A inspiração da Patroni Pizza foi um pai desempregado
Nos anos 80, Rubens Augusto Junior montou uma pizzaria em São Paulo para dar emprego a seu pai, que infartou depois de ser demitido. Foi o início da Patroni Pizza, uma rede de pizzarias que deve faturar 370 milhões de reais em 2013
Da Redação
Publicado em 2 de janeiro de 2014 às 05h00.
São Paulo - É impossível não sentir fome durante uma conversa com o economista Rubens Augusto Junior, de 55 anos. Ele fala com muito entusiasmo das receitas de sua rede de pizzarias , a Patroni Pizza, de São Paulo ("Você precisa provar a que leva atum e queijo cremoso, é uma delícia!").
Junior criou a Patroni Pizza em 1984 para empregar seu pai, que sofreu um infarto depois de ser demitido de uma fábrica de móveis . "Juntei todas as economias e chamei meus cunhados como sócios", diz ele. Em 2013, a Patroni Pizza deve faturar 370 milhões de reais — 32% mais do que em 2012 — e chegar a 179 lojas.
Durante este depoimento a Exame PME, Junior beliscou alguns pedaços de uma minipizza de queijo e tomate e contou a história de sua empresa.
"Nasci em 1958 no Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo. Sou o segundo filho de um torneiro mecânico e de uma dona de casa. Minha família era muito humilde, por isso passei a infância morando com meus pais na casa de meus avós maternos.
Quando era moço e chegou a hora de prestar vestibular, não sabia direito que carreira queria seguir. Um primo que era diretor jurídico de um banco me aconselhou a estudar economia. Segundo ele, era a profissão do futuro.
Acabei entrando na faculdade de economia em 1977 e logo arranjei emprego de auxiliar de contabilidade na Companhia Energética de São Paulo. O salário dava para pagar os estudos e até sobrava para ajudar em casa. Pouco a pouco fui subindo na hierarquia da empresa. Em sete anos me tornei chefe da divisão de captação de recursos para a construção e melhoria de usinas.
Em 1984, meu pai foi demitido da fábrica de móveis em que trabalhava. Nessa época, o Brasil vivia um período econômico muito difícil. Meu pai, que já tinha passado dos 50 anos, não conseguia outro trabalho de jeito nenhum. Ele caiu numa depressão profunda e infartou. Os médicos disseram que ter uma atividade era essencial para que ele melhorasse.
Resolvi abrir um negócio próprio para meu pai tomar conta. Mas o que poderia ser? No início, nem eu sabia direito. Uma noite, voltando do trabalho, vi um sobrado azul com uma placa de "Aluga-se" numa esquina do bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo, e me apaixonei.
Coloquei na cabeça que aquele era um ótimo ponto para uma pizzaria de bairro. Eu era conhecido por meus amigos e parentes como o melhor pizzaiolo amador da turma. Não precisei pensar muito para decidir o que seria a empresa. Tinha de ser uma pizzaria.
Juntei minhas economias e chamei dois cunhados para ser sócios. Inauguramos a primeira Patroni Pizza no sobrado azul do Paraíso. Logo ficamos conhecidos porque entregávamos em domicílio, algo que não era muito comum naquela época. Meu pai coordenava os entregadores, que saíam de bicicleta com várias pizzas na garupa. Ele ganhou vida novamente.
Mais tarde, comprei as cotas de um de meus cunhados para dá-las a meu pai. Foi um presente por ele ter ajudado a pôr a empresa em pé. Mesmo com o novo negócio, continuei trabalhando na companhia de energia. Saía às 18 horas do escritório e ficava na pizzaria até alta madrugada resolvendo problemas administrativos.
Todos os abacaxis sobravam para mim. Certa vez, comprei uma Mobilete para fazer entregas distantes. Dividi o pagamento em 24 parcelas para não pesar demais nas despesas. Na primeira noite, nosso entregador foi assaltado por um morador de uma favela que levou a Mobilete. Chamamos a polícia, mas não deu em nada.
Um dia, decidi dar plantão na entrada da favela até descobrir quem era o ladrão. Quando vi a moto em frente a um bar, não tive dúvidas. Esperei o pessoal se distrair, subi na Mobilete e saí acelerando, rezando para não ser visto por ninguém.
No começo dos anos 90 inauguramos o segundo restaurante da Patroni Pizza, no Planalto Paulista, bairro na zona sul da cidade. Em seguida, inauguramos mais um no Itaim Bibi, na zona oeste. Lá, começamos a oferecer rodízio de pizzas. Foi um sucesso. Nos fins de semana, formavam-se filas de famílias para o jantar.
Com sorte, os clientes conseguiam ver um ou outro artista famoso por lá. O ano de 1997 foi muito difícil para mim. Meu pai e meu cunhado que ainda tinha uma parte da empresa morreram. Fiquei sozinho na Patroni Pizza. Pedi demissão da companhia de energia para me dedicar apenas ao negócio.
Naquele ano, criamos nossa primeira loja de shopping, em Santo André, na Grande São Paulo. Meu pai e meu cunhado chegaram a aprovar comigo o projeto da loja, mas não puderam vê-lo concluído. Inaugurar o restaurante sozinho foi muito triste, mas era meu compromisso continuar o trabalho que eles ajudaram a começar.
Uma coisa me intrigava nas lojas da Patroni Pizza. Vendíamos muito bem à noite, mas o resto do dia era uma tristeza. Os restaurantes ficavam às moscas porque o pessoal, em geral, não tem hábito de comer pizza no almoço. Decidi montar um cardápio com massas, estrogonofe e porções com petiscos. Minha ideia era atrair a atenção não só no jantar mas também no almoço e no happy hour.
Em 2003, já com nove lojas próprias, comecei a receber muitas ligações de gente interessada em abrir franquias da Patroni Pizza. A ideia de adotar esse sistema não me agradava muito. Temia que os franqueados não zelassem pela marca que eu criei com tanto esforço. Estudei o assunto e aprendi que seria possível padronizar a operação. Isso me deu segurança e resolvi começar a expansão por franquias.
Montei uma cozinha central, onde os alimentos são produzidos nas porções exatas, prontas para ser finalizadas. Com isso ganhamos escala e pudemos aumentar rapidamente o número de restaurantes. Temos crescido cerca de 30% ao ano nos últimos dez anos. Já temos quase 180 lojas e pretendemos chegar a 500 até 2018.
Tenho recebido convites de investidores para abrir lojas no exterior, mas meu foco hoje é o Brasil. Há um espaço enorme para crescer aqui. Sem capital externo, tornei a Patroni Pizza uma das maiores redes de pizzarias do Brasil. No fundo, digo isso para me convencer de que não é hora de ter sócios. Morro de medo de ter de negociar com alguém uma decisão que eu jamais delegaria.
Dois de meus três filhos estão envolvidos com a Patroni Pizza. O mais velho, Rafael, de 30 anos, começou como ajudante de cozinha. Hoje, é diretor de marketing. Patrícia, de 27, foi atendente numa das lojas e agora trabalha na assessoria jurídica. Todos começaram de baixo, para entender como funciona cada processo da empresa. A mais nova, Priscila, de 16 anos, ainda está pensando em que carreira vai seguir.
Com meus filhos próximos à administração, posso me dar ao luxo de fazer o que mais gosto atualmente — viajar vários dias com minha mulher, Helena. Percorremos vários lugares do mundo e sempre tentamos visitar bons restaurantes para conhecer a culinária local. Em Nova York, por exemplo, um dos meus favoritos é um italiano que se chama Carmine’s."
São Paulo - É impossível não sentir fome durante uma conversa com o economista Rubens Augusto Junior, de 55 anos. Ele fala com muito entusiasmo das receitas de sua rede de pizzarias , a Patroni Pizza, de São Paulo ("Você precisa provar a que leva atum e queijo cremoso, é uma delícia!").
Junior criou a Patroni Pizza em 1984 para empregar seu pai, que sofreu um infarto depois de ser demitido de uma fábrica de móveis . "Juntei todas as economias e chamei meus cunhados como sócios", diz ele. Em 2013, a Patroni Pizza deve faturar 370 milhões de reais — 32% mais do que em 2012 — e chegar a 179 lojas.
Durante este depoimento a Exame PME, Junior beliscou alguns pedaços de uma minipizza de queijo e tomate e contou a história de sua empresa.
"Nasci em 1958 no Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo. Sou o segundo filho de um torneiro mecânico e de uma dona de casa. Minha família era muito humilde, por isso passei a infância morando com meus pais na casa de meus avós maternos.
Quando era moço e chegou a hora de prestar vestibular, não sabia direito que carreira queria seguir. Um primo que era diretor jurídico de um banco me aconselhou a estudar economia. Segundo ele, era a profissão do futuro.
Acabei entrando na faculdade de economia em 1977 e logo arranjei emprego de auxiliar de contabilidade na Companhia Energética de São Paulo. O salário dava para pagar os estudos e até sobrava para ajudar em casa. Pouco a pouco fui subindo na hierarquia da empresa. Em sete anos me tornei chefe da divisão de captação de recursos para a construção e melhoria de usinas.
Em 1984, meu pai foi demitido da fábrica de móveis em que trabalhava. Nessa época, o Brasil vivia um período econômico muito difícil. Meu pai, que já tinha passado dos 50 anos, não conseguia outro trabalho de jeito nenhum. Ele caiu numa depressão profunda e infartou. Os médicos disseram que ter uma atividade era essencial para que ele melhorasse.
Resolvi abrir um negócio próprio para meu pai tomar conta. Mas o que poderia ser? No início, nem eu sabia direito. Uma noite, voltando do trabalho, vi um sobrado azul com uma placa de "Aluga-se" numa esquina do bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo, e me apaixonei.
Coloquei na cabeça que aquele era um ótimo ponto para uma pizzaria de bairro. Eu era conhecido por meus amigos e parentes como o melhor pizzaiolo amador da turma. Não precisei pensar muito para decidir o que seria a empresa. Tinha de ser uma pizzaria.
Juntei minhas economias e chamei dois cunhados para ser sócios. Inauguramos a primeira Patroni Pizza no sobrado azul do Paraíso. Logo ficamos conhecidos porque entregávamos em domicílio, algo que não era muito comum naquela época. Meu pai coordenava os entregadores, que saíam de bicicleta com várias pizzas na garupa. Ele ganhou vida novamente.
Mais tarde, comprei as cotas de um de meus cunhados para dá-las a meu pai. Foi um presente por ele ter ajudado a pôr a empresa em pé. Mesmo com o novo negócio, continuei trabalhando na companhia de energia. Saía às 18 horas do escritório e ficava na pizzaria até alta madrugada resolvendo problemas administrativos.
Todos os abacaxis sobravam para mim. Certa vez, comprei uma Mobilete para fazer entregas distantes. Dividi o pagamento em 24 parcelas para não pesar demais nas despesas. Na primeira noite, nosso entregador foi assaltado por um morador de uma favela que levou a Mobilete. Chamamos a polícia, mas não deu em nada.
Um dia, decidi dar plantão na entrada da favela até descobrir quem era o ladrão. Quando vi a moto em frente a um bar, não tive dúvidas. Esperei o pessoal se distrair, subi na Mobilete e saí acelerando, rezando para não ser visto por ninguém.
No começo dos anos 90 inauguramos o segundo restaurante da Patroni Pizza, no Planalto Paulista, bairro na zona sul da cidade. Em seguida, inauguramos mais um no Itaim Bibi, na zona oeste. Lá, começamos a oferecer rodízio de pizzas. Foi um sucesso. Nos fins de semana, formavam-se filas de famílias para o jantar.
Com sorte, os clientes conseguiam ver um ou outro artista famoso por lá. O ano de 1997 foi muito difícil para mim. Meu pai e meu cunhado que ainda tinha uma parte da empresa morreram. Fiquei sozinho na Patroni Pizza. Pedi demissão da companhia de energia para me dedicar apenas ao negócio.
Naquele ano, criamos nossa primeira loja de shopping, em Santo André, na Grande São Paulo. Meu pai e meu cunhado chegaram a aprovar comigo o projeto da loja, mas não puderam vê-lo concluído. Inaugurar o restaurante sozinho foi muito triste, mas era meu compromisso continuar o trabalho que eles ajudaram a começar.
Uma coisa me intrigava nas lojas da Patroni Pizza. Vendíamos muito bem à noite, mas o resto do dia era uma tristeza. Os restaurantes ficavam às moscas porque o pessoal, em geral, não tem hábito de comer pizza no almoço. Decidi montar um cardápio com massas, estrogonofe e porções com petiscos. Minha ideia era atrair a atenção não só no jantar mas também no almoço e no happy hour.
Em 2003, já com nove lojas próprias, comecei a receber muitas ligações de gente interessada em abrir franquias da Patroni Pizza. A ideia de adotar esse sistema não me agradava muito. Temia que os franqueados não zelassem pela marca que eu criei com tanto esforço. Estudei o assunto e aprendi que seria possível padronizar a operação. Isso me deu segurança e resolvi começar a expansão por franquias.
Montei uma cozinha central, onde os alimentos são produzidos nas porções exatas, prontas para ser finalizadas. Com isso ganhamos escala e pudemos aumentar rapidamente o número de restaurantes. Temos crescido cerca de 30% ao ano nos últimos dez anos. Já temos quase 180 lojas e pretendemos chegar a 500 até 2018.
Tenho recebido convites de investidores para abrir lojas no exterior, mas meu foco hoje é o Brasil. Há um espaço enorme para crescer aqui. Sem capital externo, tornei a Patroni Pizza uma das maiores redes de pizzarias do Brasil. No fundo, digo isso para me convencer de que não é hora de ter sócios. Morro de medo de ter de negociar com alguém uma decisão que eu jamais delegaria.
Dois de meus três filhos estão envolvidos com a Patroni Pizza. O mais velho, Rafael, de 30 anos, começou como ajudante de cozinha. Hoje, é diretor de marketing. Patrícia, de 27, foi atendente numa das lojas e agora trabalha na assessoria jurídica. Todos começaram de baixo, para entender como funciona cada processo da empresa. A mais nova, Priscila, de 16 anos, ainda está pensando em que carreira vai seguir.
Com meus filhos próximos à administração, posso me dar ao luxo de fazer o que mais gosto atualmente — viajar vários dias com minha mulher, Helena. Percorremos vários lugares do mundo e sempre tentamos visitar bons restaurantes para conhecer a culinária local. Em Nova York, por exemplo, um dos meus favoritos é um italiano que se chama Carmine’s."