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O português que descobriu o Brasil

Desde pequeno, Fernando Dias sonhava em conhecer o mundo. Começou como viajante, trabalhou em empresas de turismo e depois montou a própria agência. Hoje, viajar é parte de sua vida e a Master Turismo fatura 320 milhões de reais por ano

Fernando Dias, da Master Turismo: “O grande valor de uma agência de serviços são as pessoas” (Léo Drumond / EXAME PME)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2015 às 05h56.

São Paulo - Quando chegou ao Brasil, no início da década de 70, o português Fernando Dias tinha 21 anos e trazia na bagagem apenas as viagens pela Europa, quatro idiomas e a vontade de empreender. Nessa época, em Minas Gerais, onde foi morar, despontava um polo de desenvolvimento industrial, com a instalação de montadoras e siderúrgicas.

Depois de 15 anos de trabalho em empresas de turismo , Dias aproveitou esse ambiente propício ao turismo corporativo para montar a própria agência em Belo Horizonte. Hoje, a Master Turismo é líder em Minas, tem 16 filiais, quase 300 funcionários e, além da agência e da operadora, atua com intercâmbio, eventos e receptivo. Aos 64 anos, Dias conta como aprendeu que trabalhar com turismo não é só viajar.

"Nasci em Portugal e, aos 17 anos, saí do país para não fazer o serviço militar obrigatório, que era de quatro anos. Naquela época, final dos anos 60, alistar-se significava ir para as colônias portuguesas, onde havia guerrilhas para obter a independência. Como eu, milhares de jovens fugiram do alistamento. Fiquei três anos perambulando pela Europa, Espanha, Inglaterra e, principalmente, França. Entrava e saía de Portugal clandestinamente só para ver minha família.

Quando estava quase me entregando ao serviço militar, pois minha vida tinha ficado muito confusa, conheci uma brasileira de Minas Gerais e começamos a namorar. Não pensava em vir para o Brasil, mas ela me convenceu. Até porque meu passapor­te logo iria vencer e eu não poderia renová-lo sem me apresentar ao governo. Meus pais não queriam que eu partisse. Eles são de um vilarejo chamado Viana de Castelo e achavam que seria uma mudança muito grande.

Uma vez em Minas, logo me identifiquei com o jeito de ser do brasileiro, mais aberto. Mas estava difícil de manter meu padrão de vida, pois não tinha uma atividade profissional definida e precisava me virar fazendo pequenos trabalhos em troca de um salário mínimo. A meu favor, eu tinha o fato de ser uma pessoa viajada, ter andado pela Europa toda e falar quatro idiomas, o que acabou me levando para uma agência de viagens.

Era uma agência pequena, e minha primeira função foi a de atendente. Depois passei para a área internacional e comecei a acompanhar grupos ao exterior, principalmente Europa e Estados Unidos — menos Portugal. Eu já tinha conseguido renovar meu passaporte, mas ainda não podia entrar em Portugal.

Meu trabalho logo ficou conhecido no mercado por causa de minha dedicação e também porque naquela época havia só umas cinco agências em Belo Horizonte. Após dois anos, fui convidado a trabalhar na companhia aérea TAP.

Parecia promissor, então aceitei, mas não gostei da expe­riência e fiquei só um ano. Sentia falta de um turismo com mais amplitude. A companhia era muito focada em passagens aéreas e quase só atendia Portugal, um destino proibido para mim.

Em 1976, fui trabalhar numa agência ligada a um banco de Minas Gerais. Nessa época, consegui resolver meu problema com Portugal. Dois anos antes, a Revolução dos Cravos tinha derrubado o salazarismo e o novo governo permitiu que as pessoas pagassem uma multa para regularizar a situação com o serviço militar.

Foi um período bem-sucedido nessa agência estatal, até que veio um convite irrecusável. Uma empresa de turismo me chamou para gerenciar a unidade que estava abrindo em Contagem, cidade próxima de onde a Fiat está instalada. Nesse emprego adquiri a grande experiência que tenho hoje, principalmente com o mercado corporativo.

Dez anos depois, em 1986, já estava com 35 anos de idade, casado e com dois filhos quando comecei a pensar em ter a própria agência. Continuei trabalhando mais um ano até a ideia amadurecer e, enquanto isso, aproveitava para conhecer todas as áreas ligadas ao turismo, não só a comercial. Até que, no início de 1987, reuni minhas economias para abrir a Master Turismo com outros dois sócios, também experientes na área.

A primeira unidade da Master ocupava um imóvel alugado em Belo Horizonte. Tinha apenas dois funcionários e mesmo assim as coisas foram tão bem que, antes de completar um ano, já planejávamos a abertura de uma filial. E foi o que fizemos. Escolhemos a cidade de Contagem, perto das indústrias, porque eu tinha um elo muito forte com essa região.

Nessa época, um dos sócios resolveu deixar a empresa e compramos a parte dele. Cinco anos depois, a sócia que havia permanecido comigo também quis sair. Então comprei a parte dela e fiquei com 100% do negócio. Foi um período de trabalho sem des­canso. Já estávamos com 30 funcionários e a terceira filial em pleno funcionamento, também em Minas, na cidade de Ipatinga, perto da Usiminas, empresa da qual éramos parceiros.

O início foi difícil, mas sempre estive rodeado de bons profissionais, algo fundamental para empreender nesse mercado. Não se trata de apenas emitir os bilhetes aéreos, é preciso se envolver, porque os passageiros querem conhecer seu agente. E essa é uma das razões de a Master ter continuado a crescer.

Em 1992, mudamos finalmente para uma sede própria e começamos a diversificar o negócio. Além de atuar com lazer e corporativo, passamos a atender eventos e receptivo. A ideia era trazer europeus para o Brasil, porque havíamos aberto um escritório em Portugal, mas rapidamente começamos a atender todos os países e o Brasil inteiro.

Depois de abrir as filiais em Minas, resolvi entrar em São Paulo, pois achava que a cidade poderia suplantar Minas. Na época quase não se falava em franquias, somente em unidades próprias ou parcerias. Depois fomos para Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Vitória.

As unidades de Curitiba e Brasília não tiveram bom resultado e fecharam. E nossa força era tamanha em Minas que São Paulo acabou ficando em segundo plano.

A Master é líder em Minas Gerais porque está bem estruturada e encontramos as pessoas certas para gerenciar os escritórios. Minha mulher cuida do departamento de RH e temos quatro diretorias: comercial, administrativo-financeira, de novos negócios e eventos e incentivos.

Além disso, conhecemos o negócio em profundidade e trabalhamos com seriedade. Não é à toa que sempre crescemos quase dois dígitos ao ano e completamos 28 anos de trajetória com 16 filiais e quase 300 funcionários.

Mais de 50% do nosso negócio é atender médias e grandes empresas para gerenciar seus custos de viagem, os quais, às vezes, chegam a ser iguais aos gastos com a folha de pagamentos ou a compra de matéria-prima. Assessoramos em passagens, locação de veículos, hotéis, espaço para eventos etc. Hoje, a internet é nossa principal ferramenta e desenvolvemos um aplicativo para atender os clientes.

Tenho dois filhos homens, de 35 e 32 anos, do primeiro casamento, e uma filha de 15. Os dois mais velhos trabalham comigo e nossa relação é boa, mas fizemos um pacto na família de que serei substituído por um profissional do mercado. A Fundação Dom Cabral nos ajudou nisso. Por enquanto, não quero parar de trabalhar, mas penso em presidir um conselho administrativo mais adiante.

As viagens de lazer são as mais prazerosas, porque em geral o cliente está realizando um sonho. Aliás, viajar faz parte da minha vida. Além das viagens a trabalho, vou para fora com um grupo de amigos duas vezes por ano. Em 2015, os destinos escolhidos são o Japão e a Coreia do Sul. Em qualquer situação, fico ligado em tudo, observo os hotéis, os restaurantes, o transporte, a infraestrutura.

O potencial turístico do Brasil é muito grande, ainda mais com a ­ascensão da classe média na última década. Hoje são 100 milhões de pessoas viajando pelo Brasil; em 2020, a expectativa é que sejam 200 milhões. A Master quer acompanhar esse mercado de perto — mantendo a liderança em Minas e expandindo com força para outros estados."

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São Paulo - Quando chegou ao Brasil, no início da década de 70, o português Fernando Dias tinha 21 anos e trazia na bagagem apenas as viagens pela Europa, quatro idiomas e a vontade de empreender. Nessa época, em Minas Gerais, onde foi morar, despontava um polo de desenvolvimento industrial, com a instalação de montadoras e siderúrgicas.

Depois de 15 anos de trabalho em empresas de turismo , Dias aproveitou esse ambiente propício ao turismo corporativo para montar a própria agência em Belo Horizonte. Hoje, a Master Turismo é líder em Minas, tem 16 filiais, quase 300 funcionários e, além da agência e da operadora, atua com intercâmbio, eventos e receptivo. Aos 64 anos, Dias conta como aprendeu que trabalhar com turismo não é só viajar.

"Nasci em Portugal e, aos 17 anos, saí do país para não fazer o serviço militar obrigatório, que era de quatro anos. Naquela época, final dos anos 60, alistar-se significava ir para as colônias portuguesas, onde havia guerrilhas para obter a independência. Como eu, milhares de jovens fugiram do alistamento. Fiquei três anos perambulando pela Europa, Espanha, Inglaterra e, principalmente, França. Entrava e saía de Portugal clandestinamente só para ver minha família.

Quando estava quase me entregando ao serviço militar, pois minha vida tinha ficado muito confusa, conheci uma brasileira de Minas Gerais e começamos a namorar. Não pensava em vir para o Brasil, mas ela me convenceu. Até porque meu passapor­te logo iria vencer e eu não poderia renová-lo sem me apresentar ao governo. Meus pais não queriam que eu partisse. Eles são de um vilarejo chamado Viana de Castelo e achavam que seria uma mudança muito grande.

Uma vez em Minas, logo me identifiquei com o jeito de ser do brasileiro, mais aberto. Mas estava difícil de manter meu padrão de vida, pois não tinha uma atividade profissional definida e precisava me virar fazendo pequenos trabalhos em troca de um salário mínimo. A meu favor, eu tinha o fato de ser uma pessoa viajada, ter andado pela Europa toda e falar quatro idiomas, o que acabou me levando para uma agência de viagens.

Era uma agência pequena, e minha primeira função foi a de atendente. Depois passei para a área internacional e comecei a acompanhar grupos ao exterior, principalmente Europa e Estados Unidos — menos Portugal. Eu já tinha conseguido renovar meu passaporte, mas ainda não podia entrar em Portugal.

Meu trabalho logo ficou conhecido no mercado por causa de minha dedicação e também porque naquela época havia só umas cinco agências em Belo Horizonte. Após dois anos, fui convidado a trabalhar na companhia aérea TAP.

Parecia promissor, então aceitei, mas não gostei da expe­riência e fiquei só um ano. Sentia falta de um turismo com mais amplitude. A companhia era muito focada em passagens aéreas e quase só atendia Portugal, um destino proibido para mim.

Em 1976, fui trabalhar numa agência ligada a um banco de Minas Gerais. Nessa época, consegui resolver meu problema com Portugal. Dois anos antes, a Revolução dos Cravos tinha derrubado o salazarismo e o novo governo permitiu que as pessoas pagassem uma multa para regularizar a situação com o serviço militar.

Foi um período bem-sucedido nessa agência estatal, até que veio um convite irrecusável. Uma empresa de turismo me chamou para gerenciar a unidade que estava abrindo em Contagem, cidade próxima de onde a Fiat está instalada. Nesse emprego adquiri a grande experiência que tenho hoje, principalmente com o mercado corporativo.

Dez anos depois, em 1986, já estava com 35 anos de idade, casado e com dois filhos quando comecei a pensar em ter a própria agência. Continuei trabalhando mais um ano até a ideia amadurecer e, enquanto isso, aproveitava para conhecer todas as áreas ligadas ao turismo, não só a comercial. Até que, no início de 1987, reuni minhas economias para abrir a Master Turismo com outros dois sócios, também experientes na área.

A primeira unidade da Master ocupava um imóvel alugado em Belo Horizonte. Tinha apenas dois funcionários e mesmo assim as coisas foram tão bem que, antes de completar um ano, já planejávamos a abertura de uma filial. E foi o que fizemos. Escolhemos a cidade de Contagem, perto das indústrias, porque eu tinha um elo muito forte com essa região.

Nessa época, um dos sócios resolveu deixar a empresa e compramos a parte dele. Cinco anos depois, a sócia que havia permanecido comigo também quis sair. Então comprei a parte dela e fiquei com 100% do negócio. Foi um período de trabalho sem des­canso. Já estávamos com 30 funcionários e a terceira filial em pleno funcionamento, também em Minas, na cidade de Ipatinga, perto da Usiminas, empresa da qual éramos parceiros.

O início foi difícil, mas sempre estive rodeado de bons profissionais, algo fundamental para empreender nesse mercado. Não se trata de apenas emitir os bilhetes aéreos, é preciso se envolver, porque os passageiros querem conhecer seu agente. E essa é uma das razões de a Master ter continuado a crescer.

Em 1992, mudamos finalmente para uma sede própria e começamos a diversificar o negócio. Além de atuar com lazer e corporativo, passamos a atender eventos e receptivo. A ideia era trazer europeus para o Brasil, porque havíamos aberto um escritório em Portugal, mas rapidamente começamos a atender todos os países e o Brasil inteiro.

Depois de abrir as filiais em Minas, resolvi entrar em São Paulo, pois achava que a cidade poderia suplantar Minas. Na época quase não se falava em franquias, somente em unidades próprias ou parcerias. Depois fomos para Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Vitória.

As unidades de Curitiba e Brasília não tiveram bom resultado e fecharam. E nossa força era tamanha em Minas que São Paulo acabou ficando em segundo plano.

A Master é líder em Minas Gerais porque está bem estruturada e encontramos as pessoas certas para gerenciar os escritórios. Minha mulher cuida do departamento de RH e temos quatro diretorias: comercial, administrativo-financeira, de novos negócios e eventos e incentivos.

Além disso, conhecemos o negócio em profundidade e trabalhamos com seriedade. Não é à toa que sempre crescemos quase dois dígitos ao ano e completamos 28 anos de trajetória com 16 filiais e quase 300 funcionários.

Mais de 50% do nosso negócio é atender médias e grandes empresas para gerenciar seus custos de viagem, os quais, às vezes, chegam a ser iguais aos gastos com a folha de pagamentos ou a compra de matéria-prima. Assessoramos em passagens, locação de veículos, hotéis, espaço para eventos etc. Hoje, a internet é nossa principal ferramenta e desenvolvemos um aplicativo para atender os clientes.

Tenho dois filhos homens, de 35 e 32 anos, do primeiro casamento, e uma filha de 15. Os dois mais velhos trabalham comigo e nossa relação é boa, mas fizemos um pacto na família de que serei substituído por um profissional do mercado. A Fundação Dom Cabral nos ajudou nisso. Por enquanto, não quero parar de trabalhar, mas penso em presidir um conselho administrativo mais adiante.

As viagens de lazer são as mais prazerosas, porque em geral o cliente está realizando um sonho. Aliás, viajar faz parte da minha vida. Além das viagens a trabalho, vou para fora com um grupo de amigos duas vezes por ano. Em 2015, os destinos escolhidos são o Japão e a Coreia do Sul. Em qualquer situação, fico ligado em tudo, observo os hotéis, os restaurantes, o transporte, a infraestrutura.

O potencial turístico do Brasil é muito grande, ainda mais com a ­ascensão da classe média na última década. Hoje são 100 milhões de pessoas viajando pelo Brasil; em 2020, a expectativa é que sejam 200 milhões. A Master quer acompanhar esse mercado de perto — mantendo a liderança em Minas e expandindo com força para outros estados."

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