Andre Penha e Gabriel Braga, fundadores do QuintoAndar: empresa teve rodada série E de US$ 120 milhões em agosto (Germano Lüders/Exame)
As startups brasileiras seguem acumulando bons resultados quando o assunto é investimento de risco, o chamado venture capital. Durante o mês de agosto, essas empresas captaram 772 milhões de dólares em investimentos, um volume três vezes maior do que no mesmo período do ano passado, quando captaram 191 milhões de dólares. Os dados são do mais recente relatório Inside Venture Capital, do hub de inovação aberta Distrito.
O valor total foi diluído em 56 rodadas de captação ao longo do mês de agosto. No consolidado do ano, o total recebido por startups brasileiras já ultrapassa os 6,6 bilhões de dólares, em 457 rodadas nos últimos oito meses. Mesmo com quatro meses ainda pela frente, o valor investido até aqui já supera o volume acumulado de todo o ano de 2020 em mais de 85%. Quando considerado os oito meses como um todo, o volume é 346% superior a 2020.
Os recursos recebidos em agosto apontam para uma recuperação do ecossistema como um todo. No ano passado, as startups brasileiras receberam 484 milhões de dólares em investimentos, uma queda frente ao volume que havia sido recebido em junho. Agora, o cenário trouxe não somente um volume alto de recursos como também a volta das megarodadas.
Segundo Gustavo Geriun, cofundador do Distrito, há uma tendência crescente no mercado por rodadas mais maduras, em sua maioria de série C, D e E. Essas rodadas, que costumam contar com cheques mais “gordos”, são chamadas de “megarodadas”, com valores superiores a 100 milhões de dólares. “É um movimento natural quando vemos que nosso mercado tem amadurecido gradualmente”, disse, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 1º.
O relatório destacou a extensão da rodada série E da startup QuintoAndar. A rodada foi liderada pelos fundos Greenoaks Capital e Tencent, e teve valor de 120 milhões de dólares. Também foram mencionadas as rodas da série C da Omie (110 milhões de dólares), Unico (120 milhões de dólares) e Petlove (145 milhões de dólares).
O aporte de 500 milhões de dólares recebido pela Nuvemshop e que as tornou no mais novo unicórnio da América Latina, contudo, não foi considerado – por não se tratar de uma empresa brasileira. A rodada de 1 bilhão na Movile também foi deixada de lado na análise do hub.
Dos quatro maiores deals, o SoftBank participou de três. A entrada de fundos latinos é um marco e simboliza uma evolução do ecossistema e das próprias empresas, segundo Geriun. “O mercado brasileiro tem sido muito atraído pelos investidores estrangeiros, o que fortalece muito o sistema como um todo”, diz.
Por mais um mês, as fintechs continuam à frente de outros setores – em número de rodadas e total investido. Foram 178 milhões de dólares em investimentos, em 12 rodadas de captação. Em segundo lugar está o setor de varejo, com as retailtechs, que captaram 145 milhões de dólares, divididos em oito deals.
Em seguida estão as healthtechs e startups de real estate, empatadas no número de rodadas. As imobiliárias, porém, captaram 140 milhões de dólares em agosto, enquanto as startups de saúde receberam 6 milhões.
Em quinto lugar entre os setores com maior destaque estão as edtechs. Apesar de terem captado apenas 8 milhões de dólares no último mês, essas startups são as que apresentam o maior crescimento contínuo em 2021, segundo o relatório. Prova disso é que, na análise dos setores com maior investimento entre janeiro e agosto, as edtechs estão em terceiro lugar, com 294 milhões de dólares.
Durante o mês de agosto, foram feitas 26 novas operações de fusões e aquisições (M&A), oito a mais do que em julho. O volume de operações concluídas nos primeiros oito meses do ano é também 85% superior ao mesmo período do ano passado.
Aquecido, o mercado de fusões e aquisições segue o ritmo dos fundos de risco. Segundo o Distrito, o total de M&As de 2021 deve chegar a 250. Para isso, faltam apenas 96 operações.
Para chegar a essa projeção, o hub considera métricas como a média dos últimos aportes, faturamento estimado das empresas, suas taxas de crescimento, maturidade, entre outros indicadores. “As grandes razões para essa maturidade do mercado de M&A está no processo de transformação digital nas grandes empresas e na liquidez das big techs no Brasil”, disse Geriun, durante a divulgação dos dados de julho.