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"Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa", afirma CEO do Neon

Pedro Conrade tem agora um grande pepino nas mãos - e uma corrida contra o tempo para reconquistar seus clientes

Pedro Conrade, do Neon: o negócio nasceu há apenas dois anos. Aos 26 anos de idade, Conrade precisa resolver um grande pepino (Leandro Fonseca/Exame)

Mariana Fonseca

Publicado em 4 de maio de 2018 às 18h50.

São Paulo - Esta sexta-feira não está nada fácil para um expoente das fintechs brasileiras. A Neon Pagamentos acordou com a liquidação extrajudicial da instituição financeira que estava por trás de suas operações financeiras, fatidicamente também chamada de (Banco) Neon.

É uma divisão que escancara um lado pouco conhecido do mercado de bancos digitais no Brasil: por trás de todo o discurso de modernidade, as fintechs muitas vezes precisam se pendurar em instituições pra lá de tradicionais.

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Com isso, por enquantoo dinheiro dos usuários do Neon só pode ser retirado por meio de saques em agências físicas e operações com cartões de débito. A Neon Pagamentos terá de se virar para operacionalizar a transferência do total de valores contidos nas contas digitais em 7 a 10 dias, de acordo com determinações do Banco Central .

Pedro Conrade, CEO do Neon, tem agora um grande pepino nas mãos e uma corrida contra o tempo para reconquistar seus clientes. “De forma alguma nós e os fundos desconsideraram algo sério - nós apenas não sabíamos. Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa”, afirmou o empreendedor a EXAME. "Fomos vítimas de um parceiro de que precisávamos e que, infelizmente, tinha um problema."

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como foi exatamente o processo de associação da sua startup, a Neon Pagamentos, ao Banco Pottencial?

Nascemos em 2016, com a marca Neon Pagamentos S.A. Na época, achamos que fazer uma parceria com um banco seria o caminho para oferecer uma melhor solução aos nossos clientes. Conversamos com diversos bancos, e foi do Pottencial que conseguimos o apoio mais rápido e fácil.

O que nos interessava era se o banco poderia operar normalmente ou não. Quando fechamos essa parceria comercial, emprestamos a marca para eles enquanto tivéssemos o acordo. O intuito era diminuir a confusão com o cliente: seria estranho ele transferir seus recursos para “um tal de Banco Pottencial”.

Mas, hoje, o Banco Central emitiu uma nota que o Banco Neon foi liquidado. Os consumidores não entendem que temos uma outra empresa, chamada Neon Pagamentos S.A., onde está todo o sistema e a tecnologia. O Banco Neon fazia apenas a custódia e transferência dos valores.

A gente não sabe até agora o que causou essa intervenção. Foi uma surpresa total para a gente. Temos controladores totalmente diferentes e não temos participação no Banco Neon. Fomos vítimas de um parceiro de que precisávamos e que, infelizmente, tinha um problema.

Mesmo assim, alguns diretores do Banco Neon investiram na Neon Pagamentos S.A. como pessoa física. Como fica essa relação?

Creio que não afetará, pois é uma parcela super minoritária. Com o desenrolar dos dias, a ideia é que a gente resolva esse problema no nosso quadro societário.

Vocês tentarão negociar a saída desses sócios?

Isso.

Vocês acham que a associação dos nomes [Neon Pagamentos S.A. e Banco Neon] foi um erro da parte da fintech?

Não seria um erro se o banco não tivesse problemas - seria um grande acerto. Mas, diante do que ocorreu hoje, sim, tivemos um erro. O que nos ferrou foi o nome.

Mesmo assim, não acho que seja contraindicado uma fintech se associar a um banco. Problemas podem acontecer com qualquer instituição financeira, digital ou não. Por isso, estamos super focados em trazer um outro parceiro imediatamente. Depois, avaliaremos se vale a pena fazermos parcerias com outros e diluir riscos.

É uma fase difícil, com um problema que gostaríamos não ter de enfrentar, mas vamos passar por isso com nosso time e nossos investidores - e voltar mais forte ainda ao mercado.

Qual será a estratégia de gerenciamento de crise de vocês? Como vocês querem mostrar solidez aos clientes?

Gostaria de ressaltar que abrimos para os nossos clientes “contas de pagamento”, o que é diferente de uma conta corrente comum. O Banco Neon não pode utilizar tais recursos, ele fica segregado no balanço financeira da empresa - e, inclusive, segregado da massa falida. O dinheiro dos clientes continua.

Eu sou super novo, tenho 26 anos de idade. Mas sei que, nessas horas, você precisa ser 100% claro e estar presente para responder as dúvidas, e é isso que estamos fazendo. Não fizemos nada de errado, então não temos porque fugir.

Desde o começo ponho minha cara a tapa, saio nos vídeos, não me escondo de entrevistas. Somos transparentes e continuaremos cuidando dos clientes. Foi um problema com um parceiro e já estamos conversando com outros players para operar da forma que operávamos.

A Neon Pagamentos S.A. anunciou ontem um investimento de 72 milhões de reais. Na análise para o investimento, a situação do Banco Neon não entrou em pauta?

Fizemos um processo de auditoria e havia um balanço empresarial típico de banco pequeno, mas nada que pudesse destacar uma possível intervenção do Banco Central. De forma alguma nós e os fundos desconsideraram algo sério - nós apenas não sabíamos. Se soubesse, eu jamais teria ficado nessa. Prejudicou muito nossa operação.

Quando o site e o aplicativo do Neon voltarão a funcionar?

A gente teve de tirar do ar, por determinação do Banco Central, mas desde cedo os times estão trabalhando para que eles voltem. A gente não vai parar enquanto isso não sair. Espero que aconteça em poucos dias. Assim como um novo banco liquidante.

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