PMEs crescem produzindo diversão para crianças
A maioria das crianças brasileiras de todas as classes sociais tem acesso à internet. Elas usam a rede para fazer o que mais gostam — assistir a vídeos de bichinhos e jogar online
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2014 às 06h00.
São Paulo - Quem sintoniza a televisão no Discovery Kids acaba conhecendo Bita, um homenzinho ruivo, gordinho e bigodudo. No último Carnaval ele foi ao ar cantando: “Pula que pula, como pipoca, pipoca, como quem samba, rebola”. Bita é a estrela da minissérie de desenho animado Bita e os Animais, exibida no Discovery várias vezes por dia.
Já apareceu brincando de roda com corujas, elefantes, baleias e girafas. Bita gosta de safáris e de passear na floresta. Uma vez, durante uma viagem através do tempo, foi visto no período jurássico. Em suas aventuras, ensina nomes de mamíferos e de bichos que moram no fundo do mar.
O programa pertence a uma pequena empresa, a pernambucana Mr. Plot, do publicitário João Henrique Souza, de 35 anos, e do administrador Felipe Almeida, de 34. Os dois criaram o personagem em 2011 para um aplicativo educacional feito para smartphones e tablets, e ele acabou virando programa de televisão.
“Em meu tempo de criança , só assistia a desenhos americanos”, diz Almeida. “Sempre me perguntei por que havia tão poucas animações brasileiras.” Em 2012, Almeida e Souza criaram uma conta no YouTube para tornar o Bita mais conhecido. “A aceitação foi incrível”, diz Souza.
Bastaram alguns clipes para perceber que o potencial do Bita ia muito além dos aplicativos. Com um DVD com animações do Bita debaixo do braço, Almeida e Souza foram bater às portas da televisão. “Além do Discovery Kids, também fomos recebidos no Nickelodeon e no Gloob”, diz Souza.
O contrato foi fechado em setembro do ano passado. Ainda em 2014, Almeida e Souza devem fechar contrato com a Sony Music para comercializar um DVD com os programas do Bita. A Mr. Plot pode crescer também com vendas de 13 miniaturas de personagens da minissérie, que serão fabricadas pela Mundi Toys, empresa paranaense de brinquedos.
“A Mr. Plot deve faturar 1 milhão de reais em 2014”, diz Almeida. Se tudo der certo e seus donos conseguirem formatar um modelo de negócios inteligente, a Mr. Plot poderá ir longe — a previsão é que o mercado de entretenimento e jogos eletrônicos movimente quase 200 bilhões de reais até 2017 no Brasil, segundo a consultoria PwC.
Jogos e vídeos são uma das maiores diversões das crianças brasileiras de 4 a 11 anos. “É o que elas mais fazem na internet”, diz Diego Oliveira, da consultoria francesa de mídia Ipsos. Hoje há 14 milhões de crianças que acessam a internet no Brasil, segundo a Ipsos. Esse público está crescendo rapidamente, conforme as tecnologias ficam mais baratas.
Boa parte dessas crianças já tem seu próprio celular ou tablet. E as que não têm acessam a rede com os dispositivos dos pais até ganhar um de presente.
O engenheiro Jacques Storch, de 55 anos, quer que as crianças brasileiras tenham os próprios aparelhos cada vez mais cedo. Ele é dono da paulista Phaser, que faturou 150 milhões de reais em 2013 fabricando e vendendo tablets e smartphones.
Neste ano, Storch investiu 550 000 reais para criar o Funtab, um tablet específico para criança. O aparelho parece um controle de console convencional, mas suas funções são as de um tablet, o que inclui acesso à internet e à loja de aplicativos do Google.
O Funtab está disponível em redes de varejo como Extra e Ponto Frio por 399 reais. “O foco da Phaser está na classe C e em outros perfis de consumidores que chamaram atenção recentemente, como as crianças”, diz Storch. “Calculo que 10% dos 200 milhões de reais de faturamento previstos para este ano venham do Funtab.”
O menino Pedro Ribeiro tem 5 anos e mora em São Carlos, no interior paulista. Pedro ainda não tem celular, mas pega emprestado o de seu pai, o dentista Marcos Ribeiro, de 48 anos. “Vou para as aulas de tae kwon do e de natação jogando no celular enquanto estou no carro”, diz Pedro. Tablet, Pedro tem o dele. “Meu pai deixa que eu almoce assistindo aos desenhos no iPad.”
Os desenhos favoritos de Pedro são Johnny Test e Zoboomafoo. Johnny Test é um menino de 11 anos, com olhos azuis. Seu cabelo parece fogo. Ele tem duas irmãs gêmeas cientistas que adoram usá-lo como cobaia em seus experimentos. Zoboomafoo é um lêmure que percorre o mundo mostrando diferentes ecossistemas e animais junto com os irmãos Kratt, especialistas em biologia e zoologia.
Toda vez que o lêmure chega a um novo habitat, os irmãos Kratt dão a ele uma manga ou uma batata-doce. O lêmure fica feliz e sai gritando: “Zoboomafoo!!” “Se deixar, ele passa o dia inteiro grudado no tablet vendo isso”, diz Ribeiro. “É bom quando estamos na fila de restaurantes, pois ele nem vê o tempo passar.”
Pedro assiste a essas séries na locadora digital de conteúdo infantil YouYn — uma espécie de Netflix para crianças. A YouYn tem jogos de colorir, de adivinhar sons de animais, de memória e clipes da Galinha Pintadinha. Tem também livros digitais, que permitem à criança gravar sua própria voz — ou a do pai, ou a da mãe — para contar a história. “Sou fã do YouYn”, diz Pedro. Pela assinatura, Ribeiro paga 14 reais mensais.
A plataforma da YouYn foi criada em 2012 pela Playground Serious Fun, do administrador Fabio Sgarbi, de 47 anos. Sgarbi compra a programação de fornecedores prospectados em feiras internacionais. Todo ano ele vai para Cannes e Nova York. Sua filha Camila, de 11 anos, o ajuda a montar a grade. “Sempre mostro para ela os catálogos dos programas que vou conhecer”, diz Sgarbi. “Quero que Camila indique os que ela acredita que farão sucesso.”
A YouYn veio ao mundo com a ajuda do fundo paulista Grid Investments. O aporte foi usado para desenvolver o canal, estruturá-lo na nuvem e fazer publicidade para atrair os primeiros usuários. A YouYn está num terreno com bastante futuro, pois reúne criança, entretenimento e tecnologia — três coisas bastante promissoras.
“A plataforma tem tudo para dar certo”, diz Daniel Ibri, sócio fundador do Grid Investments. Em novembro de 2013, a YouYn foi ao ar. “Fechamos o ano com 20 000 assinantes e um faturamento de quase 3 milhões de reais”, diz Sgarbi. “Pretendo chegar a 110 000 usuários até o fim deste ano.”
Para as pequenas e médias empresas, um dos aspectos mais interessantes do mercado de entretenimento é sua vocação para obter escala. Se o personagem de um desenho infantil emplaca, é possível obter outras fontes de receita, às vezes até mais rentáveis. Pode-se licenciar um personagem para linhas de xampu, pasta de dente, tênis, caderno, mochila. A lista é enorme.
Veja o que aconteceu com a Galinha Pintadinha e sua Turma. Os empreendedores Marcos Luporini e Juliano Prado criaram os personagens com base em músicas populares, como Atirei o Pau no Gato. Surgiu a ideia de transportá-los para o palco, com pessoas vestindo fantasias para representar os animais.
Vieram oportunidades de negócios para CDs, DVDs, aplicativos e bichos de pelúcia. De grão em grão, a Galinha Pintadinha foi enchendo o papo. Segundo estimativas de mercado, o personagem e sua turma produziram receitas de 20 milhões de reais em 2013.
São Paulo - Quem sintoniza a televisão no Discovery Kids acaba conhecendo Bita, um homenzinho ruivo, gordinho e bigodudo. No último Carnaval ele foi ao ar cantando: “Pula que pula, como pipoca, pipoca, como quem samba, rebola”. Bita é a estrela da minissérie de desenho animado Bita e os Animais, exibida no Discovery várias vezes por dia.
Já apareceu brincando de roda com corujas, elefantes, baleias e girafas. Bita gosta de safáris e de passear na floresta. Uma vez, durante uma viagem através do tempo, foi visto no período jurássico. Em suas aventuras, ensina nomes de mamíferos e de bichos que moram no fundo do mar.
O programa pertence a uma pequena empresa, a pernambucana Mr. Plot, do publicitário João Henrique Souza, de 35 anos, e do administrador Felipe Almeida, de 34. Os dois criaram o personagem em 2011 para um aplicativo educacional feito para smartphones e tablets, e ele acabou virando programa de televisão.
“Em meu tempo de criança , só assistia a desenhos americanos”, diz Almeida. “Sempre me perguntei por que havia tão poucas animações brasileiras.” Em 2012, Almeida e Souza criaram uma conta no YouTube para tornar o Bita mais conhecido. “A aceitação foi incrível”, diz Souza.
Bastaram alguns clipes para perceber que o potencial do Bita ia muito além dos aplicativos. Com um DVD com animações do Bita debaixo do braço, Almeida e Souza foram bater às portas da televisão. “Além do Discovery Kids, também fomos recebidos no Nickelodeon e no Gloob”, diz Souza.
O contrato foi fechado em setembro do ano passado. Ainda em 2014, Almeida e Souza devem fechar contrato com a Sony Music para comercializar um DVD com os programas do Bita. A Mr. Plot pode crescer também com vendas de 13 miniaturas de personagens da minissérie, que serão fabricadas pela Mundi Toys, empresa paranaense de brinquedos.
“A Mr. Plot deve faturar 1 milhão de reais em 2014”, diz Almeida. Se tudo der certo e seus donos conseguirem formatar um modelo de negócios inteligente, a Mr. Plot poderá ir longe — a previsão é que o mercado de entretenimento e jogos eletrônicos movimente quase 200 bilhões de reais até 2017 no Brasil, segundo a consultoria PwC.
Jogos e vídeos são uma das maiores diversões das crianças brasileiras de 4 a 11 anos. “É o que elas mais fazem na internet”, diz Diego Oliveira, da consultoria francesa de mídia Ipsos. Hoje há 14 milhões de crianças que acessam a internet no Brasil, segundo a Ipsos. Esse público está crescendo rapidamente, conforme as tecnologias ficam mais baratas.
Boa parte dessas crianças já tem seu próprio celular ou tablet. E as que não têm acessam a rede com os dispositivos dos pais até ganhar um de presente.
O engenheiro Jacques Storch, de 55 anos, quer que as crianças brasileiras tenham os próprios aparelhos cada vez mais cedo. Ele é dono da paulista Phaser, que faturou 150 milhões de reais em 2013 fabricando e vendendo tablets e smartphones.
Neste ano, Storch investiu 550 000 reais para criar o Funtab, um tablet específico para criança. O aparelho parece um controle de console convencional, mas suas funções são as de um tablet, o que inclui acesso à internet e à loja de aplicativos do Google.
O Funtab está disponível em redes de varejo como Extra e Ponto Frio por 399 reais. “O foco da Phaser está na classe C e em outros perfis de consumidores que chamaram atenção recentemente, como as crianças”, diz Storch. “Calculo que 10% dos 200 milhões de reais de faturamento previstos para este ano venham do Funtab.”
O menino Pedro Ribeiro tem 5 anos e mora em São Carlos, no interior paulista. Pedro ainda não tem celular, mas pega emprestado o de seu pai, o dentista Marcos Ribeiro, de 48 anos. “Vou para as aulas de tae kwon do e de natação jogando no celular enquanto estou no carro”, diz Pedro. Tablet, Pedro tem o dele. “Meu pai deixa que eu almoce assistindo aos desenhos no iPad.”
Os desenhos favoritos de Pedro são Johnny Test e Zoboomafoo. Johnny Test é um menino de 11 anos, com olhos azuis. Seu cabelo parece fogo. Ele tem duas irmãs gêmeas cientistas que adoram usá-lo como cobaia em seus experimentos. Zoboomafoo é um lêmure que percorre o mundo mostrando diferentes ecossistemas e animais junto com os irmãos Kratt, especialistas em biologia e zoologia.
Toda vez que o lêmure chega a um novo habitat, os irmãos Kratt dão a ele uma manga ou uma batata-doce. O lêmure fica feliz e sai gritando: “Zoboomafoo!!” “Se deixar, ele passa o dia inteiro grudado no tablet vendo isso”, diz Ribeiro. “É bom quando estamos na fila de restaurantes, pois ele nem vê o tempo passar.”
Pedro assiste a essas séries na locadora digital de conteúdo infantil YouYn — uma espécie de Netflix para crianças. A YouYn tem jogos de colorir, de adivinhar sons de animais, de memória e clipes da Galinha Pintadinha. Tem também livros digitais, que permitem à criança gravar sua própria voz — ou a do pai, ou a da mãe — para contar a história. “Sou fã do YouYn”, diz Pedro. Pela assinatura, Ribeiro paga 14 reais mensais.
A plataforma da YouYn foi criada em 2012 pela Playground Serious Fun, do administrador Fabio Sgarbi, de 47 anos. Sgarbi compra a programação de fornecedores prospectados em feiras internacionais. Todo ano ele vai para Cannes e Nova York. Sua filha Camila, de 11 anos, o ajuda a montar a grade. “Sempre mostro para ela os catálogos dos programas que vou conhecer”, diz Sgarbi. “Quero que Camila indique os que ela acredita que farão sucesso.”
A YouYn veio ao mundo com a ajuda do fundo paulista Grid Investments. O aporte foi usado para desenvolver o canal, estruturá-lo na nuvem e fazer publicidade para atrair os primeiros usuários. A YouYn está num terreno com bastante futuro, pois reúne criança, entretenimento e tecnologia — três coisas bastante promissoras.
“A plataforma tem tudo para dar certo”, diz Daniel Ibri, sócio fundador do Grid Investments. Em novembro de 2013, a YouYn foi ao ar. “Fechamos o ano com 20 000 assinantes e um faturamento de quase 3 milhões de reais”, diz Sgarbi. “Pretendo chegar a 110 000 usuários até o fim deste ano.”
Para as pequenas e médias empresas, um dos aspectos mais interessantes do mercado de entretenimento é sua vocação para obter escala. Se o personagem de um desenho infantil emplaca, é possível obter outras fontes de receita, às vezes até mais rentáveis. Pode-se licenciar um personagem para linhas de xampu, pasta de dente, tênis, caderno, mochila. A lista é enorme.
Veja o que aconteceu com a Galinha Pintadinha e sua Turma. Os empreendedores Marcos Luporini e Juliano Prado criaram os personagens com base em músicas populares, como Atirei o Pau no Gato. Surgiu a ideia de transportá-los para o palco, com pessoas vestindo fantasias para representar os animais.
Vieram oportunidades de negócios para CDs, DVDs, aplicativos e bichos de pelúcia. De grão em grão, a Galinha Pintadinha foi enchendo o papo. Segundo estimativas de mercado, o personagem e sua turma produziram receitas de 20 milhões de reais em 2013.