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Os planos do Softbank para o Brasil em 2020: apostas menos "óbvias"

O Softbank aportou entre 6 e 10 bilhões de reais na América Latina em 2019 e abriu seu primeiro escritório no Brasil

Softbank (Issei Kato/Reuters)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 12h25.

Última atualização em 30 de julho de 2020 às 14h29.

O braço brasileiro do grupo de investimentos japonês Softbank , dono do maior fundo de investimentos do planeta, está terminando seu primeiro ano no Brasil mais ativo do que nunca.

André Maciel, diretor da operação brasileira do Softbank, afirma que a empresa tem estudos para anunciar novos aportes no ano que vem. Agora, em empresas menos "óbvias".

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"A gente fez as transações talvez mais óbvias. É difícil talvez nas menos óbvias manter esse ritmo de investimento, mas devemos continuar com algumas coisas no começo do ano que vem", disse o executivo em café da manhã com jornalistas nesta sexta-feira 13.

Só neste ano, foram 14 investimentos divulgados na América Latina, dez deles no Brasil e com aportes de sete a 150 milhões de dólares em cada rodada -- sem contar os que não foram revelados publicamente. O Softbank aportou entre 6 e 10 bilhões de reais na região até agora, segundo Maciel. É uma parte do fundo de 5 bilhões de dólares que o grupo tem para a região.

Dentre as empresas brasileiras que receberam aportes, estão a empresa de logística Loggi, a fintechs Creditas, a empresa de aluguéis QuintoAndar, o Gympass, de passes de academias, a Buser, de viagens de ônibus, a Vtex, de plataforma de e-commerce, a MadeiraMadeira, de venda de móveis, a Volanty, de venda de carros, e o banco Inter, a única com capital aberto.

Deste grupo, Loggi, QuintoAndar e Gympass atingiram valor de mercado de 1 bilhão de dólares, entrando neste ano para o clube dos chamados "unicórnios" -- no Brasil, há pelo menos nove.

"A gente vem numa campanha de investimento que talvez seja a maior já feita por um fundo no Brasil", disse Maciel. Além dos aportes concretizados, o Softbank avaliou mais de 300 companhias e também fez diligência aprofundada em outras 15 empresas, nas quais decidiu não seguir com o investimento.

O Softbank é uma das estrelas de um movimento sem precedentes na história do ecossistema de startups brasileiro. A estimativa é que a América Latina feche o ano com 3,5 bilhões de dólares em aportes feitos por fundos de venture capital na região, segundo estimativas da empresa de inteligência de startups Distrito com base em dados da Lavca, associação latino-americana de venture capital. Há três anos, em 2016, a região inteira recebeu 500.000 dólares. Neste ano, o colombiano Rappi, sozinho, recebeu 1 bilhão de dólares, em um aporte liderado justamente pelo Softbank.

O fundo japonês entrou também na oferta subsequente de ações (follow-on) do banco Inter, que junto a nomes como Stone e PagSeguro, está entre as fintechs que abriram capital na bolsa. Helena Caldeira, diretora de relações com investidores do banco, afirma que a instituição ganha cerca de 250 mil novos clientes por mês, ante 100 mil em dezembro do ano passado. "2019 foi um ano com muitos marcos para nós", disse.

Em 2019, o Softbank cresceu inclusive dentro de casa. O escritório no Brasil, que começou com três pessoas em abril, hoje tem 60 colaboradores. O Softbank abriu também neste ano um espaço na Argentina, onde participou recentemente de um investimento de 150 milhões de dólares na fintechs Ualá.

Apesar do ano de crescimento, o grupo japonês também foi questionado como nunca acerca de sua participação em empresas como WeWork e Uber. A WeWork não conseguiu chegar ao IPO (oferta inicial de ações) após abrir seus números, que mostraram prejuízo de 1,9 bilhão em 2018. Assim, o valor de mercado passou de mais de 40 bilhões de dólares para 8 bilhões de dólares, o IPO não aconteceu, e a empresa precisou ser resgatada pelo Softbank, que fez um aporte adicional. Ao todo, o Softbank deixou mais de 10 bilhões de dólares na companhia. Dinheiro por enquanto "perdido", diz Maciel, mas que o grupo, que está agora controlando mais de perto a WeWork, tenta recuperar. A história da Uber é menos trágica, mas o valor de mercado da empresa caiu 30% desde a abertura de capital, em maio.

"A gente tem uma missão lá [na WeWork] de tentar fazer a companhia viável", disse Maciel. "Tem muito trabalho lá pra recuperar o capital investido -- por enquanto capital perdido".

Maciel afirma que, sem dúvida, o Softbank cometeu "alguns erros" em investimentos. "Mas se você não deixa algumas companhias crescerem dessa maneira, você não acha a próxima Alibaba, a próxima Facebook", disse.

A expectativa de fundos como o Softbank é que as startups que hoje valem 1 bilhão ou menos de dólares, em alguns anos, façam IPO ou sejam compradas por empresas maiores, aumentando em dez ou 100 vezes o valor de mercado e dando retorno ao capital investido. Algumas, contudo, ficam pelo meio do caminho. "Só vamos saber como o portfólio está em quatro ou cinco anos", disse.

Enquanto isso não acontece, as empresas da "família Softbank", como o executivo afirmou, seguem crescendo. Algumas, como a Loggi ou o banco Inter, resolvem problemas específicos do país, como falta de infraestrutura ou taxas bancárias. Outras, como a Gympass, já levam seu modelo de negócio para o mundo -- a Gympass está hoje presente em 14 países. Empresas ligadas ao comércio eletrônico, como Olist, de marketplace, Vtex, de sistemas de comércio electrónico, a MadeiraMadeira, de venda de móveis, cresceram em 50% nesta Black Friday, disse Maciel. Já a Loggi entregou de quatro a cinco vezes mais pedidos do que em 2018.

Todas as startups brasileiras precisarão eventualmente ser globais para valer o investimento? "Não tem a 'necessidade' de ser global. Mas é muito legal quando acontece", diz Maciel. "Porque também o cara no México está sofrendo a mesma dor. Então por que não sonhar também?".

Contudo, o executivo afirma que ainda há "muito mato a ser cortado" no Brasil. Assim, de olho nestas oportunidades, Maciel afirma que ainda não fez os maiores investimentos do Softbank no Brasil, embora o número de aportes deva diminuir. O grupo também tem recursos separados para follow-on, como foi com o banco Inter, e investimentos em outros fundos. Mais startups de valor de mercado bilionário podem vir por aí.

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