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Uma startup de viagens fez o impossível: cresceu 10 vezes na pandemia

A Smartrips, que tem o economista Ricardo Amorim entre seus investidores, resolveu olhar diferente para o mercado de viagens corporativas

Caio Artoni e Felipe La Porte, fundadores da Smartrips: plataforma permite gestão de viagens corporativas totalmente online (Smartrips/Divulgação)

Caio Artoni e Felipe La Porte, fundadores da Smartrips: plataforma permite gestão de viagens corporativas totalmente online (Smartrips/Divulgação)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 23 de agosto de 2020 às 08h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2020 às 10h23.

As primeiras empresas atingidas pela pandemia do novo coronavírus, quando quase nada se sabia sobre a doença ainda, foram as de viagens. Provavelmente, serão as últimas a se recuperar, depois de perder cerca de 200 milhões de empregos e deixando de contribuir com 5,5 trilhões de dólares para o Produto Interno Bruto global em 2020, segundo a associação internacional World Travel & Tourism Council. Mas, apesar da imensa dificuldade, a principal lição de gestão tirada da covid-19 também se aplica a esse setor: inovação é a chave para conseguir acompanhar as mudanças cada vez mais rápidas da economia e seguir no jogo. Como fez a startup Smartrips, focada em viagens corporativas: abordando diferente um velho problema, cresceu dez vezes em cinco meses e vai ajudar seus clientes a sair mais eficientes da crise.

Quando fundaram a startup, em 2017, Felipe La Porte e Caio Artoni queriam reduzir os gastos das empresas com viagens de trabalho. "Gamificaram" a questão: desenvolveram um jogo que incentivava os funcionários das empresas a economizar no orçamento de viagens corporativas dando “cashback” quando escolhiam opções baratas de voo ou hospedagem, por exemplo. O economista Ricardo Amorim, em cuja consultoria La Porte havia trabalhado, apostou na ideia logo no início e se tornou sócio da Smartrips.

Por um ano e meio, a Smartrips ganhou clientes, mas muitas empresas que seriam usuárias em potencial do “game” diziam que enfrentavam uma série de outras dificuldades com as viagens corporativas e preferiam resolver as mais básicas antes de pensar em mudar o comportamento do colaborador. “Percebemos, então, que havia uma oportunidade para oferecer uma ferramenta completa para as empresas fazerem a gestão das viagens totalmente online, sem depender das agências tradicionais”, diz La Porte.

No sistema mais comum do mercado, as companhias contratam agências de viagem, que funcionam como intermediárias, comprando as passagens de avião e reservando os hotéis para os colaboradores que viajam a trabalho, frequentemente usando a plataforma online de um terceiro. Muitas das providências necessárias para fazer a viagem acontecer, como as aprovações de orçamento, acabam sendo tomadas por telefone ou por e-mail, o que deixa o processo lento. “Hoje em dia, todo mundo está acostumado a fazer as suas reservas de viagens pessoais pela internet. Mas o segmento corporativo está uns dez anos atrás do turístico. Não pode ser mais difícil viajar pela empresa do que como consumidor”, diz La Porte.

Para atender essa demanda, a Smartrips criou uma plataforma que, personalizada com as políticas e preferências de cada empresa, permite que o planejamento de uma viagem seja feito pelo próprio funcionário totalmente online. Os orçamentos são separados pela ferramenta de acordo com cada centro de custo da companhia. “É como se cada empresa tivessea sua própria 'Decolar'", afirma La Porte. "Não queremos que as empresas viajem menos. Queremos que viajem melhor.” Esse é também o modelo da startup americana TripActions, que tem valor de mercado estimado em 4 bilhões de dólares. As empresas de inovação da Ambev, ZTech e ZXVentures, utilizam a plataforma da Smartrips. A ZUP, empresa de tecnologia adquirida pelo Itaú Unibanco, a GDSolar e a Green4T também estão entre os clientes.

Em vez de pagar os fornecedores dos serviços de viagem e posteriormente ser reembolsada pelo cliente, como fazem as agências tradicionais, a Smartrips requer que a empresa contratante efetue o pagamento diretamente na plataforma com um cartão de crédito corporativo. “Essa prática nos deu muita segurança durante a crise. Uma empresa que eventualmente deixou de pagar uma fatura para uma agência na pandemia levou perdas a toda a cadeia”, diz La Porte. Para o executivo, as agências de viagem tradicionais incorrem em um conflito de interesse. “Se der para o cliente mais ferramentas online, acaba perdendo uma parte do serviço.”

O próximo passo da Smartrips é oferecer funcionalidades que calculem, para a empresa, qual é o retorno obtido com as viagens – ligando cada deslocamento aos ganhos que proporcionaram. Em um cenário de austeridade financeira pós-pandemia, com cuidados de saúde redobrados, as companhias vão precisar pensar duas vezes antes de decidir que uma viagem é o melhor meio de conduzir um negócio. As empresas ainda não retomaram a rotina, mas o número de novos contratos assinados pela Smartrips desde março se multiplicou por dez em relação ao pré-crise, segundo La Porte. A startup não divulga mais detalhes sobre o faturamento.

Nos últimos três meses, a Smartrips desenvolveu 15 novas funcionalidades para a plataforma a partir de pedidos dos clientes. Tem dez funcionários, sendo metade na área de tecnologia, e prevê dobrar o quadro no ano que vem. Para avançar, a startup está em busca de novos investidores. Além de Amorim, o ex-presidente do Banco Pine Norberto Zaiet Junior é sócio de La Porte e Artoni na Smartrips. Para a startup, as viagens vão voltar a crescer lentamente, atingindo os patamares de antes da covid-19 somente em 2022. “É um momento de mudança. Uma redistribuição de cartas que está chacoalhando um mercado que estava muito engessado há tempos”, diz La Porte. “Achamos que agora é hora de nos fortalecer e acelerar.”

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