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Veja como entrar na ACE, maior aceleradora de startups da AL

Fomos ao escritório da Aceleratech, agora chamada de ACE, para conhecer mais sobre seu processo de seleção e investimento para startups.

Pedro Waengertner, co-fundador da ACE (Mariana Fonseca/EXAME.com)

Pedro Waengertner, co-fundador da ACE (Mariana Fonseca/EXAME.com)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 27 de julho de 2016 às 06h00.

São Paulo – A Aceleratech, eleita três vezes consecutivas a melhor aceleradora de startups da América Latina pelo Prêmio Latam Founders, mudou de casa e de nome este mês: de Aceleratech, passou para ACE.

O novo local, que fica na avenida Paulista (São Paulo), tem 400 m² de espaço e pode abrigar até 90 empreendedores. A inauguração oficial será amanhã (28), mas já é possível conferir fotos da nova sede nas imagens acima.

Quem viabilizou a nova sede foi uma empresa que participou do programa da aceleradora: a Nosso Capital, especializada em crowdfunding imobiliário. Houve uma captação de aportes e, após curadoria da aceleradora, os investidores selecionados poderão usar o espaço, além de receberem o retorno do investimento. O tempo de planejamento para a mudança foi de cinco meses.

Em quatro anos de operação, a aceleradora já realizou seis exits (vendas de startups para empresas maiores; no caso da ACE, negócios como Mercado Livre e B2W) e fechou contratos de investimento e sociedade com 75 startups.

Pedro Waengertner, co-fundador da ACE, falou a EXAME.com sobre o que ela oferece aos empreendedores – e por que é considerada a maior aceleradora da América Latina.

Criação e desenvolvimento

A ACE foi criada pelos empreendedores seriais Mike Ajnsztajn e Pedro Waengertner. Antes, os dois já haviam feito um negócio em parceria: o site de reservas online de restaurantes Zuppa, depois vendido para o Peixe Urbano. Em 2012, eles resolveram se juntar novamente, mas para criar uma aceleradora a partir de sua experiência em negócios próprios.

“Há várias coisas na ACE que ajudam os empreendedores, mas a gente acha que o que realmente faz a diferença é o acesso ao capital e ao networking. A nossa rede é muito boa: temos gente que já fez e vendeu sua empresa, grandes executivos e gente que com expertises bem específicas, sejam daqui ou de outros países”, explica Waengertner.

“Mas, se não trazemos os melhores para a aceleradora, nada disso funciona. Então, são as duas coisas que nos diferenciam: a seleção e o acesso a futuros contatos.”

Além da sede em São Paulo, chamada ACE Campus, a aceleradora irá abrir filiais em Curitiba, Goiânia e Rio de Janeiro. A ideia é que esses novos locais estejam prontos no segundo semestre de 2016 – provavelmente, por volta de outubro.

Aceleração: seleção

Waengertner conta quais tipos de startups atraem mais a atenção da ACE. “Gostamos de fintechs [startups que trazem tecnologia ao setor financeiro], que são a moda da vez e não à toa, porque temos muitos desafios nessa área. Também nos interessamos por mercados mais tradicionais e com muitas ineficiências, como educação e saúde. Por fim, olhamos empresas em mercados em que é preciso otimizar o contato entre compradores e vendedores, principalmente com foco em B2B para pequenas e médias empresas.”

Porém, ele ressalta que isso não quer dizer que a aceleradora não considere todos os tipos de negócio.

“Como o Brasil é um ecossistema muito jovem, não temos um volume gigante de empresas, como ocorre nos Estados Unidos. Lá, isso permite criar aceleradoras focadas em algum setor específico. Quando temos uma startup que se encaixe nessa situação, gostamos de fazer parceria com grandes empresas, porque ela pode ajudar esse novo negócio diante de um mercado ainda imaturo”. Essas empresas incluem, por exemplo, a Algar Telecom e a Enel Energia.

Seja o setor que for, o ponto que recebe mais atenção da ACE na hora de selecionar uma startup é o time do negócio. ”Se virmos que o negócio precisa melhorar, tudo bem. Mas, se o time não é maravilhoso, não dá para acelerar.”

Alguns pontos analisados pela aceleradora são a proposta da empresa, os detalhes técnicos do produto ou serviço, o mercado, os possíveis concorrentes e o comportamento de cada membro do time, inclusive com auxílio de psicólogos. São feitas diversas reuniões, que incluem teste do produto ou serviço pela ACE e contato com os clientes da startup (se já existem).

Depois dessa análise, a startup deve ser aprovada pelo comitê de investidores da ACE. Há uma reunião em que a equipe da startup apresenta a empresa e responde a perguntas.

“Se o comitê ainda tiver dúvidas, fazemos um aprofundamento com os mais focados no setor do projeto. Eles podem, então, dar um feedback positivo ou negativo à startup. Usamos muito a inteligência do nosso grupo, com mais de 100 investidores que nos ajudam a decidir a entrada ou não do negócio na ACE”, diz Waengertner.

Esse contato também é importante porque alguns investidores podem querer investir mais no negócio depois. “Depois da aceleração, podemos ter o chamado co-investimento: chamamos aqueles mesmos investidores do início e convidamos a completar um novo investimento que a aceleradora já fará, apresentando um grande relatório e nossa meta de captação.”

Aceleração: ACE Start e ACE Growth

O processo de aceleração da ACE é dividido em dois processos separados: o ACE Start, de quatro meses, e o ACE Growth, de seis meses.

O ACE Start está apenas em sua segunda turma e começou por uma demanda percebida no processo tradicional de aceleração da ACE.

“No passado, não pegávamos algumas empresas por elas serem muito iniciantes - ou ela chegava a passar e não aproveitava a aceleração como a gente desejaria, já que não sabia informações como perfil de cliente, técnicas de vendas, entre outros aprendizados”, explica Waengertner.

“Essas empresas só começavam a aproveitar meses depois. A ideia, com o ACE Start, é não colocar tanta pressão em crescimento, para que elas antes consigam essa validação. Afinal, elas tomam decisões ruins se não têm uma ideia clara sobre sua estratégia de negócio.”

Nesses quatro meses, há reuniões mensais com um comitê de avaliação, que analisa a evolução da startup e se ela irá continuar ou não no processo. Não há investimento no ACE Start e, por isso, é possível selecionar mais negócios – há uma média de dez empresas selecionadas por edição.

No final do programa, o ideal é que a startup passe para o ACE Growth: é quando a aceleradora investe cerca de 150 mil reais no negócio, em troca de 10% de participação. Durante seis meses, há uma avaliação focada em crescimento. “Além dessa cobrança por metas, as empresas possuem acesso à nossa rede de investidores e mentores.”

No ACE Growth, cerca de cinco empresas são escolhidas por edição. As acelerações de quatro e seis meses são separadas: não é preciso ter feito o ACE Start para concorrer ao ACE Growth; é possível se inscrever separadamente.

As inscrições para os dois processos estão abertas até 7 de agosto, por meio do site da ACE.

Além das empresas que estão sendo aceleradas, a nova sede da ACE servirá também espaço de coworking para startups que já passaram pela aceleradora. Segundo Waengertner, o perfil ideal de residente do novo espaço é o negócio que acabou de sair da ACE Growth e possui uma equipe de cinco ou seis pessoas.

“Ele consegue pegar uma salinha, ou uma das mesas abertas. Priorizamos aqueles que já passaram pela nossa seleção, mas vários deles ou são muito pré-operacionais ou muito avançados. Nos dois casos, não conseguem usar nosso espaço.”

Por isso, a ACE informa que irá realizar convites para empresas, investidores, mentores e profissionais estabelecidos para ocuparem os espaços restantes na sede.

O objetivo é criar um espaço que permita tanto que os acelerados interajam quanto trazer empresas e pessoas que a ACE quer acompanhar ou que possuam sinergia com as startups já aceleradas. Essa seleção externa ainda não está aberta ao mercado.

Hoje em dia, a ACE abre cada um dos processos duas vezes por ano – porém, a ideia é que ACE Start ocorra três vezes por ano, com seleções regionais nas novas sedes.

“Sabemos que o custo de viajar até São Paulo e morar aqui por quatro meses é alto, quando ainda não há nenhuma garantia de investimento. Tem várias pessoas que achamos que poderiam vir, mas financeiramente é complicado para elas”, explica Waengertner.

Outras frentes

Além da aceleração, a ACE desenvolveu frentes para empreendedores ainda mais iniciantes, para grandes empresas e para investidores.

“A grande maioria das pessoas ainda não está no estágio de aceleração. Por isso, desenvolvemos a ACE University: uma plataforma de conteúdos e mentorias em grande escala”, explica Waengertner. A ideia é identificar quais as principais dificuldades que os empreendedores possuem no começo e produzir materiais curtos e longos, digitais e presenciais, para que qualquer um possa aprender. A grande maioria desse conteúdo será gratuita”, diz o co-fundador.

No site da ACE, é possível se inscrever para receber novidades da ACE University – por enquanto, há dois cursos disponíveis. Depois desse estágio, o empreendedor consegue colocar seu negócio de pé e, aí, pode concorrer ao ACE Start e ao ACE Growth.

Com relação às grandes empresas, a ACE oferece ajuda para que estas inovem, por meio de parcerias com as próprias startups aceleradas e aconselhamento.

Por fim, a ACE também estimula que investidores físicos realizem aplicações nas startups – o chamado investimento-anjo. Há chamadas para novos investidores todos os anos. Enquanto alguns são chamados de “investidores parceiros”, outros fazem parte do “clube ACE Angels”: a diferença é que o clube possui acesso a ofertas mais exclusivas, quando a empresa está em um estágio mais inicial.

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