Por que esta startup de Buenos Aires está procurando brasileiros
A Real Trends, que oferece suporte para vendedores do Mercado Livre, vê seu maior mercado em terras brasileiras
Mariana Fonseca
Publicado em 20 de agosto de 2018 às 06h00.
Última atualização em 20 de agosto de 2018 às 15h00.
São Paulo - Em uma startup de Buenos Aires , bandeiras amarelas, azuis e brancas dividem o espaço com outras pintadas de amarelo, azul, branco e verde. O escritório da Real Trends, que oferece suporte para vendedores do também argentino Mercado Livre , possui seis brasileiros na sua equipe de 35 funcionários.
Esse número só tende a crescer, na visão do co-fundador Javier Goilenberg. O Brasil já representa metade do faturamento da empresa, que ficou em dois milhões de dólares em 2017. Para 2018, a meta é chegar a três milhões de dólares e contratar mais brasileiros para a equipe comercial. No próximo ano, está nos planos abrir um escritório em terras brasileiras.
O potencial brasileiro
Os engenheiros de sistemas Javier Goilenberg e Patricio Molina criaram a Real Trends em 2013, com ferramentas de análise e gestão para vendedores no Mercado Livre. Goilenberg trabalhou com desenvolvimento de produto na gigante de tecnologia argentina entre 2009 e 2013 e percebeu que havia muitas oportunidades de ajudar usuários a vender mais e melhor no marketplace.
Em abril de 2013, a plataforma da Real Trends permitia que desenvolvedores criassem aplicativos conectados ao mercado. Em março de 2014, a Real Trends lançou uma primeira versão consolidada, com um software na nuvem para conhecer métricas de sua conta, acompanhar em detalhes os movimentos dos concorrentes e do mercado, responder perguntas mais rapidamente e automatizar tarefas de gerenciamento de vendas.
Sete meses depois, a startup lançou uma plataforma específica para o Brasil. “A gente sabia que o mercado brasileiro tinha uma oportunidade muito grande. Existem cerca de 20 mil grandes vendedores no Mercado Livre na Argentina, contra de 30 a 40 mil no Brasil”, estima Goilenberg.
Os brasileiros representaram cerca de 50 a 60% dos 120,9 milhões de usuários e 101,3 milhões de transações no marketplace, afirmou o diretor-presidente do Mercado Livre, Stelleo Tolda, em 2015.
Os empreendedores investiram para que a plataforma fosse simples de usar e o suporte humano seja o mínimo necessário. Mesmo assim, as dúvidas surgem - e nada melhor do que uma equipe que fale o idioma do cliente, literalmente. Por isso, eles começaram a olhar para brasileiros que se mudaram para Buenos Aires.
O benefício de procurar brasileiros que já estivessem em Buenos Aires não foi apenas eliminar procedimentos de imigração, mas também integrá-los mais facilmente à equipe - todos já falavam espanhol, com maior ou menor proficiência.
“Eles trouxeram uma grande energia para nossa equipe. Acabamos de assistir juntos à Copa do Mundo e cada um vinha com a camiseta de seu país, com companheirismo acima da rivalidade”, afirma Goilenberg.
São 35 funcionários, com seis deles brasileiros. O empreendedor espera contratar mais dois ou três atendentes especializados no mercado brasileiro neste ano.
O negócio atende hoje oito mil clientes, com 50% do seu faturamento de dois milhões de dólares em 2017 vindo de terras brasileiras. A Argentina representa 40% do faturamento e, em terceiro, o México, com 10%.
Para 2018, a Real Trends espera passar dos três milhões de dólares de faturamento. Como a participação do Brasil nos lucros deverá aumentar cada vez mais, a startup espera ter um escritório por aqui no ano que vem. Já há um funcionário em terras brasileiras, para participar de eventos e visitar clientes.
Mas, mesmo com equipes maiores e mais separadas, Goilenberg afirma que o escritório de Buenos Aires não abandonará a alegria que os brasileiros trouxeram.