5 empresas que ajudam a melhorar a eficiência em recursos
São negócios emergentes que trabalham para que se explore melhor os recursos no Brasil
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 14h33.
São Paulo - Alimentos que caem dos caminhões e se perdem nas estradas. Água que vaza por tubulações defeituosas. Energia elétrica dissipada em linhas de transmissão, residências e empresas. Horas perdidas no trânsito congestionado das grandes cidades.
Estima-se que, dessa forma, o país perca 10% de sua safra anual de grãos, 40% da água tratada e aumente cerca de 9 bilhões de reais ao ano os custos com eletricidade. Estudos da Fundação Getulio Vargas também apontam que a lentidão do trânsito em São Paulo provoca uma perda anual de combustível de 930 reais por motorista.
O mapa do desperdício no Brasil é alarmante. "É preciso acabar com o mau uso de recursos que causa prejuízo ao país", afirma Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, especializado em promover campanhas que incentivam o consumo consciente.
Ao criar soluções para diminuir o desperdício, os empreendedores têm exercido um papel importante para aumentar a eficiência de diversos setores — e, assim, melhorar a competitividade das empresas.
Na sétima reportagem da série Sou Empreendedor — Meu Sonho Move o Brasil, Exame PME traz a história de cinco empresas emergentes que fornecem produtos e serviços destinados a minimizar o problema da má utilização de recursos.
A Luminae, de São Paulo, criou luminárias que refetem melhor a luz e ajudam a economizar energia. A paulistana Sharewater desenvolve sistemas capazes de detectar vazamento de água nos tubos da rede de distribuição e projeta estações de aproveitamento da água da chuva e tratamento de esgoto.
A MobWise , de Campinas, no interior paulista, desenvolveu um aplicativo que mostra as condições de trânsito em tempo real, o que ajuda a poupar o tempo do motorista e os gastos com combustível — seu programa hoje é usado por grandes clientes, como Nivea e Fiat, que precisam encontrar alternativas para diminuir o tempo que seus funcionários perdem nos congestionamentos da cidade.
No Paraná, a fabricante de equipamentos rodoviários RodoLinea faz carrocerias com uma vedação especial para impedir que grãos e outros alimentos escapem dos caminhões durante o transporte. A Recinert Ambientale, de São Paulo, criou um serviço para que empreiteiras consigam aproveitar como matéria-prima o entulho das obras de construção e demolição. Conheça suas histórias.
Eficiência de grão em grão
Até pouco tempo atrás, o caminhoneiro Ricardo Vanin, de 33 anos, ficava bastante intranquilo durante as viagens. A cada parada para descanso, ele gastava pelo menos 10 minutos verifcando se a lona do caminhão estava bem presa e se as travas da carroceria na qual transporta grãos, como soja e arroz, não estavam abertas.
"Era a primeira coisa que eu fazia depois de encostar o caminhão", diz. "Tinha medo de que algo se soltasse, deixando parte da carga cair pelo caminho."
Havia uma boa razão para ele ficar preocupado: os produtores rurais e as transportadoras estipulam multas para o motorista que chega a seu destino com um índice de perdas acima do estipulado em contrato. "Nessas situações, geralmente, temos de pagar até 1% do total do frete", afirma Vanin. "Pode parecer pouco, mas esse dinheiro fazia falta."
Por mais zeloso que fosse, raramente Vanin conseguia evitar que parte do carregamento caísse do caminhão e fosse parar no duro asfalto das estradas. "Difcilmente passava um mês sem ter de desembolsar algum dinheiro para pagar multas", afirma.
No fim do ano passado, Vanin investiu parte de suas economias para comprar um modelo de carroceria que ajuda a diminuir as perdas de carga. O equipamento usa peças compostas de um tipo de borracha resistente e alumínio para vedar brechas por onde os grãos escorrem. Vanin praticamente acabou com o problema. "Faz quase um ano que não tenho de pagar multa nenhuma."
A carroceria antidesperdício é um dos principais produtos da RodoLinea, fabricante de equipamentos rodoviários de Jaguariaíva, no interior do Paraná — no ano passado, suas vendas responderam por um quinto do faturamento da empresa, que chegou a 75 milhões de reais.
A ideia de criá-la surgiu em 2010, quando o engenheiro Felipe Hubner, de 28 anos, sócio da RodoLinea, começou a perceber que seus clientes tinham uma queixa em comum. "Muitos donos de transportadoras e produtores rurais me perguntavam se havia uma forma de evitar que os grãos caíssem do caminhão", diz ele. "Percebi que havia aí uma boa oportunidade."
Segundo estimativas da Embrapa, perde-se em torno de 10% da safra de grãos durante o transporte. Neste ano, isso signifcaria cerca de 18 milhões de toneladas de milho, soja, arroz e feijão que deixariam de ir para a mesa dos brasileiros ou de embarcar para exportação.
"A infraestrutura precária das estradas e a falta de cuidado no transporte são as principais causas dessas perdas", diz o pesquisador Mauro Lopes, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
A expansão das lavouras em regiões como Centro-Oeste e Norte do Brasil, mais distantes dos grandes centros de consumo e dos portos de exportação, só contribui para o problema — os trajetos mais frequentemente percorridos pelo caminhoneiro Vanin são justamente as estradas que ligam as lavouras de soja e arroz de Mato Grosso do Sul e do oeste paranaense aos portos de Santos, em
São Paulo, Paranaguá, no Paraná, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
"Quanto pior a estrada e mais distante a lavoura, mais prejuízo eu tinha", afirma. Os grãos que ficam pelo caminho são apenas uma parte dos alimentos desperdiçados no Brasil. De acordo com a Embrapa, cerca de 26,3 milhões de toneladas de comida vão parar no lixo todos os anos no país.
Não se trata de um problema exclusivamente brasileiro. No mundo todo, é jogado fora 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, segundo um estudo recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Num mundo onde, estima-se, mais de 870 milhões de pessoas passam fome e não têm o sufciente para comer, trata-se de um evidente problema humanitário.
O impacto ambiental está longe de ser desprezível. Para produzir toda a comida que é desperdiçada no planeta, emitem-se anualmente cerca de 3 bilhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa — quase o mesmo volume de emissões anuais da China e o dobro dos gases lançados na atmosfera pelo Japão.
Para a RodoLinea, o combate ao desperdício abriu novas perspectivas de crescimento. A empresa foi fundada em 2004 por Hubner e seu pai, o mecânico Nelson — a empresa cresceu fornecendo equipamentos rodoviários para o agronegócio. Até o fim do ano, a RodoLinea deve lançar outros modelos de carroceria que diminuem perdas nas estradas.
"Estamos desenvolvendo outro modelo para transportar grãos e ração para animais", diz Hubner. Sua previsão é que os novos produtos contribuam para aumentar a receita da empresa em 30% em 2014.
"Anualmente, invisto 4% do faturamento no desenvolvimento de novos produtos", afirma Hubner. "Tenho uma equipe de engenheiros dedicada a visitar os clientes para entender melhor quais são suas necessidades."
Para acabar com os vazamentos
O negócio do engenheiro Diogo Almeida, de 26 anos, é evitar o desperdício de água. Ele é dono da Sharewater, empresa de São Paulo que faz projetos de estações para coletar água da chuva e reciclar o que vai para o esgoto, além de vender sistemas para identificar vazamento nas tubulações.
Entre seus principais clientes estão concessionárias de distribuição de água, empreiteiras especializadas em obras de infraestrutura e empresas interessadas em poupar um recurso que muitas vezes vai para o ralo antes mesmo de ser usado.
"A água representa um custo importante para a maioria das empresas, tanto para uso em banheiros e cozinhas quanto para a utilização na produção", afirma Almeida. "Nem sempre, no entanto, os gestores percebem quanto gastam com esse recurso."
Segundo o Ministério das Cidades, cerca de 40% da água tratada no Brasil vaza para o solo ou evapora sem ser utilizada. É um índice bastante superior ao de países como Israel — onde o desperdício fca em torno de 1% — e Alemanha — onde as perdas não superam os 5%. "A água é um recurso importante demais para ser jogada fora desse jeito", diz Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, que promove projetos para incentivar o consumo consciente.
O interesse pela conservação da água começou a surgir quando Almeida era estudante de engenharia civil na Universidade de São Paulo. Na época, ele conseguiu uma vaga como bolsista num projeto de pesquisa que usava sofwares e equipamentos de medição para encontrar vazamentos nas caixas-d’água e nas tubulações.
Almeida e seus colegas também trabalhavam com uma metodologia para monitorar outras fontes de desperdício, como torneiras que ficavam pingando o tempo todo. "O projeto resultou numa economia de 150 milhões de reais na conta de água da universidade num período de dez anos", diz. "Foi quando percebi a oportunidade de abrir um negócio para prestar esse tipo de serviço para outras empresas."
Depois de se formar, Almeida se juntou a três colegas para fundar a Sharewater. Em 2013, as receitas da empresa devem chegar a 1 milhão de reais, o triplo do ano passado.
Boa parte da expansão se deve a contratos fechados recentemente com grandes companhias, como a Empresa Brasileira de Engenharia de Infraestrutura, que selecionou a Sharewater para projetar tubulações equipadas com sensores que identificam vazamento de água — a empresa pretende usar esse tipo de tubulação em grandes obras de infraestrutura, como portos e aeroportos.
Noutro caso, a Sharewater negociou com a rede educacional Anhanguera os projetos de estações de tratamento e reutilização da água do esgoto de universidades em Porto Alegre e em Pelotas, no Rio Grande do Sul. "A medida deverá proporcionar uma economia de 60% no consumo de água", diz Marcelo Poli, diretor de obras e manutenção da Anhanguera.
Sem perder tempo no trânsito
Durante muito tempo, o engenheiro Gustavo Ferreira, de 23 anos, teve de se resignar com os frequentes congestionamentos na cidade de São Paulo. Ele chegava a perder até 3 horas por dia no trânsito entre sua casa, no bairro da Bela Vista, e o trabalho, na Lapa — um trajeto de aproximadamente 10 quilômetros.
"Se eu fosse de ônibus, demoraria ainda mais", diz. No início do ano, Ferreira começou a usar um aplicativo de monitoramento de trânsito que mostra em tempo real, pelo celular, as rotas menos congestionadas, sugere percursos alternativos para fugir de engarrafamentos e indica pontos onde o trânsito foi interrompido por acidentes.
De lá para cá, Ferreira diminuiu pela metade o tempo desperdiçado nas ruas paulistanas. "À noite, tenho conseguido chegar em casa às 19 horas, 1 hora mais cedo do que antes", afirma. "Pelo menos três vezes por semana ando de bicicleta e me exercito à noite." Ferreira também está gastando menos com combustível — a conta mensal para abastecer o carro passou de cerca de 400 para 250 reais.
O aplicativo usado por Ferreira chama-se Wabbers e foi criado pela MobWise, de Campinas, no interior paulista. A empresa foi fundada em 2008 por um grupo de ex-alunos da Unicamp — os engenheiros Vinícius Alves, de 29 anos, André Paraense, de 30, Vitor Marques, de 31, e o administrador de empresas Gustavo Marquini, de 25.
O negócio surgiu quando eles começaram a pensar num modo de fugir dos congestionamentos cada vez mais comuns nas avenidas e rodovias que ligam Campinas às cidades vizinhas. "Havia espaço para usar a tecnologia a nosso favor", diz Alves. "Começamos a desenvolver um sofware para coletar dados sobre a velocidade média nas ruas com smartphones e aparelhos de GPS de motoristas que usam nosso sistema, além de informações que chegam dos radares e das lombadas eletrônicas."
Assim surgiu o Wabbers — lançado em 2011, o programa já foi baixado gratuitamente por mais de 200.000 usuários. O aplicativo serve como uma espécie de amostra grátis dos serviços da MobWise.
As receitas da empresa vêm da venda de outros softwares de monitoramento de trânsito produzidos sob medida para clientes como Fiat e Nivea, que usam esse tipo de aplicativo para aumentar a produtividade dos funcionários que precisam se deslocar frequentemente, como representantes comerciais.
Em 2013, o faturamento da MobWise deve chegar a 500.000 reais e dobrar em 2014. "Estamos sendo procurados por grandes empresas, preocupadas com o desperdício de tempo provocado pelo trânsito das cidades", afirma Alves. Há pouco mais de um ano, os negócios da MobWise atraíram a atenção do Inova Venture, grupo de investidores-anjo de Campinas, que fez um aporte na empresa.
"Cada vez mais as pessoas precisam de mecanismos para ajudar a lidar com a lentidão de tráfego", diz Alves. "E isso nos abre boas perspectivas de crescimento." De certa forma, o crescente caos no trânsito é um efeito colateral causado pela expansão da economia brasileira.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito, em uma década a frota de veículos no Brasil aumentou 119%, chegando a 64,8 milhões de carros. Segundo a Federação Nacional das Distribuidoras de Automóveis, só no ano passado foram vendidos 3,8 milhões de automóveis novos.
Sem os necessários investimentos em infraestrutura viária ou na melhoria do transporte público para diminuir o número de veículos circulando, esse crescimento resulta em ruas cada vez mais entupidas de veículos. Só em São Paulo, segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas, os congestionamentos fazem com que cada motorista desperdi-ce, em média, quase 1.000 reais de combustível por
ano.
Em 2012, o paulistano enfrentou cerca de 100 quilômetros de lentidão diariamente. "Em maior ou menor grau, a maioria das capitais e grandes cidades do país enfrenta problemas semelhantes", diz Marco Cintra, vice-presidente da Fundação Getulio Vargas e responsável pela pesquisa.
O entulho que virou insumo
O engenheiro italiano Egidio Buso, de 68 anos, ganha dinheiro com entulho. Sua empresa, a Recinert Ambientale, transforma o material proveniente da demolição de casas e edifícios e o resíduo das construções em matéria-prima para pavimentar ruas e calçadas.
Nos últimos anos, os negócios foram impulsionados pelo aquecimento na construção civil — a empresa faturou 2,5 milhões de reais no ano passado, 60% mais do que em 2011. "A construção de um prédio de 20 andares gera, em média, 1.500 metros cúbicos de entulho", diz Buso. "Na maioria das vezes, as construtoras acabam pagando aterros sanitários para descartar esse material."
Buso, um italiano radicado no Brasil há quatro décadas, começou a pensar em explorar as montanhas de entulho produzidas no país em 2008. Na época, ele era diretor de uma empresa de engenharia com sede em São Paulo que tinha diversas multinacionais como clientes.
"Recebia muitos executivos europeus que vinham ao Brasil a negócio", diz Buso. "Eles ficavam impressionados ao ver a quantidade de caminhões de entulho circulando pela cidade e me perguntavam como aquele material era aproveitado no país."
Buso começou a pesquisar como o entulho era aproveitado fora do país. Na Itália, ele encontrou empresas especializadas em reciclar o material e fornecedores de equipamentos para esse tipo de atividade. "Decidi importar algumas dessas máquinas", afirma Buso. "Depois, comecei a procurar construtoras para oferecer o serviço de reciclagem."
Foi assim que surgiu a Recinert. Buso criou um modelo de negócios no qual ele leva seus equipamentos até a obra, processa o entulho e deixa o material produzido no próprio local. "Na maioria das vezes, essa matéria-prima é utilizada na própria obra", diz.
Hoje a empresa tem contratos com grandes construtoras, como OAS e WTorre. A construtora Hobrás, de São Paulo, foi uma das primeiras a fechar contrato com a Recinert. A empresa constrói centros de distribuição e faz serviços de terraplanagem e pavimentação para grandes companhias, como Walmart, Ford e Avon.
Em média, a Hobrás gastava 150.000 reais por mês com o transporte de entulho, o que impactava nos custos fixos. "Era um custo alto, que não tínhamos como evitar", diz Henrique Schreurs, sócio da Hobrás. Ao contratar os serviços da Recinert, os custos totais da empresa diminuíram cerca de 5% por ano. “
"Isso ajudou a melhorar as margens de lucro, e agora também colaboramos com a questão ambiental, ao não atolar mais os aterros", afirma Schreurs.
Uma luz para reduzir os custos
O paulistano André Ferreira tinha 16 anos quando pediu ao avô algo um tanto incomum para um garoto de sua idade — ele queria usar um espaço na garagem para fazer alguns experimentos de iluminação. Não se tratava de trabalhos do colégio. Era o ano de 2001, o Brasil enfrentava um racionamento de energia elétrica.
Ferreira acreditava ser capaz de construir alguns protótipos de luminária que poderiam iluminar mais gastando menos eletricidade. "Era louco por física e gostava de me enfurnar num laboratório", diz ele, hoje com 29 anos. "Na época, toda a conversa em torno do racionamento me deixou obcecado por economia de energia."
Ferreira terminou o ensino médio, entrou na faculdade de engenharia elétrica e continuou fazendo experimentos na garagem do avô. Em 2008, finalmente produziu algo que o deixou satisfeito.
Depois de uma longa busca por materiais que refletissem a luz da lâmpada para aproveitá-la melhor, Ferreira chegou a um modelo que proporcionava a mesma iluminação de uma luminária convencional usando lâmpadas menos potentes. "Na prática, isso permitia economizar metade da energia", diz.
Assim nasceu a Luminae, empresa que fabrica luminárias e faz projetos de iluminação mais eficientes. No ano passado, a empresa faturou 12 milhões de reais, o dobro de 2011. Seus principais clientes são grandes redes de varejo, como Pão de Açúcar e Carrefour, bancos e indústrias.
"Em geral, essas empresas têm muitas unidades ou precisam manter as luzes acesas 24 horas por dia", afirma Ferreira. "A energia gasta com iluminação representa um custo significativo para elas."
Nos últimos três anos, a rede de supermercados Jaú Serve, do interior paulista, implantou sistemas de iluminação projetados pela Luminae em cinco de suas 28 lojas. "Nessas unidades o consumo de energia caiu pela metade, e a qualidade da iluminação
melhorou", afirma Silvio Cleyton Chaves, diretor da Jaú Serve.
Para a rede, a conta de energia elétrica é o terceiro item mais importante nos custos, depois dos gastos com folha de pagamentos e embalagens. Com a economia de eletricidade, a margem de lucro aumentou. "Nesse setor, muito competitivo, qualquer ganho de margem é muito celebrado."
O desperdício de energia elétrica é uma das grandes causas de ineficiência no Brasil. Em 2012, as perdas de eletricidade causadas por deficiências nos sistemas de iluminação e refrigeração geraram um custo de cerca de 3 bilhões de reais para as empresas, segundo um levantamento da Abesco, associação que reúne empresas brasileiras de serviços de conservação de energia.
As perdas de eletricidade acabam contribuindo para formar um gargalo no desenvolvimento do país. O Operador Nacional do Sistema, órgão do governo federal responsável pelo planejamento e pelo controle do setor elétrico, calcula que o consumo de energia no Brasil crescerá em torno de 4,9% ao ano na próxima década — o que exigirá investimentos de 37 bilhões de reais para construir usinas e aumentar a geração de energia em 11 000 megawatts.
"Sem energia elétrica, não dá para sustentar o crescimento dos negócios", afirma José Starosta, presidente da Abesco
São Paulo - Alimentos que caem dos caminhões e se perdem nas estradas. Água que vaza por tubulações defeituosas. Energia elétrica dissipada em linhas de transmissão, residências e empresas. Horas perdidas no trânsito congestionado das grandes cidades.
Estima-se que, dessa forma, o país perca 10% de sua safra anual de grãos, 40% da água tratada e aumente cerca de 9 bilhões de reais ao ano os custos com eletricidade. Estudos da Fundação Getulio Vargas também apontam que a lentidão do trânsito em São Paulo provoca uma perda anual de combustível de 930 reais por motorista.
O mapa do desperdício no Brasil é alarmante. "É preciso acabar com o mau uso de recursos que causa prejuízo ao país", afirma Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, especializado em promover campanhas que incentivam o consumo consciente.
Ao criar soluções para diminuir o desperdício, os empreendedores têm exercido um papel importante para aumentar a eficiência de diversos setores — e, assim, melhorar a competitividade das empresas.
Na sétima reportagem da série Sou Empreendedor — Meu Sonho Move o Brasil, Exame PME traz a história de cinco empresas emergentes que fornecem produtos e serviços destinados a minimizar o problema da má utilização de recursos.
A Luminae, de São Paulo, criou luminárias que refetem melhor a luz e ajudam a economizar energia. A paulistana Sharewater desenvolve sistemas capazes de detectar vazamento de água nos tubos da rede de distribuição e projeta estações de aproveitamento da água da chuva e tratamento de esgoto.
A MobWise , de Campinas, no interior paulista, desenvolveu um aplicativo que mostra as condições de trânsito em tempo real, o que ajuda a poupar o tempo do motorista e os gastos com combustível — seu programa hoje é usado por grandes clientes, como Nivea e Fiat, que precisam encontrar alternativas para diminuir o tempo que seus funcionários perdem nos congestionamentos da cidade.
No Paraná, a fabricante de equipamentos rodoviários RodoLinea faz carrocerias com uma vedação especial para impedir que grãos e outros alimentos escapem dos caminhões durante o transporte. A Recinert Ambientale, de São Paulo, criou um serviço para que empreiteiras consigam aproveitar como matéria-prima o entulho das obras de construção e demolição. Conheça suas histórias.
Eficiência de grão em grão
Até pouco tempo atrás, o caminhoneiro Ricardo Vanin, de 33 anos, ficava bastante intranquilo durante as viagens. A cada parada para descanso, ele gastava pelo menos 10 minutos verifcando se a lona do caminhão estava bem presa e se as travas da carroceria na qual transporta grãos, como soja e arroz, não estavam abertas.
"Era a primeira coisa que eu fazia depois de encostar o caminhão", diz. "Tinha medo de que algo se soltasse, deixando parte da carga cair pelo caminho."
Havia uma boa razão para ele ficar preocupado: os produtores rurais e as transportadoras estipulam multas para o motorista que chega a seu destino com um índice de perdas acima do estipulado em contrato. "Nessas situações, geralmente, temos de pagar até 1% do total do frete", afirma Vanin. "Pode parecer pouco, mas esse dinheiro fazia falta."
Por mais zeloso que fosse, raramente Vanin conseguia evitar que parte do carregamento caísse do caminhão e fosse parar no duro asfalto das estradas. "Difcilmente passava um mês sem ter de desembolsar algum dinheiro para pagar multas", afirma.
No fim do ano passado, Vanin investiu parte de suas economias para comprar um modelo de carroceria que ajuda a diminuir as perdas de carga. O equipamento usa peças compostas de um tipo de borracha resistente e alumínio para vedar brechas por onde os grãos escorrem. Vanin praticamente acabou com o problema. "Faz quase um ano que não tenho de pagar multa nenhuma."
A carroceria antidesperdício é um dos principais produtos da RodoLinea, fabricante de equipamentos rodoviários de Jaguariaíva, no interior do Paraná — no ano passado, suas vendas responderam por um quinto do faturamento da empresa, que chegou a 75 milhões de reais.
A ideia de criá-la surgiu em 2010, quando o engenheiro Felipe Hubner, de 28 anos, sócio da RodoLinea, começou a perceber que seus clientes tinham uma queixa em comum. "Muitos donos de transportadoras e produtores rurais me perguntavam se havia uma forma de evitar que os grãos caíssem do caminhão", diz ele. "Percebi que havia aí uma boa oportunidade."
Segundo estimativas da Embrapa, perde-se em torno de 10% da safra de grãos durante o transporte. Neste ano, isso signifcaria cerca de 18 milhões de toneladas de milho, soja, arroz e feijão que deixariam de ir para a mesa dos brasileiros ou de embarcar para exportação.
"A infraestrutura precária das estradas e a falta de cuidado no transporte são as principais causas dessas perdas", diz o pesquisador Mauro Lopes, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
A expansão das lavouras em regiões como Centro-Oeste e Norte do Brasil, mais distantes dos grandes centros de consumo e dos portos de exportação, só contribui para o problema — os trajetos mais frequentemente percorridos pelo caminhoneiro Vanin são justamente as estradas que ligam as lavouras de soja e arroz de Mato Grosso do Sul e do oeste paranaense aos portos de Santos, em
São Paulo, Paranaguá, no Paraná, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
"Quanto pior a estrada e mais distante a lavoura, mais prejuízo eu tinha", afirma. Os grãos que ficam pelo caminho são apenas uma parte dos alimentos desperdiçados no Brasil. De acordo com a Embrapa, cerca de 26,3 milhões de toneladas de comida vão parar no lixo todos os anos no país.
Não se trata de um problema exclusivamente brasileiro. No mundo todo, é jogado fora 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, segundo um estudo recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Num mundo onde, estima-se, mais de 870 milhões de pessoas passam fome e não têm o sufciente para comer, trata-se de um evidente problema humanitário.
O impacto ambiental está longe de ser desprezível. Para produzir toda a comida que é desperdiçada no planeta, emitem-se anualmente cerca de 3 bilhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa — quase o mesmo volume de emissões anuais da China e o dobro dos gases lançados na atmosfera pelo Japão.
Para a RodoLinea, o combate ao desperdício abriu novas perspectivas de crescimento. A empresa foi fundada em 2004 por Hubner e seu pai, o mecânico Nelson — a empresa cresceu fornecendo equipamentos rodoviários para o agronegócio. Até o fim do ano, a RodoLinea deve lançar outros modelos de carroceria que diminuem perdas nas estradas.
"Estamos desenvolvendo outro modelo para transportar grãos e ração para animais", diz Hubner. Sua previsão é que os novos produtos contribuam para aumentar a receita da empresa em 30% em 2014.
"Anualmente, invisto 4% do faturamento no desenvolvimento de novos produtos", afirma Hubner. "Tenho uma equipe de engenheiros dedicada a visitar os clientes para entender melhor quais são suas necessidades."
Para acabar com os vazamentos
O negócio do engenheiro Diogo Almeida, de 26 anos, é evitar o desperdício de água. Ele é dono da Sharewater, empresa de São Paulo que faz projetos de estações para coletar água da chuva e reciclar o que vai para o esgoto, além de vender sistemas para identificar vazamento nas tubulações.
Entre seus principais clientes estão concessionárias de distribuição de água, empreiteiras especializadas em obras de infraestrutura e empresas interessadas em poupar um recurso que muitas vezes vai para o ralo antes mesmo de ser usado.
"A água representa um custo importante para a maioria das empresas, tanto para uso em banheiros e cozinhas quanto para a utilização na produção", afirma Almeida. "Nem sempre, no entanto, os gestores percebem quanto gastam com esse recurso."
Segundo o Ministério das Cidades, cerca de 40% da água tratada no Brasil vaza para o solo ou evapora sem ser utilizada. É um índice bastante superior ao de países como Israel — onde o desperdício fca em torno de 1% — e Alemanha — onde as perdas não superam os 5%. "A água é um recurso importante demais para ser jogada fora desse jeito", diz Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, que promove projetos para incentivar o consumo consciente.
O interesse pela conservação da água começou a surgir quando Almeida era estudante de engenharia civil na Universidade de São Paulo. Na época, ele conseguiu uma vaga como bolsista num projeto de pesquisa que usava sofwares e equipamentos de medição para encontrar vazamentos nas caixas-d’água e nas tubulações.
Almeida e seus colegas também trabalhavam com uma metodologia para monitorar outras fontes de desperdício, como torneiras que ficavam pingando o tempo todo. "O projeto resultou numa economia de 150 milhões de reais na conta de água da universidade num período de dez anos", diz. "Foi quando percebi a oportunidade de abrir um negócio para prestar esse tipo de serviço para outras empresas."
Depois de se formar, Almeida se juntou a três colegas para fundar a Sharewater. Em 2013, as receitas da empresa devem chegar a 1 milhão de reais, o triplo do ano passado.
Boa parte da expansão se deve a contratos fechados recentemente com grandes companhias, como a Empresa Brasileira de Engenharia de Infraestrutura, que selecionou a Sharewater para projetar tubulações equipadas com sensores que identificam vazamento de água — a empresa pretende usar esse tipo de tubulação em grandes obras de infraestrutura, como portos e aeroportos.
Noutro caso, a Sharewater negociou com a rede educacional Anhanguera os projetos de estações de tratamento e reutilização da água do esgoto de universidades em Porto Alegre e em Pelotas, no Rio Grande do Sul. "A medida deverá proporcionar uma economia de 60% no consumo de água", diz Marcelo Poli, diretor de obras e manutenção da Anhanguera.
Sem perder tempo no trânsito
Durante muito tempo, o engenheiro Gustavo Ferreira, de 23 anos, teve de se resignar com os frequentes congestionamentos na cidade de São Paulo. Ele chegava a perder até 3 horas por dia no trânsito entre sua casa, no bairro da Bela Vista, e o trabalho, na Lapa — um trajeto de aproximadamente 10 quilômetros.
"Se eu fosse de ônibus, demoraria ainda mais", diz. No início do ano, Ferreira começou a usar um aplicativo de monitoramento de trânsito que mostra em tempo real, pelo celular, as rotas menos congestionadas, sugere percursos alternativos para fugir de engarrafamentos e indica pontos onde o trânsito foi interrompido por acidentes.
De lá para cá, Ferreira diminuiu pela metade o tempo desperdiçado nas ruas paulistanas. "À noite, tenho conseguido chegar em casa às 19 horas, 1 hora mais cedo do que antes", afirma. "Pelo menos três vezes por semana ando de bicicleta e me exercito à noite." Ferreira também está gastando menos com combustível — a conta mensal para abastecer o carro passou de cerca de 400 para 250 reais.
O aplicativo usado por Ferreira chama-se Wabbers e foi criado pela MobWise, de Campinas, no interior paulista. A empresa foi fundada em 2008 por um grupo de ex-alunos da Unicamp — os engenheiros Vinícius Alves, de 29 anos, André Paraense, de 30, Vitor Marques, de 31, e o administrador de empresas Gustavo Marquini, de 25.
O negócio surgiu quando eles começaram a pensar num modo de fugir dos congestionamentos cada vez mais comuns nas avenidas e rodovias que ligam Campinas às cidades vizinhas. "Havia espaço para usar a tecnologia a nosso favor", diz Alves. "Começamos a desenvolver um sofware para coletar dados sobre a velocidade média nas ruas com smartphones e aparelhos de GPS de motoristas que usam nosso sistema, além de informações que chegam dos radares e das lombadas eletrônicas."
Assim surgiu o Wabbers — lançado em 2011, o programa já foi baixado gratuitamente por mais de 200.000 usuários. O aplicativo serve como uma espécie de amostra grátis dos serviços da MobWise.
As receitas da empresa vêm da venda de outros softwares de monitoramento de trânsito produzidos sob medida para clientes como Fiat e Nivea, que usam esse tipo de aplicativo para aumentar a produtividade dos funcionários que precisam se deslocar frequentemente, como representantes comerciais.
Em 2013, o faturamento da MobWise deve chegar a 500.000 reais e dobrar em 2014. "Estamos sendo procurados por grandes empresas, preocupadas com o desperdício de tempo provocado pelo trânsito das cidades", afirma Alves. Há pouco mais de um ano, os negócios da MobWise atraíram a atenção do Inova Venture, grupo de investidores-anjo de Campinas, que fez um aporte na empresa.
"Cada vez mais as pessoas precisam de mecanismos para ajudar a lidar com a lentidão de tráfego", diz Alves. "E isso nos abre boas perspectivas de crescimento." De certa forma, o crescente caos no trânsito é um efeito colateral causado pela expansão da economia brasileira.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito, em uma década a frota de veículos no Brasil aumentou 119%, chegando a 64,8 milhões de carros. Segundo a Federação Nacional das Distribuidoras de Automóveis, só no ano passado foram vendidos 3,8 milhões de automóveis novos.
Sem os necessários investimentos em infraestrutura viária ou na melhoria do transporte público para diminuir o número de veículos circulando, esse crescimento resulta em ruas cada vez mais entupidas de veículos. Só em São Paulo, segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas, os congestionamentos fazem com que cada motorista desperdi-ce, em média, quase 1.000 reais de combustível por
ano.
Em 2012, o paulistano enfrentou cerca de 100 quilômetros de lentidão diariamente. "Em maior ou menor grau, a maioria das capitais e grandes cidades do país enfrenta problemas semelhantes", diz Marco Cintra, vice-presidente da Fundação Getulio Vargas e responsável pela pesquisa.
O entulho que virou insumo
O engenheiro italiano Egidio Buso, de 68 anos, ganha dinheiro com entulho. Sua empresa, a Recinert Ambientale, transforma o material proveniente da demolição de casas e edifícios e o resíduo das construções em matéria-prima para pavimentar ruas e calçadas.
Nos últimos anos, os negócios foram impulsionados pelo aquecimento na construção civil — a empresa faturou 2,5 milhões de reais no ano passado, 60% mais do que em 2011. "A construção de um prédio de 20 andares gera, em média, 1.500 metros cúbicos de entulho", diz Buso. "Na maioria das vezes, as construtoras acabam pagando aterros sanitários para descartar esse material."
Buso, um italiano radicado no Brasil há quatro décadas, começou a pensar em explorar as montanhas de entulho produzidas no país em 2008. Na época, ele era diretor de uma empresa de engenharia com sede em São Paulo que tinha diversas multinacionais como clientes.
"Recebia muitos executivos europeus que vinham ao Brasil a negócio", diz Buso. "Eles ficavam impressionados ao ver a quantidade de caminhões de entulho circulando pela cidade e me perguntavam como aquele material era aproveitado no país."
Buso começou a pesquisar como o entulho era aproveitado fora do país. Na Itália, ele encontrou empresas especializadas em reciclar o material e fornecedores de equipamentos para esse tipo de atividade. "Decidi importar algumas dessas máquinas", afirma Buso. "Depois, comecei a procurar construtoras para oferecer o serviço de reciclagem."
Foi assim que surgiu a Recinert. Buso criou um modelo de negócios no qual ele leva seus equipamentos até a obra, processa o entulho e deixa o material produzido no próprio local. "Na maioria das vezes, essa matéria-prima é utilizada na própria obra", diz.
Hoje a empresa tem contratos com grandes construtoras, como OAS e WTorre. A construtora Hobrás, de São Paulo, foi uma das primeiras a fechar contrato com a Recinert. A empresa constrói centros de distribuição e faz serviços de terraplanagem e pavimentação para grandes companhias, como Walmart, Ford e Avon.
Em média, a Hobrás gastava 150.000 reais por mês com o transporte de entulho, o que impactava nos custos fixos. "Era um custo alto, que não tínhamos como evitar", diz Henrique Schreurs, sócio da Hobrás. Ao contratar os serviços da Recinert, os custos totais da empresa diminuíram cerca de 5% por ano. “
"Isso ajudou a melhorar as margens de lucro, e agora também colaboramos com a questão ambiental, ao não atolar mais os aterros", afirma Schreurs.
Uma luz para reduzir os custos
O paulistano André Ferreira tinha 16 anos quando pediu ao avô algo um tanto incomum para um garoto de sua idade — ele queria usar um espaço na garagem para fazer alguns experimentos de iluminação. Não se tratava de trabalhos do colégio. Era o ano de 2001, o Brasil enfrentava um racionamento de energia elétrica.
Ferreira acreditava ser capaz de construir alguns protótipos de luminária que poderiam iluminar mais gastando menos eletricidade. "Era louco por física e gostava de me enfurnar num laboratório", diz ele, hoje com 29 anos. "Na época, toda a conversa em torno do racionamento me deixou obcecado por economia de energia."
Ferreira terminou o ensino médio, entrou na faculdade de engenharia elétrica e continuou fazendo experimentos na garagem do avô. Em 2008, finalmente produziu algo que o deixou satisfeito.
Depois de uma longa busca por materiais que refletissem a luz da lâmpada para aproveitá-la melhor, Ferreira chegou a um modelo que proporcionava a mesma iluminação de uma luminária convencional usando lâmpadas menos potentes. "Na prática, isso permitia economizar metade da energia", diz.
Assim nasceu a Luminae, empresa que fabrica luminárias e faz projetos de iluminação mais eficientes. No ano passado, a empresa faturou 12 milhões de reais, o dobro de 2011. Seus principais clientes são grandes redes de varejo, como Pão de Açúcar e Carrefour, bancos e indústrias.
"Em geral, essas empresas têm muitas unidades ou precisam manter as luzes acesas 24 horas por dia", afirma Ferreira. "A energia gasta com iluminação representa um custo significativo para elas."
Nos últimos três anos, a rede de supermercados Jaú Serve, do interior paulista, implantou sistemas de iluminação projetados pela Luminae em cinco de suas 28 lojas. "Nessas unidades o consumo de energia caiu pela metade, e a qualidade da iluminação
melhorou", afirma Silvio Cleyton Chaves, diretor da Jaú Serve.
Para a rede, a conta de energia elétrica é o terceiro item mais importante nos custos, depois dos gastos com folha de pagamentos e embalagens. Com a economia de eletricidade, a margem de lucro aumentou. "Nesse setor, muito competitivo, qualquer ganho de margem é muito celebrado."
O desperdício de energia elétrica é uma das grandes causas de ineficiência no Brasil. Em 2012, as perdas de eletricidade causadas por deficiências nos sistemas de iluminação e refrigeração geraram um custo de cerca de 3 bilhões de reais para as empresas, segundo um levantamento da Abesco, associação que reúne empresas brasileiras de serviços de conservação de energia.
As perdas de eletricidade acabam contribuindo para formar um gargalo no desenvolvimento do país. O Operador Nacional do Sistema, órgão do governo federal responsável pelo planejamento e pelo controle do setor elétrico, calcula que o consumo de energia no Brasil crescerá em torno de 4,9% ao ano na próxima década — o que exigirá investimentos de 37 bilhões de reais para construir usinas e aumentar a geração de energia em 11 000 megawatts.
"Sem energia elétrica, não dá para sustentar o crescimento dos negócios", afirma José Starosta, presidente da Abesco