Nubank cartão (Nubank/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 09h51.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2017 às 16h39.
Brasília - Um dos emissores de cartão de crédito que mais crescem no País, o Nubank ameaça fechar as portas se o Banco Central confirmar, nesta terça-feira, 20, uma mudança drástica no prazo de pagamento das vendas aos lojistas.
A cofundadora da empresa, Cristina Junqueira, afirma que reduzir de 30 para 2 dias o prazo, como vem sendo ventilado em Brasília, vai representar o fim do negócio.
A intenção de mudar o prazo foi oficializada na quinta-feira pelo presidente Michel Temer e pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante lançamento do pacote para impulsionar a economia.
Atualmente, quando um consumidor paga algo com cartão, o lojista leva 30 dias para receber - prazo maior que o visto em outros países, como os EUA, onde a demora é de dois dias. Para o governo, o encurtamento do processo vai favorecer o varejista e contribuir para a retomada da atividade.
O problema, segundo Cristina, é que a mudança trará um custo adicional para todos os emissores de cartões de crédito, do Nubank aos bancos maiores, que dominam o mercado.
A diferença é que o Nubank e os emissores menores não têm a mesma capacidade de financiamento de gigantes como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.
"Atualmente, um cliente que usa o cartão pagará a fatura, em média, 26 dias depois. Assim, o Nubank, como emissor, receberá o dinheiro apenas após este prazo", explica Cristina. "Com o dinheiro, pagamos o adquirente (operador do cartão), que leva mais dois ou três dias para pagar o varejista. Isso dá o prazo de 30 dias", descreve.
A receita do Nubank, que já emitiu mais de 1 milhão de cartões desde 2014, vem de um porcentual descontado do valor repassado ao lojista, de aproximadamente 5%. Cerca de 1,5% fica para o Nubank e o restante para a adquirente (como Cielo, Rede e GetNet) e para a bandeira (como Mastercard e Visa).
Se o prazo for encurtado para dois dias, alega Cristina, o Nubank terá de pagar o adquirente antes mesmo de receber o pagamento da fatura pelo cliente. Para isso, será preciso pegar recursos no mercado.
"Mudar dramaticamente, reduzir o prazo para dois dias, isso seria apocalíptico para a gente", diz Cristina. Segundo ela, mesmo que o prazo fosse reduzido para 15 dias, e não dois, o Nubank não teria como sobreviver.
"Nós já fizemos algumas simulações. Com dois dias é apagar a luz e fechar a porta. Com 15 dias, a gente precisaria de quase R$ 1 bilhão de capital adicional do dia para a noite."
Cristina afirma não ver espaço para conseguir, no mercado brasileiro, uma capitalização deste valor no curto prazo. "E, mesmo que os outros bancos emprestassem o dinheiro, eu não tenho margem para pagar o custo mensal da dívida", diz. "Hoje, meu custo de capital é bem mais alto que 1,5%."
Na terça-feira, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, deverá anunciar medidas ligadas ao crédito e a outras áreas de atuação da instituição. Questionado neste domingo, 18, pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a respeito das mudanças na área de cartões, o BC não se pronunciou.
No mercado financeiro, analistas acreditam que a redução do prazo de pagamento de lojistas pode ser fatal não apenas para alguns emissores, mas também para adquirentes menores.
Há ainda preocupação com a operação de cartões de alguns varejistas que não possuem parceria com grandes bancos, como a Renner. Questionada, a empresa não se pronunciou.
O Estado apurou que a questão do prazo para pagamento aos varejistas está sendo estudada e que o governo pode optar por mudanças nos juros do rotativo do cartão de crédito, e não necessariamente no prazo para pagar o varejista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.