"Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa", afirma CEO do Neon
Pedro Conrade tem agora um grande pepino nas mãos - e uma corrida contra o tempo para reconquistar seus clientes
Mariana Fonseca
Publicado em 4 de maio de 2018 às 18h50.
São Paulo - Esta sexta-feira não está nada fácil para um expoente das fintechs brasileiras. A Neon Pagamentos acordou com a liquidação extrajudicial da instituição financeira que estava por trás de suas operações financeiras, fatidicamente também chamada de (Banco) Neon.
É uma divisão que escancara um lado pouco conhecido do mercado de bancos digitais no Brasil: por trás de todo o discurso de modernidade, as fintechs muitas vezes precisam se pendurar em instituições pra lá de tradicionais.
Com isso, por enquantoo dinheiro dos usuários do Neon só pode ser retirado por meio de saques em agências físicas e operações com cartões de débito. A Neon Pagamentos terá de se virar para operacionalizar a transferência do total de valores contidos nas contas digitais em 7 a 10 dias, de acordo com determinações do Banco Central .
Pedro Conrade, CEO do Neon, tem agora um grande pepino nas mãos e uma corrida contra o tempo para reconquistar seus clientes. “De forma alguma nós e os fundos desconsideraram algo sério - nós apenas não sabíamos. Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa”, afirmou o empreendedor a EXAME. "Fomos vítimas de um parceiro de que precisávamos e que, infelizmente, tinha um problema."
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Como foi exatamente o processo de associação da sua startup, a Neon Pagamentos, ao Banco Pottencial?
Nascemos em 2016, com a marca Neon Pagamentos S.A. Na época, achamos que fazer uma parceria com um banco seria o caminho para oferecer uma melhor solução aos nossos clientes. Conversamos com diversos bancos, e foi do Pottencial que conseguimos o apoio mais rápido e fácil.
O que nos interessava era se o banco poderia operar normalmente ou não. Quando fechamos essa parceria comercial, emprestamos a marca para eles enquanto tivéssemos o acordo. O intuito era diminuir a confusão com o cliente: seria estranho ele transferir seus recursos para “um tal de Banco Pottencial”.
Mas, hoje, o Banco Central emitiu uma nota que o Banco Neon foi liquidado. Os consumidores não entendem que temos uma outra empresa, chamada Neon Pagamentos S.A., onde está todo o sistema e a tecnologia. O Banco Neon fazia apenas a custódia e transferência dos valores.
A gente não sabe até agora o que causou essa intervenção. Foi uma surpresa total para a gente. Temos controladores totalmente diferentes e não temos participação no Banco Neon. Fomos vítimas de um parceiro de que precisávamos e que, infelizmente, tinha um problema.
Mesmo assim, alguns diretores do Banco Neon investiram na Neon Pagamentos S.A. como pessoa física. Como fica essa relação?
Creio que não afetará, pois é uma parcela super minoritária. Com o desenrolar dos dias, a ideia é que a gente resolva esse problema no nosso quadro societário.
Vocês tentarão negociar a saída desses sócios?
Isso.
Vocês acham que a associação dos nomes [Neon Pagamentos S.A. e Banco Neon] foi um erro da parte da fintech?
Não seria um erro se o banco não tivesse problemas - seria um grande acerto. Mas, diante do que ocorreu hoje, sim, tivemos um erro. O que nos ferrou foi o nome.
Mesmo assim, não acho que seja contraindicado uma fintech se associar a um banco. Problemas podem acontecer com qualquer instituição financeira, digital ou não. Por isso, estamos super focados em trazer um outro parceiro imediatamente. Depois, avaliaremos se vale a pena fazermos parcerias com outros e diluir riscos.
É uma fase difícil, com um problema que gostaríamos não ter de enfrentar, mas vamos passar por isso com nosso time e nossos investidores - e voltar mais forte ainda ao mercado.
Qual será a estratégia de gerenciamento de crise de vocês? Como vocês querem mostrar solidez aos clientes?
Gostaria de ressaltar que abrimos para os nossos clientes “contas de pagamento”, o que é diferente de uma conta corrente comum. O Banco Neon não pode utilizar tais recursos, ele fica segregado no balanço financeira da empresa - e, inclusive, segregado da massa falida. O dinheiro dos clientes continua.
Eu sou super novo, tenho 26 anos de idade. Mas sei que, nessas horas, você precisa ser 100% claro e estar presente para responder as dúvidas, e é isso que estamos fazendo. Não fizemos nada de errado, então não temos porque fugir.
Desde o começo ponho minha cara a tapa, saio nos vídeos, não me escondo de entrevistas. Somos transparentes e continuaremos cuidando dos clientes. Foi um problema com um parceiro e já estamos conversando com outros players para operar da forma que operávamos.
A Neon Pagamentos S.A. anunciou ontem um investimento de 72 milhões de reais. Na análise para o investimento, a situação do Banco Neon não entrou em pauta?
Fizemos um processo de auditoria e havia um balanço empresarial típico de banco pequeno, mas nada que pudesse destacar uma possível intervenção do Banco Central. De forma alguma nós e os fundos desconsideraram algo sério - nós apenas não sabíamos. Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa. Prejudicou muito nossa operação.
Quando o site e o aplicativo do Neon voltarão a funcionar?
A gente teve de tirar do ar, por determinação do Banco Central, mas desde cedo os times estão trabalhando para que eles voltem. A gente não vai parar enquanto isso não sair. Espero que aconteça em poucos dias. Assim como um novo banco liquidante.