foi estagiário da BMW.

Contratar um imigrante tem lá suas complicações. Para poder regularizar a situação de alguém que já esteja no Brasil com um visto de turismo, por exemplo, é preciso entrar com um pedido no Ministério do Trabalho e contratar um advogado para acompanhar o trâmite - o que pode custar, em média, entre 5.000 e 6.000 reais.


Algumas empresas ainda oferecem uma ajuda extra, como cursos de português, para que os estrangeiros se adaptem mais rapidamente ao trabalho. "Não dar o devido apoio ao estrangeiro pode com­prometer a produtividade", diz Andréa Fuks, da consultoria Global Line, especializada em treinamento de expatriados.

Para evitar esse tipo de problema, o site de compras coletivas Peixe Urbano, do Rio de Janeiro, alugou um tríplex em Copacabana para receber seus funcionários estrangeiros que chegam ao país. O espaço serve de moradia temporária até que eles se estabeleçam em sua própria casa.

O Peixe Urbano tem hoje 15 funcionários de países como Suécia, Argentina, Itália e Espanha. Além da ajuda com a moradia, eles também têm cursos de português pagos pela empresa. "Nosso tipo de negócio é relativamente novo e quase não há gente com experiência suficiente por aqui", diz o administrador Emerson Andrade, de 37 anos, um dos donos do Peixe Urbano.

Com pouco mais de dois anos de existência, o Peixe Urbano já ultrapassou 200 milhões de reais em receitas, segundo estimativas do mercado. Seu crescimento acelerado faz com que cerca de 60 vagas sejam abertas a cada mês. "Precisamos de muitos engenheiros de software e programadores com aptidão para negócios", diz Andrade.

Para suprir essa necessidade, um grupo de diretores  do Peixe Urbano desembarcou em janeiro na Califórnia para recrutar egressos de universidades como Stanford e Berkeley. Entre 300 interessados, um foi contratado e três farão um estágio de três meses a partir de julho. "Estamos aproveitando a boa impressão causada pela economia brasileira para trazer os melhores profissionais", diz Andrade.

Acompanhe tudo sobre:EmpregosImigração
exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de PME

Mais na Exame