Conselho Federal de Psicologia determinou novas regras para atendimento online (Oscar Wong/Getty Images)
Letícia Naísa
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 18h33.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 11h15.
São Paulo — A partir de novembro passa a valer a resolução 11/2018 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que determina a regulamentação do atendimento psicológico online.
Com a nova resolução, psicólogos podem atender sem limite no número de sessões. Antes, uma regra de 2012 determinava que o atendimento podia ser feito em até 20 sessões para cada paciente. O atendimento pela internet começou a ser regulamentado em 2005.
Uma norma que se mantém é a proibição de atendimentos em situações de urgência, como em acidentes ou desastres, e situações de emergência, como de violência ou abuso.
Outra novidade é que a partir de agora, psicólogos terão que se cadastrar individualmente no site do CFP. Antes, plataformas de atendimento online tinham que fazer o cadastro e ser avaliadas pelo Conselho para poder funcionar. Já há 855 cadastros de plataformas e sites de profissionais.
As empresas que já atuavam no ramo estão vendo a nova resolução de forma positiva e acreditam que a procura pela terapia online deverá crescer.
Com 2.130 psicólogos cadastrados para atendimento online e presencial, a Vittude está no mercado de terapia online desde 2016. Segundo Tatiana Pimenta, fundadora da plataforma, o crescimento da startup tem sido de 30% ao mês. A startup recebeu investimento de aceleradoras, como a Startup Farm, e de outros investidores. No total, captou 660 mil reais no ano passado.
“Nascemos com a proposta de conectar pessoas que tinham interesse em fazer terapia a psicólogos com agenda disponível”, diz Tatiana. Hoje a plataforma tem 4.375 pacientes cadastrados. A média do preço das consultas online é de 70 reais. Cada profissional define o preço de sua hora na plataforma.
Já a plataforma Zenklub, no mercado desde 2016, já realizou 25 mil atendimentos por videoconsulta. A expectativa é que até o fim do ano haja um crescimento de 450% no número de clientes com relação a 2017.
Rui Brandão, médico e co-fundador da Zenklub, afirma que uma das vantagens do atendimento via plataforma é a comodidade. “O paciente está num ambiente que é dele”, diz. “Na plataforma, você vê um vídeo de apresentação do profissional, o currículo, tem uma transparência com o paciente e também resolve a falta de tempo e o problema de deslocamento.”
Para ele, outra vantagem da terapia online é que ajuda a quebrar o estigma em torno da busca por ajuda psicológica.
A norma do CFP não determina que tipo de plataforma o psicólogo que deseja atender pacientes pela internet pode utilizar. Para Tatiana, é importante pensar na segurança da plataforma na hora do atendimento.
“Mensagens trocadas em WhatsApp ficam armazenadas em backup e caso alguém perca o celular, informações de sigilo podem vazar”, diz.” O termo de uso do Skype por exemplo, fala que ele pode gravar a chamada para fim de auditoria. É uma ferramenta que não foi feita pra área de saúde.”
Segundo a fundadora da Vittude, sua plataforma garante a segurança do usuário e apaga os registros da consulta após o término da mesma.
Milene Rosenthal, psicóloga e co-fundadora da plataforma TelaVita, diz que há previsão de que, no futuro, a maior parte dos atendimentos psicológicos seja feita por meio da internet. “No online, as barreiras são retiradas. Muitas pessoas que também não poderiam ser atendidas porque estão acamadas ou porque não encontram psicólogos em suas cidades conseguem atendimento”, afirma. “A acessibilidade é fantástica.”
Fundada em 2016, a TelaVita começou com um investimento de 1 milhão de dólares. A startup tem hoje 105 profissionais cadastrados.
Além de crescimento da procura, Milene acredita que a nova resolução possibilitará aos profissionais divulgar mais o trabalho do psicólogo na internet. “Enxergo uma oportunidade de empoderar o trabalho do psicólogo, explicar como funciona a nossa prática”, afirma. “É mais uma forma de chegar nas pessoas e tornar a comunicação acessível.”
A eficácia do tratamento pela internet também tem respaldo científico. Segundo a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, em alguns casos, a terapia online funciona até melhor do que a terapia no consultório.
“Quanto mais nova a pessoa, mais fácil é dela tirar proveito dessa terapia, isso considerando que crianças a gente não aconselha esse tipo de terapia”, afirma a psicóloga. O Núcleo não faz atendimentos para crianças menores de 12 anos.
Para o psicólogo Fabrício Júnior Rocha Ribeiro, professor do Centro Universitário Newton Paiva, a eficácia do tratamento depende da relação entre o paciente e o psicólogo.
A grande preocupação dos profissionais é que o atendimento online se torne uma espécie de “Uber” da psicologia.
“Isso pode acontecer, esse é o efeito dos dispositivos contemporâneos sobre certos serviços, eles viram um objeto a ser consumido”, afirma Ribeiro. “Para evitar que isso aconteça, é preciso produzir conhecimento em torno dessa nova construção”, diz.
Para a psicóloga Andrea Jotta, as faculdades terão que preparar as novas gerações de psicólogos para aprender a fazer o atendimento online. “A partir do momento que é permitida essa atuação da categoria, tem que formar os profissionais para atuar de forma eficaz e produtiva.”