Abastecimento: quantidade de água armazenada é a mais baixa para o mês de julho desde 2015. (peter bocklandt/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 22 de março de 2018 às 05h30.
Última atualização em 22 de março de 2018 às 10h15.
São Paulo – Apesar do fantasma da crise hídrica, ainda existe no mercado o mito de que somente grandes empresas devem se preocupar em fazer uma gestão mais responsável da água.
Porém, segundo a especialista Telma Rocha, pequenas e médias empresas devem acordar para o tema o quanto antes, sob o risco de não sobreviverem. O Dia Mundial da Água, que a ONU instituiu em 22 de fevereiro, é um momento oportuno para essa reflexão.
“Ou a empresa começa esse processo agora, organizando-se, ou vai ter que fazer essa gestão lá na frente para não morrer. É melhor que comece já. Para cada tamanho de negócio existe uma forma, o pequeno negócio pode buscar soluções mais simples”, afirma Rocha.
Rocha é gerente do programa de acesso à água da Fundación Avina, organização que criou, em parceria com a Ambev, a ferramenta Saveh (Sistema de Autoavaliação de Eficiência Hídrica), uma plataforma pela qual pequenos negócios podem encontrar caminhos para gerir melhor os recursos hídricos.
Desenvolvida a partir da metodologia usada pela Ambev para fazer sua própria gestão da água, a ferramenta tem ajudado empreendedores a economizar o recurso, gerando economia financeira e mais segurança para o futuro dos negócios.
O racionamento de água deve afetar 31% dos pequenos negócios em todo o país em 2018, segundo uma pesquisa do Sebrae divulgada no mês passado. O estudo mostra que 17% das empresas de micro e pequeno porte sofreram, em 2017, com o impacto da escassez de água.
Os impactos da escassez hídrica podem ser drásticos e levar ao fim do negócio, como aconteceu na crise hídrica que atingiu São Paulo em 2014, alerta Rocha.
Dentre as empresas que já se beneficiaram da plataforma está a LLV, fabricante de metais instalada em Novo Hamburgo (RS). Ela é uma das finalistas do Prêmio Saveh.
"Com o uso da plataforma, conseguimos identificar os pontos que deveríamos medir", conta Lara Brum, engenheira química da empresa, em vídeo divulgado pelo Saveh. Após identificar os pontos de maior atenção, a empresa fechou o circuito de um dos processos que mais gastava água em sua produção, o vibroacabamento.
"Com isso, um processo que gastava de 6 a 9 metros cúbicos de água por dia hoje gasta zero", diz Brum.
Outra finalista do Prêmio é fabricante de papel Ondunorte, instalada em Igarassu (PE). Uma das ações colocadas em prática pela empresa após o contato com o Saveh foi um sistema de etiquetas que incentiva todos os funcionários a reportarem vazamentos identificados na fábrica.
Até agora, a fabricante reduziu o volume de água utilizado na produção em 20% a 25%.
Apesar da necessidade ambiental premente e dos benefícios de economia que a gestão da água traz para as pequenas e médias empresas, Telma Rocha admite que não se trata de uma proposta simples.
“É importante que as pequenas e médias empresas possam contar com o apoio das grandes corporações, que muitas vezes compram dessas pequenas indústrias, assim como do poder público, que também precisa cumprir o seu papel”, diz.