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TransferWise: a bilionária fintech do dinheiro sem fronteiras

Fundada em 2011 por dois estonianos, companhia já atua em 62 países e é avaliada em US$ 1,6 bilhão. Seu próximo alvo é o Brasil e suas altas taxas bancárias

TransferWise é um dos chamados "unicórnios" europeus, as empresas de tecnologia que valem mais de 1 bilhão de dólares (Carlos Barria/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 12h33.

Última atualização em 18 de janeiro de 2018 às 17h40.

Londres – Enviar e receber dinheiro de um país a outro é uma tarefa cada dia mais comum, mas ainda assim nada simples: seja em viagens ou negócios, é preciso administrar a transação em diferentes câmbios e moedas, além de lidar com taxas bancárias que podem ser bastante salgadas.

Tornar a experiência mais eficiente e com preço justo é o que promete a fintech britânica TransferWise, que oferece uma solução de transferência internacional alternativa aos bancos tradicionais.

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Avaliada em 1,6 bilhão de dólares, a TransferWise é um dos chamados ‘unicórnios’ europeus, as empresas de tecnologia que valem mais de 1 bilhão de dólares.

Fundada em 2011 pelos estonianos Taavet Hinrikus e Kristo Käärman, a empresa atende a 62 países, incluindo o Brasil, e as transações usando a ferramenta já movimentam 1 bilhão de dólares por mês.

Assim como outras fintechs, a companhia aposta na insatisfação geral com os bancos tradicionais para abocanhar novos clientes.

As transações peer-to-peer, princípio da economia compartilhada, são a base do funcionamento.

Em vez de transferências diretas entre fronteiras, o que a TransferWise faz é encurtar o caminho e, de forma simplificada, mandar o seu dinheiro direto para a conta de seu “par”, em seu país e na sua moeda, e o dele para a sua, no destino e com a moeda local.

“A ideia é que, assim como você precisa transferir dinheiro para outro país, alguém no destino pretende enviar valores no sentido inverso, onde você está”, explica o fundador Kristo Käärman, responsável pelas operações e tecnologia. Para tanto, ela faz parcerias com bancos locais nos países em que atua. Quando não é encontrando correspondente desejando enviar quantia proporcional para onde você está, a companhia “cobre” a diferença – isto é, ela fica com o que restar do seu envio e adquire moeda local para quitar sua transferência.

A empresa conta com investidores de peso, como as firmas de capital de risco norte-americanas IVP (que também fez aportes no Twitter) e Andreessen Horowitz. Apenas em novembro passado, foram injetados cerca de 280 milhões de dólares em novos investimentos.

No Brasil, onde a TransferWise opera desde 2015, a tarifa incidente sobre cada transferência pelo sistema (que pode chegar a, no máximo, 9.000 reais por mês) é de 2,5%, com IOF de 0,38% incluído. A média para o resto do mundo gira em torno de 1%.

A TransferWise justifica que as taxas praticadas no Brasil são superiores em grande medida por conta da inclusão do IOF. “Esse imposto é uma particularidade que encontramos no Brasil”, diz Diana Avila, que lidera as operações bancárias da companhia na América Latina.

Para operar em solo brasileiro, a fintech faz parceria com o Banco Rendimento e o Banco do Câmbio, que precisam enviar relatórios diários sobre as transações para o Banco Central. “Ainda assim, garantimos que sai mais barato do que o praticado pelos bancos”, afirma Avila.

O Itaú, por exemplo, cobra taxa de 115 reais por transferência internacional via internet, independentemente do valor transferido e até 20.000 dólares para clientes Uniclass e agências e até 50.000 dólares para clientes Personnalité, além do IOF. Resultado dos novos tempos no mercado de serviços bancários ou não, a tarifa já foi maior: 250 reais, valor agora praticado apenas nas mesas de câmbio (pelo telefone).

Desse modo, em transações superiores a 4.715 reais, as taxas de transferência online do Itaú são mais baixas do que as praticadas pela TransferWise.

A disputa fica então no câmbio da moeda estrangeira – o que na TransferWise é baseado no câmbio médio de mercado, geralmente mais baixo, enquanto os bancos estipulam um valor independente.

Em teste em janeiro, simulamos a transferência de 9.000 reais do Brasil para o Reino Unido. Descontando as taxas e impostos, chegariam 1.992 libras via TransferWise; pelo Itaú seriam 1.870 libras.

Explosão de fintechs

Baseada em um escritório em Shoreditch, bairro londrino dos jovens e descolados, a TransferWise está inserida no maior polo de fintechs da Europa.

Tendo Londres como centro efervescente, o Reino Unido é o país que mais atrai investimentos estrangeiros em fintechs (a maior parte deles vindos dos Estados Unidos).

De acordo com levantamento da prefeitura da capital britânica, de janeiro até setembro de 2017, foram 770 milhões de libras em investimentos nesse tipo de companhia no país (quase 1 bilhão de dólares). Nos últimos cinco anos, Londres recebeu sozinha 2,43 bilhões de libras em investimentos — ante 470 milhões da segunda colocada na Europa, Estocolmo.

A consultoria financeira EY calcula que o mercado britânico de fintechs gera 6,6 bilhões de libras em receitas por ano, o que colocaria o país à frente de centros como Nova York e Califórnia – com Brexit e tudo.

A TransferWise é um dos diamantes britânicos, mas vê a concorrência crescer. Em levantamento lançado em novembro, a consultoria KPMG apontou que, das 100 fintechs mais inovadoras do mundo neste ano, oito nasceram no Reino Unido.

Dentre elas, está a Revolut. Fundada em 2015, a empresa é avaliada em 335 milhões libras e, no último semestre, recebeu 50 milhões de libras de investidores como a firma Ribbit Capital, baseada no Vale do Silício.

Um desafio comum é se tornar rentável. “É comum que fintechs demorem a se tornar realmente lucrativas. O problema é que, às vezes, elas dependem da paciência dos investidores por retorno”, diz Tony Anderson, especialista em instituições financeiras e diretor de produtos financeiros e pagamentos da consultoria britânica Pinsent Masons.

Para acelerar os ganhos, a TransferWise começou a operar a conta corporativa borderless (sem fronteiras, em tradução livre, e ainda não disponível no Brasil), que permite administrar 28 diferentes câmbios e não conta com taxas mensais, apenas as tarifas incidentes nas transferências.

Expandir as fronteiras é outra prioridade. Atualmente, a empresa conta com nove escritórios internacionais, e o foco agora é a América Latina: além do Brasil, contas no México, Peru, Chile e Argentina recentemente passaram a aceitar transações de outros países onde a TransferWise opera. “Nosso próximo escritório definitivamente será no Brasil”, diz.

A companhia estima que as transações envolvendo contas brasileiras giram em torno de 5 milhões de reais por mês, uma fatia ainda pequena dos negócios.

Mas a TransferWise aposta que, ao oferecer preços mais baixos, roubará mercado dos bancos tradicionais. Competir contra as altas taxas bancárias do Brasil é sempre um grande negócio.

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