TikTok se desculpa e nega censura a Black Lives Matter e protestos
Posts usando com hashtags sobre as manifestações antirracistas nos EUA mostravam zero visualizações, o que o TikTok afirma que foi uma falha do sistema
Carolina Riveira
Publicado em 2 de junho de 2020 às 08h51.
Última atualização em 2 de junho de 2020 às 11h24.
A rede social chinesa TikTok divulgou um comunicado se desculpando após acusações de que estaria censurando posts acerca do movimento Black Lives Matter (ou "vidas negras importam").
O Black Lives Matter está no centro dos protestos antirracistas que tomaram os Estados Unidos nos últimos dias após o jovem George Floyd ser morto pela polícia na cidade de Minneapolis. Os protestos rapidamente se espalharam pelo país e devem continuar nesta terça-feira, 2.
Os usuários vinham reclamando em suas redes sociais que vídeos no TikTok com as hashtags #BlackLivesMatter e #GeorgeFloyd, usadas nas manifestações antirracistas, mostravam zero visualizações.
O TikTok disse que o caso foi uma falha do sistema na contagem e que, na verdade, as hashtags tinham mais de 2 bilhões de visualizações.
A empresa afirmou que outras hashtags populares e não-relacionadas às questões raciais foram afetadas pelo problema, como #dad (pai) e #cat (gato). O defeito começou na quinta-feira, 28 de maio, segundo o TikTok, e foi consertado por volta de sexta-feira, 29.
"Apesar disso, nós entendemos que muitos assumiram que esse bug era um ato intencional para suprimir as experiências e invalidar as emoções da comunidade negra. E nós sabemos que temos que trabalhar para reparar e ganhar novamente essa confiança", escreveram Vanessa Pappas, diretora do TikTok nos Estados Unidos, e Kudzi Chikumbu, diretor da Comunidade de Criadores da empresa.
O TikTok ficou conhecido por ser uma plataforma de vídeos rápidos e que atrai sobretudo os usuários mais jovens, o que tornou a rede social uma das plataformas de compartilhamento de conteúdo sobre os protestos americanos.
No comunicado sobre o caso, o TikTok disse que vai participar nesta terça-feira do movimento Blackout Tuesday (ou "terça-feira apagada", em tradução livre). Por causa da campanha, serão desligadas playlists e campanhas sonoras. Emissoras de rádio, televisão e plataformas de música como o Spotify e gravadoras já afirmaram que também vão pausar temporariamente as transmissões ou operações.
Manifestantes são vistos em meio à fumaça de gás lacrimogêneo durante protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, na Avenida Paulista, em São Paulo, 31 de maio de 2020. REUTERS / Rahel Patrasso
Manifestantes são vistos em meio à fumaça de gás lacrimogêneo durante protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, na Avenida Paulista, em São Paulo, 31 de maio de 2020. REUTERS / Rahel Patrasso
Pessoas protestam contra a violência policial durante operações em favelas contra gangues de drogas e racismo no Brasil, em frente ao Palácio da Guanabara, no Rio de Janeiro, Brasil, 31 de maio de 2020. REUTERS / Pilar Olivares
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O TikTok afirmou ainda que vai doar 3 milhões de dólares para organizações de caridade que ajudem as comunidades negras, que, reforça o TikTok, foram "afetadas de forma desproporcional pelos efeitos da covid-19". Outros 1 milhão de dólares serão doados "para lugar contra a injustiça racial e desigualdade que temos presenciado neste país", escreveram os porta-vozes do TikTok, se referindo aos Estados Unidos.
Neste mês de junho, considerado nos EUA o "Mês da Música Afro-Americana", o TikTok disse também que terá uma programação especial para divulgar o trabalho de artistas negros.
Outras polêmicas
O TikTok já se envolveu no ano passado em outra polêmica relacionada a protestos. A rede social, que pertence à chinesa ByteDance, foi acusada em 2019 de tirar do ar posts relacionados aos protestos em Hong Kong.
Relatos de busca por termos de Hong Kong no TikTok no ano passado mostravam imagens como selfies e fotos felizes, mas nenhum sinal dos protestos.
Na ocasião, parte dos moradores de Hong protestava -- em movimento que dura até hoje -- contra um movimento de restrição da autonomia da ilha por parte da China. A ligação do governo chinês com as maiores empresas do país é histórica, com relatos anteriores de posts sendo retirados do ar em plataformas de empresas de tecnologia como Tencent (dona do WeChat) e Baidu.
Com sede em Pequim, a ByteDance é a startup mais valiosa do mundo, avaliada oficialmente em 75 bilhões de dólares. Com o otimismo em meio ao alto uso de redes sociais na pandemia e à sua expansão internacional, a startup pode ter chegado a valor de mais de 100 bilhões de dólares neste ano, segundo a Bloomberg.
O TikTok passa de 800 milhões de usuários ativos. Só nos Estados Unidos, onde tem mais de 50 milhões de usuários, teve alta de mais 94% em usuários em março, segundo a consultoria comScore.
A empresa vem expandindo sua atuação para fora da China, algo que as redes sociais do país não haviam conseguido fazer até então. Em um cenário chinês onde redes sociais ocidentais como Facebook e Twitter são bloqueadas pelo governo, o sucesso do TikTok no Ocidente pode trazer polêmicas futuras sobre que tipo de post feito por jovens de outros países pode ser visualizado pelos usuários chineses.