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O que as startups portuguesas têm a ensinar para o Brasil

Já são 40 dessas empresas inovadoras que cresceram e atingiram o nível de scaleups no ramo de informação e tecnologia. Detalhe: a maioria nasceu em plena crise.

Startup: o crescimento desse mercado se deu depois da crise que os portugueses enfrentaram em 2008 (Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2016 às 11h02.

São Paulo - Foi depois de passar 10 meses no Himalaia que Ricardo Sécio voltou para Portugal e criou a startup Best Tables, de reserva e descontos em restaurantes. No início de 2016, a empresa foi comprada pela Trip Advisor e, além da mudança de nome para “The Fork”, dobrou seu número de funcionários.

A startup criada por Sécio faz parte de um crescimento expressivo do mercado de startups português. Segundo Paulo Lourenço, cônsul-geral do país em São Paulo, “Portugal tem chamado a atenção do mundo e, dessa vez, não é só por seu bom clima e boa comida”.

Já são ao menos 40 dessas empresas inovadoras que cresceram e atingiram o nível de scaleups no ramo de informação e tecnologia. Esse novo patamar de negócios é ocupado por startups que levantaram pelo menos 1 milhão de dólares desde a sua fundação, além de gerarem mais empregos que as demais.

O mais interessante, porém, é que esse crescimento se deu depois da crise que os portugueses enfrentaram em 2008.  Aliás, para Lourenço, esse movimento está intimamente ligado à recessão que o país viveu. “Quando os jovens de 20 anos começam a notar que, ao contrário das outras gerações, não teriam um emprego garantido ao terminar a faculdade, nasceu um espírito de urgência muito grande”, diz.

Na criação da Best Tables, as dificuldades financeiras do país também tiveram sua colaboração. Ao se aventurar na viagem ao Himalaia, Sécio precisou abandonar seu emprego e, quando retornou ao país, em 2010, percebeu que não seria fácil se recolocar no mercado de trabalho com o mesmo salário.

Aproximadamente um ano depois, juntamente com o sócio Sérgio Sequeira, ele lançaria o aplicativo que organiza reservas em restaurantes em tempo real.

A crise gera novas soluções

Para Paulo Lourenco, momentos de dificuldades nos obrigam a encontrar novas soluções para problemas antigos. A prova disso é que, com menos dinheiro disponível, as startups portuguesas passaram a buscar soluções de economia colaborativa.

Muitas delas, por exemplo, começaram a dividir espaços abandonados cedidos pelos municípios para reduzir custos. Os municicípios, por sua vez, desenvolveram formas de incentivar esse movimento sem injetar dinheiro, uma vez que os recursos simplesmente não existiam.

Além de ceder os galpões abandonados, as cidades passaram a simplificar a vida dos empreendedores, derrubando barreiras burocráticas. Outra iniciativa feita foi simplificar a maneira de pagar os impostos, ainda que eles continuassem altos pelo momento econômico que o país enfrentava.

Foco na internacionalização

Para o cônsul, o grande segredo do sucesso português é o olhar para o exterior. Afinal, com um mercado interno de 10 milhões de habitantes, é preciso estar atento às oportunidades fora do país.

Foi exatamente com essa lógica que a Best Tables atingiu seu sucesso. Em 2013, quando a startup ainda não havia atingido as expectativas de seus criadores, o alvo foi o Brasil. O investidor-anjo que proporcionou recursos para a internacionalização foi a Shilling Capital Partners, também de Portugal.

Ricardo mudou-se para São Paulo e aqui teve ainda a parceria com o iFood, outro aplicativo voltado para o setor de alimentação. Depois do sucesso na cidade, a fama da qualidade dos serviços chegou até a Trip Advisor.

A compra começou em abril de 2015, mas só foi finalizada em dezembro. Seus efeitos, porém, já são sentidos em 2016, ano em que as novas operações começaram de fato. Agora, em vez de 12 funcionários, 34 pessoas têm lugar na empresa.

Destaque no mundo

Um estudo da Startup Europe Partnership mostrou que a Best Tables faz parte de um movimento maior em Portugal e não é única que alcançou o sucesso. As 40 scaleups portuguesas encontradas no levantamento “Portugal Rising Mapping ICT Scaleups” já levantaram 166 milhões de dólares.

Outro dado importante é que 75% dessas empresas que atingiram patamar de escala nasceram depois de 2010. Além disso, há mais 24 startups do ramo prontas para seguir para esse próximo nível, segundo o estudo.

Evento

É em virtude deste movimento, localizado principalmente nas cidades de Lisboa e do Porto, que no mês de junho o "Experimenta Portugal" traz o empreendedorismo como tema principal.

O evento do consulado português em São Paulo, que tem uma série de palestras, painéis, atrações culturais e esportivas, trata esse ano da troca de experiências sobre formas de superar a crise econômica no ambiente empreendedor.

O ponto alto do evento acontece na última sexta-feira (10/06), um seminário de nome “Brasil/Portugal - A inovação e o empreendedorismo como ferramentas de transformação”, que contou com a presença do secretário da Indústria português João Vasconcelos, os empresários Abilio Diniz e Guilherme Afif Domingos, entre outros.

Matéria atualizada em 13/06/2016, às 11h.

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São Paulo - Foi depois de passar 10 meses no Himalaia que Ricardo Sécio voltou para Portugal e criou a startup Best Tables, de reserva e descontos em restaurantes. No início de 2016, a empresa foi comprada pela Trip Advisor e, além da mudança de nome para “The Fork”, dobrou seu número de funcionários.

A startup criada por Sécio faz parte de um crescimento expressivo do mercado de startups português. Segundo Paulo Lourenço, cônsul-geral do país em São Paulo, “Portugal tem chamado a atenção do mundo e, dessa vez, não é só por seu bom clima e boa comida”.

Já são ao menos 40 dessas empresas inovadoras que cresceram e atingiram o nível de scaleups no ramo de informação e tecnologia. Esse novo patamar de negócios é ocupado por startups que levantaram pelo menos 1 milhão de dólares desde a sua fundação, além de gerarem mais empregos que as demais.

O mais interessante, porém, é que esse crescimento se deu depois da crise que os portugueses enfrentaram em 2008.  Aliás, para Lourenço, esse movimento está intimamente ligado à recessão que o país viveu. “Quando os jovens de 20 anos começam a notar que, ao contrário das outras gerações, não teriam um emprego garantido ao terminar a faculdade, nasceu um espírito de urgência muito grande”, diz.

Na criação da Best Tables, as dificuldades financeiras do país também tiveram sua colaboração. Ao se aventurar na viagem ao Himalaia, Sécio precisou abandonar seu emprego e, quando retornou ao país, em 2010, percebeu que não seria fácil se recolocar no mercado de trabalho com o mesmo salário.

Aproximadamente um ano depois, juntamente com o sócio Sérgio Sequeira, ele lançaria o aplicativo que organiza reservas em restaurantes em tempo real.

A crise gera novas soluções

Para Paulo Lourenco, momentos de dificuldades nos obrigam a encontrar novas soluções para problemas antigos. A prova disso é que, com menos dinheiro disponível, as startups portuguesas passaram a buscar soluções de economia colaborativa.

Muitas delas, por exemplo, começaram a dividir espaços abandonados cedidos pelos municípios para reduzir custos. Os municicípios, por sua vez, desenvolveram formas de incentivar esse movimento sem injetar dinheiro, uma vez que os recursos simplesmente não existiam.

Além de ceder os galpões abandonados, as cidades passaram a simplificar a vida dos empreendedores, derrubando barreiras burocráticas. Outra iniciativa feita foi simplificar a maneira de pagar os impostos, ainda que eles continuassem altos pelo momento econômico que o país enfrentava.

Foco na internacionalização

Para o cônsul, o grande segredo do sucesso português é o olhar para o exterior. Afinal, com um mercado interno de 10 milhões de habitantes, é preciso estar atento às oportunidades fora do país.

Foi exatamente com essa lógica que a Best Tables atingiu seu sucesso. Em 2013, quando a startup ainda não havia atingido as expectativas de seus criadores, o alvo foi o Brasil. O investidor-anjo que proporcionou recursos para a internacionalização foi a Shilling Capital Partners, também de Portugal.

Ricardo mudou-se para São Paulo e aqui teve ainda a parceria com o iFood, outro aplicativo voltado para o setor de alimentação. Depois do sucesso na cidade, a fama da qualidade dos serviços chegou até a Trip Advisor.

A compra começou em abril de 2015, mas só foi finalizada em dezembro. Seus efeitos, porém, já são sentidos em 2016, ano em que as novas operações começaram de fato. Agora, em vez de 12 funcionários, 34 pessoas têm lugar na empresa.

Destaque no mundo

Um estudo da Startup Europe Partnership mostrou que a Best Tables faz parte de um movimento maior em Portugal e não é única que alcançou o sucesso. As 40 scaleups portuguesas encontradas no levantamento “Portugal Rising Mapping ICT Scaleups” já levantaram 166 milhões de dólares.

Outro dado importante é que 75% dessas empresas que atingiram patamar de escala nasceram depois de 2010. Além disso, há mais 24 startups do ramo prontas para seguir para esse próximo nível, segundo o estudo.

Evento

É em virtude deste movimento, localizado principalmente nas cidades de Lisboa e do Porto, que no mês de junho o "Experimenta Portugal" traz o empreendedorismo como tema principal.

O evento do consulado português em São Paulo, que tem uma série de palestras, painéis, atrações culturais e esportivas, trata esse ano da troca de experiências sobre formas de superar a crise econômica no ambiente empreendedor.

O ponto alto do evento acontece na última sexta-feira (10/06), um seminário de nome “Brasil/Portugal - A inovação e o empreendedorismo como ferramentas de transformação”, que contou com a presença do secretário da Indústria português João Vasconcelos, os empresários Abilio Diniz e Guilherme Afif Domingos, entre outros.

Matéria atualizada em 13/06/2016, às 11h.

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