O delivery será dos humanos ou robôs? SoftBank não quer esperar para ver
Enquanto investe em serviços com motoboys, como a brasileira Loggi, “fundo dos fundos” faz aposta em startup de delivery autônomo
Mariana Fonseca
Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Uma regra básica dos investimentos é não colocar todos os ovos na mesma cesta. O SoftBank , gigante japonês com um fundo de investimento de bolsos com 100 bilhões de dólares, leva a máxima ao pé da letra. Até dentro de um mesmo mercado, como o de delivery, faz apostas aparentemente contraditórias.
Depois de investir em empreendimentos baseados nos motoboys, como a brasileira Loggi, anunciou nesta semana um aporte de 940 milhões de dólares (na cotação atual, cerca de 3,5 bilhões de reais) na startup de delivery autônomo Nuro.
Tais negócios, porém, possuem em algo em comum: o uso da tecnologia. Esta é a aposta do SoftBank para recuperar seus bilhões de dólares investidos antes que a fonte de capital se esgote.
O poder dos robôs
Criada em 2016, a Nuro afirma que sua missão é “ acelerar os benefícios da robótica para o dia a dia ”. Seu primeiro passo é um veículo elétrico e sem motorista para entregas de curta distância com destino ao consumidor final. Esse trecho é conhecido no mercado de delivery como last mile, ou última milha. Hoje, a Nuro possui frotas em estados como Arizona, Califórnia e Texas.
De acordo com o site de tecnologia TechCrunch, o veículo autônomo da Nuro pode suportar até seis sacolas de compras. Elas são divididas em dois compartimentos, como se vê abaixo:
A rodada de captação anterior do negócio foi bem menor, ainda que significativa. Fundos como Gaorong Capital e Greylock Partners investiram 92 milhões de dólares na Nuro em seu série A. Com o novo aporte do SoftBank, o total investido na startup passa de um bilhão de dólares.
Além do potencial de mercado, outro fator que pode ter atraído o fundo bilionário japonês são os fundadores da Nuro. O negócio foi criado por Dave Ferguson e Jiajun Zhu, antigos funcionários da Waymo, divisão de carros autônomos da gigante de tecnologia Google. O negócio possui 300 funcionários, um terço deles com contratos fixos. “O time de qualidade mundial da Nuro conseguiu escalar sua tecnologia de direção autônoma do laboratório para as ruas”, afirmou em comunicado à imprensa Michael Ronen, sócio da divisão de investimentos do SoftBank.
A Nuro usará seu investimento para expandir entregas, adicionar parceiros, contratar funcionários e aumentar sua frota de robôs entregadores e motoristas. Tais movimentos possuem precedentes. Em outubro do ano passado, a Nuro licenciou sua tecnologia para a empresa americana de caminhões autônomos Ike. Em dezembro, a startup fez uma parceria com a varejista americana Kroger e trocou a frota de Toyota Prius autônomos da varejista pela de veículos autônomos próprios da Nuro, batizados de R1, no estado do Arizona.
O que acontece com os motoboys?
Negócios como a Nuro podem significar o declínio dos motoboys? Para o SoftBank, a resposta por enquanto é negativa. Em outubro do ano passado, seu fundo de investimentos, o maior de private equity do planeta, liderou um aporte de 400 milhões de reais na brasileira Loggi, que usa motoboys para entregar de documentos e produtos do comércio eletrônico até comida.
O mercado brasileiro de entregas é especialmente atrativo: o país gasta o equivalente a 12,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em logística, do armazenamento ao transporte. Nos Estados Unidos, o percentual é de 7,8%. A Loggi faz hoje três milhões de entregas mensais em 33 cidades, com 10 mil motofretistas e motoristas de vans.
Com a ajuda do SoftBank, o negócio brasileira projeta 95% de cobertura nacional de entregas no mesmo dia ou no dia seguinte até 2020. Outra expectativa é atingir cinco milhões de entregas mensais pelo país nos próximos três anos.
A aposta em aplicativos de entrega não é novidade para o fundo da gigante japonesa. No início deste ano, o Vision Fund liderou um investimento de 535 milhões de dólares na DoorDash, um aplicativo de entrega de alimentos com sede em São Francisco. Também comprou 15% da gigante Uber, dona do spin-off Uber Eats.
Em comum a todas essas empresas de delivery, incluindo a autônoma Nuro, está o investimento em tecnologia. Mesmo que não planeje entregadores robóticos, a Loggi investirá em algoritmos que conseguirão antecipar padrões de desvio de rota por conta de condições climáticas e de trânsito, por exemplo. Com isso, notificam o motorista e o consumidor com maior antecedência e melhoram a operação da Loggi.
No lugar de definir a aposta do SoftBank em delivery humanizado ou computadorizado, é mais preciso dizer que seu fundo aposta na tecnologia para o mercado de entrega de encomendas.
Até agora, o SoftBank usou metade de seus 100 bilhões de dólares destinados a investimentos em negócios inovadores. O dinheiro poderá secar até 2020. A meta é que ele retorne de algum lado, seja este o das pessoas ou o dos robôs.