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Sem currículos e com salário de R$ 7 mil: Natura recruta empreendedores

Empresa de beleza e cosméticos se uniu à aceleradora ACE para recrutar inovadores que mostrem novos caminhos ao negócio

Sede da Natura, em São Paulo: 20 selecionados terão um contrato de 20 meses com a empresa de beleza e cosméticos (Natura/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 18 de setembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 25 de setembro de 2018 às 22h51.

São Paulo - Não é preciso ser jovem, nem ter cumprido o ensino superior e muito menos mandar o currículo. Em troca, um salário de sete mil reais e todos os benefícios possíveis. Esse programa de trainee com requisitos às avessas é o novo processo seletivo da Natura , que procura empreendedores para compor sua nova equipe de inovação . O objetivo? Apontar caminhos de crescimento nunca antes pensados - o que pode incluir criar negócios totalmente distintos da mãe que os abrigou.

O programa, chamado corageN, tem como única exigência os candidatos serem maiores de idade. Os 20 selecionados terão um contrato de 20 meses com a empresa de beleza e cosméticos e serão divididos em quatro grupos com cinco integrantes cada para tocar projetos desvinculados à equipe de pesquisa e desenvolvimento já existente.

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Além de membros de P&D, a Natura também possui o processo tradicional de trainee, que costuma privilegiar pessoas recém-formadas, com currículos cheios de referências acadêmicas e profissionais e que buscam uma carreira corporativa. Mesmo com toda essa estrutura, priorizou ter maiores alternativas de classe social, formação, gênero e idade na hora de formar uma equipe que apontasse novos caminhos.

“Foi uma resposta à demanda de criar caminhos transformadores de maneira ágil, em um mundo cada vez mais competitivo diante do surgimento das startups, mas mantendo o centro do nosso negócio completamente operativo”, afirma Flavio Pesiguelo, vice-presidente de pessoas e cultura da Natura.

O programa é feito em parceria com a ACE, aceleradora que já trabalhou em programas de inovação corporativa com empresas como BTG Pactual, Braskem e GOL.

Etapas de seleção

As inscrições devem ser feitas até o dia 30 de setembro. A primeira etapa de seleção é um teste online para avaliar a proximidade do candidato com a cultura da Natura e com a cultura empreendedora. Alguns valores, explica Pesiguelo, são a vontade gerar impacto na sociedade, a sustentabilidade e a paixão pela cosmética e pelas pessoas. Para a avaliação, a ACE viabilizou a criação do algoritmo através de uma das startups de sua rede.

Depois dos testes online, 125 selecionados farão dinâmicas presenciais entre 15 e 23 de outubro, em Belém (PA) ou São Paulo (SP). Nesse bootcamp de um dia, os empreendedores terão de criar uma startup do zero: terão palestras de manhã; validarão ideias na rua; pensarão no projeto de tarde; e farão seu pitch no final do dia, para uma banca composta por um executivo da Natura, um criador de startup e um representante da ACE.

Entre 25 e 29 de outubro, será a vez das entrevistas individuais. A divulgação dos 20 selecionados será em 31 de outubro. O programa começa no dia.

Os primeiros três meses de programa serão dedicados à imersão dos empreendedores na cultura da Natura. Depois, eles são divididos entre quatro grupos para executar projetos. Todos receberão mentorias internas (de funcionários da Natura) e externas (de especialistas do mercado e da aceleradora ACE, que possui cerca de 200 mentores associados) e workshops sobre gestão e marketing, por exemplo.

Ao final dos 20 meses, os empreendedores terão três caminhos: seguir na Natura liderando projetos internos, como executivo; criar a própria empresa a partir do projeto e se tornar um fornecedor ou parceiro da Natura; ou, por fim, seguir a própria vida e se dedicar a iniciativas descoladas do programa.

Imersão na Natura, trazendo esse olhar empreendedor de fora, procurando problemas e oportunidades. Imersão com métodos de startups, que nós faremos, como divisão por squads. Janeiro, começam de fato a trabalhar em equipe em projetos e soluções. Pode virar uma nova empresa, uma nova área ou nada. O selecionado pode virar um empreendedor/sócio, funcionário ou segue sua vida.

O salário é de 7 mil reais brutos por empreendedor e a jornada de trabalho é flexível. O pacote de benefícios prevê benefícios como assistência médica e odontológica, restaurante e estacionamento no local, transporte fretado/vale transporte, berçário, auxílio creche, espaço de bem-estar, convênio farmácia, seguro de vida e assistência funeral. Veja mais detalhes do corageN pelo site da iniciativa.

Criação do corageN

A Natura já possui uma área de pesquisa e desenvolvimento, que trabalha em melhorias incrementais para a companhia. Pesiguelo conta que o corageN foi elaborado há três meses como uma forma de repensar os processos de inovações maiores dentro da Natura, que poderiam gerar alternativas de crescimento para a empresa e até novos empreendimentos.

Mas, ao mesmo tempo, é preciso manter o que dá dinheiro à empresa de beleza e cosméticos funcionando. “Se a gente não criasse uma estrutura completamente separada, ficaria difícil”, afirma o vice-presidente.

De acordo com o estudo “Corporate Venture: Desafios e Oportunidades no Brasil”, lançado ontem (16) pela Endeavor Brasil, apenas 9% das grandes empresas colaboram com as startups por meio de venture builders (estruturas para desenvolvimento de novos negócios). A maioria o faz por meio aceleração ou incubação (46%), uma iniciativa que a Natura também possui.

Nos três meses de elaboração do programa, foram reuniões quase diárias para definir como seria o CorageN, afirma Luis Gustavo Lima, Chief Startup Officer da ACE. “Empresas gigantes como Apple e Google não exigem mais faculdade. Nesse sentido, a Natura se coloca realmente como uma empresa vanguardista por aqui.”

O site de empregos Glassdoor listou 15 companhias lá fora que já não barram candidatos que não possuem diploma de ensino superior. A decisão reflete a opção de muitos americanos por desistirem da universidade, diante de mensalidades proibitivas e a ascensão de cursos mais curtos, com práticas voltadas ao mercado (como programação e línguas aprendidas de forma quase autodidata).

Se a decisão irá funcionar para a Natura, só saberemos daqui 20 meses.

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