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Startups pedem mais diversidade entre seus investidores

Parte da pressão para diversificar a indústria de capital de risco está vindo de dentro – em especial, de um pequeno grupo de mulheres que trabalham nela

Startups: fundadores e investidores em geral mantêm um equilíbrio de poder delicado (Christie Hemm Klok/The New York Times)

Startups: fundadores e investidores em geral mantêm um equilíbrio de poder delicado (Christie Hemm Klok/The New York Times)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2018 às 12h35.

Última atualização em 2 de abril de 2018 às 15h40.

San Francisco – Quando Trevor McFedries saiu no ano passado em busca de dinheiro para a Brud, sua startup de robótica e inteligência artificial, se viu em várias reuniões com “uma tonelada de homens brancos”, capitalistas de risco.

Então, McFedries, que é negro, e a co-fundadora, Sara DeCou, que é latina, acrescentaram uma condição para os investidores: o par aceitaria dinheiro apenas de empresas de risco que tivessem uma mulher ou uma pessoa de cor que pudessem assinar o cheque.

“Era contraintuitivo para nós levantar dinheiro de um grupo de caras brancos que querem extrair todo o valor do mundo”, conta McFedries, que no final conseguiu vários milhões de dólares de empresas que preencheram a condição. “Estamos interessados em reformular a aparência das firmas de tecnologia.”

McFedries é um dos mais de 400 empreendedores de tecnologia e executivos-chefes que agora se uniram em uma coalisão conhecida como Founders for Change, para pressionar as empresas de capital de risco a diversificar seus quadros.

O grupo inclui o executivo-chefe da Dropbox, Drew Houston; Logan Green e John Zimmer da Lyft; o executivo-chefe do Airbnb, Brian Chesky; e fundadores de empresas com ações na bolsa, como Katrina Lake, da Stitch Fix.

Em 20 de março, em um comunicado destacando a importância da diversidade na indústria de tecnologia, os executivos disseram que a composição racial e de gênero de uma empresa de capital de risco era uma “consideração importante” quando saíam em busca de dinheiro: “Eu acredito em uma indústria de tecnologia mais diversa e mais inclusiva. Estou dedicado a ter uma equipe e um conselho diversificados e quando tiver a opção de parceiros de investimento, a diversidade de suas empresas será uma consideração importante”, escreveram.

O comunicado público dos empreendedores não é comum. No ecossistema de startups do Vale do Silício, fundadores e investidores em geral mantêm um equilíbrio de poder delicado. Capitalistas de risco lutam para apostar nas startups mais quentes, focando nos grandes lucros que terão quando essas companhias abrirem o capital na bolsa ou forem vendidas.

Os empreendedores, por sua vez, recebem dinheiro e orientação dos investidores para ajudar suas startups a crescer e florescer.

No entanto, uma nova geração de empreendedores está pronta para bagunçar esse equilíbrio. Incentivados pelo movimento #MeToo e aborrecidos depois que vários escândalos no Vale do Silício no ano passado revelaram como investidores abusaram de seu poder com fundadoras de startup, esses empresários estão impacientes por mudanças na indústria.

“É muito claro que a indústria de risco não está onde deveria” em termos de diversidade, afirma Jack Conte, executivo chefe do Patreon, startup de San Francisco que administra uma plataforma de assinaturas para artistas, músicos e outros.

A declaração dos fundadores, que ele assinou, “é um sinal do mercado para os capitalistas de risco avisando que seus clientes se importam com a solução do problema”, diz ele.

A indústria de capital de risco nos Estados Unidos, que investiu US$84 bilhões em mais de oito mil companhias no ano passado, nunca enfrentou muita pressão para mudar seu público. Empresas de risco são normalmente pequenas companhias privadas feitas de antigos executivos de tecnologia ou tipos do mercado financeiro, normalmente brancos e homens.

E, como as empresas de risco operam em horizontes de longo prazo – seus fundos em geral investem em períodos de mais de dez anos –, o ritmo de mudança da indústria costuma ser glacial.

Em 2016, onze por cento dos sócios das firmas de capital de risco eram mulheres, segundo uma pesquisa da Associação Nacional do Capital de Risco e da Deloitte. A pesquisa não encontrou nenhum sócio negro nessas empresas, enquanto dois por cento eram latinos.

As firmas de capital de risco fizeram algumas tentativas de diversificar seus próprios quadros, assim como as empresas em quem eles investem. Recentemente, várias sociedades importantes no Vale do Silício contrataram parceiras de investimento.

Outras se comprometeram a fazer mais reuniões com empresárias. Para diminuir o assédio, em março, mais de 40 empresas de risco também divulgaram códigos de conduta.

“A mudança está chegando e vem crescendo, mas acho que é medida em anos e não em meses”, afirmou Greg Sands, capitalista de risco da Constanoa Ventures. A Costanoa tornou público seu código de conduta e recentemente organizou eventos “Seat at the Table” para conhecer mais empreendedoras.

Parte da pressão para diversificar a indústria de capital de risco está vindo de dentro – em especial, de um pequeno grupo de mulheres que trabalham nela. O movimento Founders for Change, por exemplo, começou com Aileen Lee, da Cowboy Ventures, e Jenny Lefcourt, da Freestyle Capital.

Durante um jantar em setembro as duas compartilharam histórias de diferentes empresários que estavam pedindo mais diversidade na tecnologia. Elas decidiram reunir esses fundadores para buscar mudanças publicamente.

“Os fundadores nos dizem: ‘Não posso acreditar na nossa indústria. É como ‘Mad Men'”, conta Lee.

Ela afirma que pode parecer egoísta para investidoras pressionarem os fundadores por mais diversidade. Mas, explica, não é um caso de “nós contra eles”.

Em vez disso, segundo Lefcourt, tem a ver com fazer todo mundo perceber que a diversidade pode ser uma vantagem competitiva.

Quanto impacto esses fundadores podem ter não está claro. Alguns dizem que precisam melhorar a diversidade em suas próprias startups. E, apesar de vários possuírem iniciativas de diversidade individuais que planejam compartilhar, houve pouca discussão sobre o que fazer depois da divulgação do comunicado.

Esses empreendedores também reconhecem que estavam em uma posição vantajosa porque os capitalistas de risco estavam competindo por suas empresas, e eles puderam escolher com quem queriam trabalhar. Outros empresários talvez não tenham essa facilidade.

Ainda assim, Sarah Nahm, executiva chefe da Lever, uma startup de software de recrutamento, diz que se unir ao Founders for Change e se posicionar com outros empresários para promover diversidade é importante.

Desde que ajudou a fundar a Lever em 2012, Nahm conseguiu US$73 milhões de capitalistas de risco para sua empresa de San Francisco. Nesses anos todos, diz ela, os investidores ligaram pouco para diversidade e inclusão – e inclusive chegaram a confundi-la com uma executiva assistente durante encontros de apresentação da empresa.

Em 2015, segundo Nahm, ela deliberadamente escolheu pegar um financiamento de uma mulher da Scale Venture Partners. “Boa parte do Vale do Silício está se diversificando, mas o capital de risco é a parte mais lenta da indústria de tecnologia para fazer mudanças”, afirma ela.

Agora, esse comunicado pode permitir que outros fundadores comecem mais cedo a discutir diversidade com os investidores, explica Nahm.

“A não ser que os investidores escutem os pedidos das empresas, eles não vão pensar que a mudança é importante. Queremos que as pessoas percebam que podem começar hoje”, afirma ela.

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