Para PMEs, opção é "economizar água ou morrer"
Apesar do fantasma da crise hídrica, ainda existe o mito de que somente grandes empresas devem se preocupar em fazer gestão da água.
Mariana Desidério
Publicado em 22 de março de 2018 às 05h30.
Última atualização em 22 de março de 2018 às 10h15.
São Paulo – Apesar do fantasma da crise hídrica , ainda existe no mercado o mito de que somente grandes empresas devem se preocupar em fazer uma gestão mais responsável da água .
Porém, segundo a especialista Telma Rocha, pequenas e médias empresas devem acordar para o tema o quanto antes, sob o risco de não sobreviverem. O Dia Mundial da Água , que a ONU instituiu em 22 de fevereiro, é um momento oportuno para essa reflexão.
“Ou a empresa começa esse processo agora, organizando-se, ou vai ter que fazer essa gestão lá na frente para não morrer. É melhor que comece já. Para cada tamanho de negócio existe uma forma, o pequeno negócio pode buscar soluções mais simples”, afirma Rocha.
Rocha é gerente do programa de acesso à água da Fundación Avina, organização que criou, em parceria com a Ambev, a ferramenta Saveh (Sistema de Autoavaliação de Eficiência Hídrica), uma plataforma pela qual pequenos negócios podem encontrar caminhos para gerir melhor os recursos hídricos.
Desenvolvida a partir da metodologia usada pela Ambev para fazer sua própria gestão da água, a ferramenta tem ajudado empreendedores a economizar o recurso, gerando economia financeira e mais segurança para o futuro dos negócios.
O racionamento de água deve afetar 31% dos pequenos negócios em todo o país em 2018, segundo uma pesquisa do Sebrae divulgada no mês passado. O estudo mostra que 17% das empresas de micro e pequeno porte sofreram, em 2017, com o impacto da escassez de água.
Os impactos da escassez hídrica podem ser drásticos e levar ao fim do negócio, como aconteceu na crise hídrica que atingiu São Paulo em 2014, alerta Rocha.
Bons exemplos
Dentre as empresas que já se beneficiaram da plataforma está a LLV, fabricante de metais instalada em Novo Hamburgo (RS). Ela é uma das finalistas do Prêmio Saveh.
"Com o uso da plataforma, conseguimos identificar os pontos que deveríamos medir", conta Lara Brum, engenheira química da empresa, em vídeo divulgado pelo Saveh. Após identificar os pontos de maior atenção, a empresa fechou o circuito de um dos processos que mais gastava água em sua produção, o vibroacabamento.
"Com isso, um processo que gastava de 6 a 9 metros cúbicos de água por dia hoje gasta zero", diz Brum.
Outra finalista do Prêmio é fabricante de papel Ondunorte, instalada em Igarassu (PE). Uma das ações colocadas em prática pela empresa após o contato com o Saveh foi um sistema de etiquetas que incentiva todos os funcionários a reportarem vazamentos identificados na fábrica.
Até agora, a fabricante reduziu o volume de água utilizado na produção em 20% a 25%.
Apoio às PMEs
Apesar da necessidade ambiental premente e dos benefícios de economia que a gestão da água traz para as pequenas e médias empresas, Telma Rocha admite que não se trata de uma proposta simples.
“É importante que as pequenas e médias empresas possam contar com o apoio das grandes corporações, que muitas vezes compram dessas pequenas indústrias, assim como do poder público, que também precisa cumprir o seu papel”, diz.