Mercado de saúde vai bem, obrigado, para empreendedores
Com mais de 70 bilhões de dólares em receitas, o mercado de saúde não para de crescer — e de gerar oportunidades para as pequenas e médias empresas brasileiras
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2011 às 08h00.
Nas últimas três décadas, a expectativa de vida média do brasileiro passou de 62,5 para 73 anos. Esse mesmo cidadão que tende a viver mais agora vê aumentar suas chances de viver melhor.
Há muito mais renda disponível para ser investida numa existência de maior qualidade. Desde 2005, 45 milhões de brasileiros galgaram o que hoje chamamos de nova classe média, um contingente da população com renda familiar superior a 1 600 reais.
São pessoas que mudam seus hábitos alimentares, compram a casa própria, viajam de avião, estudam mais e — claro — procuram cuidar melhor da própria saúde num país onde o sistema público é inepto para atender às demandas.
Para o setor de saúde, com um faturamento anual de cerca de 70 bilhões de dólares, as perspectivas parecem só apontar para cima nos próximos anos. Ao longo da última década, os negócios cresceram mais de 10% a cada ano, de acordo com as estimativas da Organização Mundial da Saúde.
“A expansão vem abrindo inúmeras oportunidades para os empreendedores que atuam nessa cadeia”, afirma Herbert Gonçalves, sócio da consultoria Primeira Consulta, especializada no setor de saúde. “O Brasil já é o sexto maior mercado do mundo para medicamentos e serviços médicos.”
A trajetória do empreendedor Josimar Henrique da Silva, de 60 anos, é um exemplo das transformações que ocorreram nesse mercado nas últimas décadas. Durante sua infância em Caruaru, município da Zona da Mata pernambucana, ele raramente era levado ao médico ou à farmácia.
A principal fonte de remédios ficava no quintal de casa, algo muito comum para os brasileiros de sua geração. “Se alguém da família ficasse doente, minha mãe tratava com chás e banhos de ervas”, diz Silva. Atualmente, ele é dono do laboratório Hebron, que produz medicamentos com substâncias terapêuticas encontradas em plantas medicinais, como as que sua mãe receitava.
“Tomei muito chá de aroeira e banho de cardamomo quando era criança”, diz Silva. “Hoje, uso derivados dessas plantas em vários dos meus produtos.”
Remédios para problemas corriqueiros, como distúrbios digestivos e pequenas infecções — que podem ser vendidos sem receita médica e têm grande apelo entre os consumidores de menor renda —, é o principal negócio do laboratório Hebron. Boa parte de suas receitas vem das farmácias do Nordeste do país.
No ano passado, o faturamento do Hebron aumentou 25%, chegando a 120 milhões de reais. Silva fundou a empresa no começo da década de 90, ao deixar um emprego como executivo do Aché, uma das principais indústrias farmacêuticas do país.
Na época, ele vislumbrou a oportunidade de crescer num pedaço do mercado em que, naquele momento, a maioria dos fabricantes de medicamentos não estava prestando atenção. “Percebi que havia espaço no mercado para um laboratório que atendesse as camadas mais baixas da população”, diz ele. “O tempo mostrou que eu estava certo.”
Por trás do desempenho de empresas como o Hebron está o fenômeno mais básico de um mercado emergente — quando a renda da população cresce e gente que antes consumia pouco ou quase nada começa a gastar mais, é natural que os negócios andem bem. Um exemplo claro é o das vendas de medicamentos, que nos últimos quatro anos aumentaram 45%.
No Brasil de hoje, no entanto, essa não é a única força a impulsionar a expansão dos negócios na área de saúde. Características típicas de países desenvolvidos também estão sustentando o crescimento de pequenas e médias empresas inseridas na cadeia dos negócios em saúde. É o caso, por exemplo, do progressivo envelhecimento da população.
Segundo estimativas do IBGE, o número de brasileiros com mais de 65 anos de idade — justamente a parcela da população que mais consome remédios e necessita de serviços constantes de saúde — deve aumentar aproximadamente 8% até 2015.
A demanda desse público — e suas peculiaridades — tem elevado significativamente os custos do setor, fenômeno já observado na Europa e nos Estados Unidos.
De acordo com os indicadores do Instituto de Estudos em Saúde Suplementar, a inflação médica — que mede a variação nos preços que os hospitais cobram dos planos de saúde para atender seus usuários — tem ficado sistematicamente acima da inflação oficial, medida pelo IPCA.
Combater o avanço dos custos médicos é o trabalho dos empreendedores Marcelo Noronha, de 45 anos, Marcello Reicher, de 44, e Eliseu Rasera, de 43. Em 2009, os três decidiram juntar suas experiências como funcionários de hospitais e operadoras de planos de saúde para fundar a paulistana HQI, que ajuda grandes empresas a reduzir seus custos com os planos de saúde dos funcionários.
“Um dos principais reflexos da inflação médica é o reajuste nos planos de saúde pagos pelas empresas”, afirma Reicher. “E nenhuma empresa pode ficar parada, simplesmente olhando seus custos aumentarem.”
No ano passado, as receitas da HQI alcançaram 3 milhões de reais. Reicher e seus sócios têm conseguido diminuir em até 30% as despesas de clientes com os planos médicos dos funcionários. Para isso, eles ajudam seus clientes a traçar um perfil dos funcionários e a avaliar quais são os riscos de saúde a que estão mais expostos.
“Checamos até mesmo se as pessoas estão com seus exames em dia”, afirma Reicher. O levantamento serve de base para a HQI criar um programa de prevenção de doenças, monitorado por uma equipe composta de médicos, nutricionistas e fisioterapeutas. “O primeiro objetivo do estudo é evitar que os funcionários precisem utilizar o plano de saúde”, afirma Reicher.
A outra etapa do trabalho da HQI começa quando os funcionários dos clientes acabam precisando recorrer ao plano de saúde. “Nesses casos, nossa tarefa é negociar diretamente com as operadoras para tentar uma redução na conta do hospital”, afirma Reicher. “Às vezes, podemos auxiliar o funcionário a escolher o hospital que cobre menos por uma cirurgia, por exemplo.”
Nos últimos tempos, Rasera, Noronha e Recher, da HQI, passaram a ser procurados pelos próprios hospitais, em busca de custos menores e eficiência maior. “Conseguir diminuir os custos sem deixar de oferecer um bom atendimento aos pacientes é uma preocupação que está no topo da agenda de qualquer administrador de hospital”, diz Henrique Salvador, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados.
A resposta pode estar na busca por escala. Durante anos, empresas da área de saúde — e sobretudo hospitais — pareciam acreditar que, para prestar um bom atendimento, teriam de ter toda a tecnologia dentro de casa. O resultado era ineficiência e ociosidade.
A correção dessa distorção dá margem ao crescimento de negócios como o laboratório Diagnóstika, de São Paulo, criado pelo médico Filadelfio Venco, de 56 anos. Com clientes como os hospitais paulistanos Nove de Julho e Sírio-Libanês, o Diagnóstika especializou-se em citopatologia cirúrgica — exames feitos em tecidos retirados dos pacientes, como as biópsias, por exemplo.
“Manter a estrutura de um laboratório como o nosso costuma sair muito caro para um hospital”, afirma Venco. “Os equipamentos são caros e o volume de exames é relativamente pequeno mesmo em locais em que existem grandes centros cirúrgicos.” Ao concentrar as análises para vários clientes, o Diagnóstika consegue obter ganhos de escala capazes de manter os custos baixos.
No ano passado, o faturamento do laboratório foi de 14 milhões de reais, 20% mais do que o registrado em 2009. “Realizamos mais de 220 000 exames em 2010”, afirma Venco. “Com esse volume, foi possível negociar preços melhores com os nossos fornecedores e conseguimos pagar menos pelos exames.”
O mercado aberto pela busca da eficiência nos serviços de saúde fez com que os químicos Mário de Oliveira Júnior, de 46 anos, e João Bosco Peschero, de 48, mudassem o foco dos negócios da Helixxa, empresa especializada em exames de DNA, localizada em Campinas, no interior paulista.
Os dois fundaram a empresa em 2009 — quando planejavam ganhar dinheiro fazendo os exames genéticos que pecuaristas do interior paulista utilizam para avaliar a qualidade dos rebanhos.
Meses atrás, Peschero e Oliveira perceberam que havia uma demanda crescente por testes realizados em humanos, usados para avaliar se um paciente carrega genes que o tornam mais propenso a sofrer de determinadas doenças, como câncer de mama e fibrose cística, ambas de origem genética.
“Em vez de fazendas de gado, nossa clientela passou a ser formada por hospitais e laboratórios de análises clínicas que preferem terceirizar esse tipo de serviço”, afirma Peschero.
Recentemente, médicos passaram a encaminhar seus pacientes para a Helixxa com pedidos de testes de DNA que indicam como o organismo de pacientes com câncer reage a determinada medicação — o que permite chegar à dose ideal para cada doente.
Peschero e Oliveira devem criar, ainda em 2011, pacotes de testes genéticos padronizados, que serão oferecidos às redes de saúde pública e privada. Os donos da Helixxa acreditam ainda que existe um grande mercado a explorar ao fornecer seus serviços à indústria farmacêutica, na etapa de pesquisa de novos medicamentos.
No ano passado, a empresa fechou contrato com um grande laboratório, o Cristália, para pesquisar o DNA de fungos e leveduras, um negócio que já representa cerca de 10% de seu faturamento. “O consumo de medicamentos deve continuar crescendo no Brasil nos próximos anos”, afirma Antônio Brito, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. “Muitas pequenas e médias empresas que fornecem para os grandes laboratórios certamente ganharão com isso.”
Os empresários José Maciel Rodrigues Júnior, de 44 anos, e Karla de Melo Lima, de 37, trabalham hoje para que a Nanocore esteja entre essas empresas que vão lucrar com a expansão do setor. A Nanocore foi criada em 2003 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Passou três anos numa incubadora de negócios emergentes da Universidade de São Paulo e, em 2006, foi transferida para Campinas, um dos maiores polos de inovação tecnológica do Brasil. Atualmente, um de seus principais negócios é realizar testes de laboratório para avaliar o desempenho e os efeitos farmacológicos dos remédios produzidos por grandes indústrias farmacêuticas.
Nos últimos anos, porém, uma nova frente de negócios vem sendo aberta pela Nanocore. Rodrigues e Karla estão investindo no desenvolvimento de uma tecnologia para a produção de princípios ativos que esses mesmos clientes utilizam na fabricação de seus medicamentos.
A técnica utiliza bactérias geneticamente modificadas para multiplicar em laboratório substâncias que possuem propriedades terapêuticas. A expectativa dos empreendedores é que, com os novos produtos, a Nanocore alcance um faturamento de 8,5 milhões de reais neste ano, quase o dobro das receitas obtidas em 2010.
“Na prática, vamos ser uma espécie de fábrica de moléculas para nossos clientes”, afirma Rodrigues. É uma nova fronteira num mercado que, a cada dia, parece ficar maior.
Nas últimas três décadas, a expectativa de vida média do brasileiro passou de 62,5 para 73 anos. Esse mesmo cidadão que tende a viver mais agora vê aumentar suas chances de viver melhor.
Há muito mais renda disponível para ser investida numa existência de maior qualidade. Desde 2005, 45 milhões de brasileiros galgaram o que hoje chamamos de nova classe média, um contingente da população com renda familiar superior a 1 600 reais.
São pessoas que mudam seus hábitos alimentares, compram a casa própria, viajam de avião, estudam mais e — claro — procuram cuidar melhor da própria saúde num país onde o sistema público é inepto para atender às demandas.
Para o setor de saúde, com um faturamento anual de cerca de 70 bilhões de dólares, as perspectivas parecem só apontar para cima nos próximos anos. Ao longo da última década, os negócios cresceram mais de 10% a cada ano, de acordo com as estimativas da Organização Mundial da Saúde.
“A expansão vem abrindo inúmeras oportunidades para os empreendedores que atuam nessa cadeia”, afirma Herbert Gonçalves, sócio da consultoria Primeira Consulta, especializada no setor de saúde. “O Brasil já é o sexto maior mercado do mundo para medicamentos e serviços médicos.”
A trajetória do empreendedor Josimar Henrique da Silva, de 60 anos, é um exemplo das transformações que ocorreram nesse mercado nas últimas décadas. Durante sua infância em Caruaru, município da Zona da Mata pernambucana, ele raramente era levado ao médico ou à farmácia.
A principal fonte de remédios ficava no quintal de casa, algo muito comum para os brasileiros de sua geração. “Se alguém da família ficasse doente, minha mãe tratava com chás e banhos de ervas”, diz Silva. Atualmente, ele é dono do laboratório Hebron, que produz medicamentos com substâncias terapêuticas encontradas em plantas medicinais, como as que sua mãe receitava.
“Tomei muito chá de aroeira e banho de cardamomo quando era criança”, diz Silva. “Hoje, uso derivados dessas plantas em vários dos meus produtos.”
Remédios para problemas corriqueiros, como distúrbios digestivos e pequenas infecções — que podem ser vendidos sem receita médica e têm grande apelo entre os consumidores de menor renda —, é o principal negócio do laboratório Hebron. Boa parte de suas receitas vem das farmácias do Nordeste do país.
No ano passado, o faturamento do Hebron aumentou 25%, chegando a 120 milhões de reais. Silva fundou a empresa no começo da década de 90, ao deixar um emprego como executivo do Aché, uma das principais indústrias farmacêuticas do país.
Na época, ele vislumbrou a oportunidade de crescer num pedaço do mercado em que, naquele momento, a maioria dos fabricantes de medicamentos não estava prestando atenção. “Percebi que havia espaço no mercado para um laboratório que atendesse as camadas mais baixas da população”, diz ele. “O tempo mostrou que eu estava certo.”
Por trás do desempenho de empresas como o Hebron está o fenômeno mais básico de um mercado emergente — quando a renda da população cresce e gente que antes consumia pouco ou quase nada começa a gastar mais, é natural que os negócios andem bem. Um exemplo claro é o das vendas de medicamentos, que nos últimos quatro anos aumentaram 45%.
No Brasil de hoje, no entanto, essa não é a única força a impulsionar a expansão dos negócios na área de saúde. Características típicas de países desenvolvidos também estão sustentando o crescimento de pequenas e médias empresas inseridas na cadeia dos negócios em saúde. É o caso, por exemplo, do progressivo envelhecimento da população.
Segundo estimativas do IBGE, o número de brasileiros com mais de 65 anos de idade — justamente a parcela da população que mais consome remédios e necessita de serviços constantes de saúde — deve aumentar aproximadamente 8% até 2015.
A demanda desse público — e suas peculiaridades — tem elevado significativamente os custos do setor, fenômeno já observado na Europa e nos Estados Unidos.
De acordo com os indicadores do Instituto de Estudos em Saúde Suplementar, a inflação médica — que mede a variação nos preços que os hospitais cobram dos planos de saúde para atender seus usuários — tem ficado sistematicamente acima da inflação oficial, medida pelo IPCA.
Combater o avanço dos custos médicos é o trabalho dos empreendedores Marcelo Noronha, de 45 anos, Marcello Reicher, de 44, e Eliseu Rasera, de 43. Em 2009, os três decidiram juntar suas experiências como funcionários de hospitais e operadoras de planos de saúde para fundar a paulistana HQI, que ajuda grandes empresas a reduzir seus custos com os planos de saúde dos funcionários.
“Um dos principais reflexos da inflação médica é o reajuste nos planos de saúde pagos pelas empresas”, afirma Reicher. “E nenhuma empresa pode ficar parada, simplesmente olhando seus custos aumentarem.”
No ano passado, as receitas da HQI alcançaram 3 milhões de reais. Reicher e seus sócios têm conseguido diminuir em até 30% as despesas de clientes com os planos médicos dos funcionários. Para isso, eles ajudam seus clientes a traçar um perfil dos funcionários e a avaliar quais são os riscos de saúde a que estão mais expostos.
“Checamos até mesmo se as pessoas estão com seus exames em dia”, afirma Reicher. O levantamento serve de base para a HQI criar um programa de prevenção de doenças, monitorado por uma equipe composta de médicos, nutricionistas e fisioterapeutas. “O primeiro objetivo do estudo é evitar que os funcionários precisem utilizar o plano de saúde”, afirma Reicher.
A outra etapa do trabalho da HQI começa quando os funcionários dos clientes acabam precisando recorrer ao plano de saúde. “Nesses casos, nossa tarefa é negociar diretamente com as operadoras para tentar uma redução na conta do hospital”, afirma Reicher. “Às vezes, podemos auxiliar o funcionário a escolher o hospital que cobre menos por uma cirurgia, por exemplo.”
Nos últimos tempos, Rasera, Noronha e Recher, da HQI, passaram a ser procurados pelos próprios hospitais, em busca de custos menores e eficiência maior. “Conseguir diminuir os custos sem deixar de oferecer um bom atendimento aos pacientes é uma preocupação que está no topo da agenda de qualquer administrador de hospital”, diz Henrique Salvador, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados.
A resposta pode estar na busca por escala. Durante anos, empresas da área de saúde — e sobretudo hospitais — pareciam acreditar que, para prestar um bom atendimento, teriam de ter toda a tecnologia dentro de casa. O resultado era ineficiência e ociosidade.
A correção dessa distorção dá margem ao crescimento de negócios como o laboratório Diagnóstika, de São Paulo, criado pelo médico Filadelfio Venco, de 56 anos. Com clientes como os hospitais paulistanos Nove de Julho e Sírio-Libanês, o Diagnóstika especializou-se em citopatologia cirúrgica — exames feitos em tecidos retirados dos pacientes, como as biópsias, por exemplo.
“Manter a estrutura de um laboratório como o nosso costuma sair muito caro para um hospital”, afirma Venco. “Os equipamentos são caros e o volume de exames é relativamente pequeno mesmo em locais em que existem grandes centros cirúrgicos.” Ao concentrar as análises para vários clientes, o Diagnóstika consegue obter ganhos de escala capazes de manter os custos baixos.
No ano passado, o faturamento do laboratório foi de 14 milhões de reais, 20% mais do que o registrado em 2009. “Realizamos mais de 220 000 exames em 2010”, afirma Venco. “Com esse volume, foi possível negociar preços melhores com os nossos fornecedores e conseguimos pagar menos pelos exames.”
O mercado aberto pela busca da eficiência nos serviços de saúde fez com que os químicos Mário de Oliveira Júnior, de 46 anos, e João Bosco Peschero, de 48, mudassem o foco dos negócios da Helixxa, empresa especializada em exames de DNA, localizada em Campinas, no interior paulista.
Os dois fundaram a empresa em 2009 — quando planejavam ganhar dinheiro fazendo os exames genéticos que pecuaristas do interior paulista utilizam para avaliar a qualidade dos rebanhos.
Meses atrás, Peschero e Oliveira perceberam que havia uma demanda crescente por testes realizados em humanos, usados para avaliar se um paciente carrega genes que o tornam mais propenso a sofrer de determinadas doenças, como câncer de mama e fibrose cística, ambas de origem genética.
“Em vez de fazendas de gado, nossa clientela passou a ser formada por hospitais e laboratórios de análises clínicas que preferem terceirizar esse tipo de serviço”, afirma Peschero.
Recentemente, médicos passaram a encaminhar seus pacientes para a Helixxa com pedidos de testes de DNA que indicam como o organismo de pacientes com câncer reage a determinada medicação — o que permite chegar à dose ideal para cada doente.
Peschero e Oliveira devem criar, ainda em 2011, pacotes de testes genéticos padronizados, que serão oferecidos às redes de saúde pública e privada. Os donos da Helixxa acreditam ainda que existe um grande mercado a explorar ao fornecer seus serviços à indústria farmacêutica, na etapa de pesquisa de novos medicamentos.
No ano passado, a empresa fechou contrato com um grande laboratório, o Cristália, para pesquisar o DNA de fungos e leveduras, um negócio que já representa cerca de 10% de seu faturamento. “O consumo de medicamentos deve continuar crescendo no Brasil nos próximos anos”, afirma Antônio Brito, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. “Muitas pequenas e médias empresas que fornecem para os grandes laboratórios certamente ganharão com isso.”
Os empresários José Maciel Rodrigues Júnior, de 44 anos, e Karla de Melo Lima, de 37, trabalham hoje para que a Nanocore esteja entre essas empresas que vão lucrar com a expansão do setor. A Nanocore foi criada em 2003 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Passou três anos numa incubadora de negócios emergentes da Universidade de São Paulo e, em 2006, foi transferida para Campinas, um dos maiores polos de inovação tecnológica do Brasil. Atualmente, um de seus principais negócios é realizar testes de laboratório para avaliar o desempenho e os efeitos farmacológicos dos remédios produzidos por grandes indústrias farmacêuticas.
Nos últimos anos, porém, uma nova frente de negócios vem sendo aberta pela Nanocore. Rodrigues e Karla estão investindo no desenvolvimento de uma tecnologia para a produção de princípios ativos que esses mesmos clientes utilizam na fabricação de seus medicamentos.
A técnica utiliza bactérias geneticamente modificadas para multiplicar em laboratório substâncias que possuem propriedades terapêuticas. A expectativa dos empreendedores é que, com os novos produtos, a Nanocore alcance um faturamento de 8,5 milhões de reais neste ano, quase o dobro das receitas obtidas em 2010.
“Na prática, vamos ser uma espécie de fábrica de moléculas para nossos clientes”, afirma Rodrigues. É uma nova fronteira num mercado que, a cada dia, parece ficar maior.