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“Não acredito em empreendedores que dão jeitinhos”, diz especialista

Marcus Andrade, que foi responsável por selecionar empresas para a Endeavor, fala sobre como ter sucesso em novos negócios

Marcus Andrade: negócio próprio depois da experiência com outros empreendedores (Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2011 às 13h27.

São Paulo – Com 28 anos e quatro de experiência como membro da Endeavor, instituição que apoia empresas com alto potencial de crescimento, Marcus Andrade resolveu empreender pela primeira vez e também sente na pele o desafio de ser empresário. “É muito legal todo esse processo de ter uma ideia que era um pedaço de papel e ter que vender esse projeto”, conta.

O Guidu, mistura de rede social com guia de entretenimento, é resultado de 2 milhões de reais em investimento e mais de um ano de trabalho. “Acredito muito no modelo da internet”, diz Andrade, que tem como sócio no empreendimento um outro membro da Endeavor, Paulo Veras.

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Como base, Andrade usa a experiência na Endeavor, onde foi responsável por selecionar 12 entre 1200 empresas que passaram por análise para conseguir apoio. Entre os critérios para ser aprovado, Andrade reforça a necessidade de ser ético. “Não acredito no sucesso de empreendedor que tiver qualquer tipo de jeitinho, que estiver fora da lei”, conta.

Em entrevista a EXAME.com, Andrade fala sobre erros e acertos dos pequenos empresários, o cenário do empreendedorismo no Brasil e os novos negócios na web.

EXAME.com - Como foi a experiência que você teve na Endeavor?

Marcus Andrade - Sempre acompanhei a Endeavor desde a época de faculdade [Marcus é graduado em Administração pela FGV] e, na época, trabalhava na Telefônica e queria buscar novas coisas quando fiquei sabendo de uma vaga lá. Comecei trabalhando na área de busca e seleção de novos projetos para recebem apoio. Em dois anos, avaliei entre mil e 1200 empresas e selecionei doze.

EXAME.com – O que fez esses doze empreendedores serem escolhidos?

Marcus Andrade – As empresas eram avaliadas em quatro critérios. Primeiro, o faturamento tinha que estar entre 1 milhão e 30 milhões de reais por ano. Depois, o perfil do empreendedor, ele precisa ser ético, responsável, pensar grande, fazer as coisas direito, querer construir algo diferente. O terceiro ponto é avaliar o potencial de crescimento, empresas que vão ser muito grandes, e o último é inovação, não precisa inventar nada mas, na indústria em que a empresa está inserida, tem que ter algo diferente, que seja sustentável e ajude no crescimento.

Todo e qualquer empreendedor que vá montar um negócio tem que pensar grande e querer fazer algo diferente. Aliás, pensar grande ou pequeno dá o mesmo trabalho. Não adianta querer fazer algo muito grande de forma errada, tem que estar dentro da lei, da ética. Não acredito no sucesso de empreendedor que tiver qualquer tipo de jeitinho, que estiver fora da lei.

EXAME.com – Quais são os principais erros dos empreendedores?

Marcus Andrade – O primeiro problema é ter um modelo de negócio não formatado. Quando o empreendedor está no começo, ele fala sim para tudo porque precisa faturar. O empresário que não consegue falar não, também não cresce de forma sustentável. Quem faz tudo, acaba perdendo o foco do negócio.

Outro ponto é a falta de organização societária. No início, ele está pouco preocupado com a organização da empresa, mas já precisa prever problemas e se organizar para crescer. Além disso, é entrar em uma indústria sem fazer nada diferente. Esse não é o melhor modelo.


EXAME.com – Quais casos te chamaram mais atenção e servem de exemplo?

Marcus Andrade – Acho que tem três histórias que eu acho muito bacanas. A do Spoleto, que foi selecionado bem no inicio do projeto, mostra como empreendedores com vontade de fazer a diferença podem construir um case espetacular.

Outra é da Poit Energia, que exemplifica a inovação. O empreendedor é um cara fantástico, que viu uma oportunidade diferente, oferecer um pacote completo de aluguel de energia e infraestrutura.

E o pessoal da SuperBach, que desenvolveu bactérias que comem dejetos. Essa empresa foi formatada olhando a natureza e hoje tem vários clientes grandes e parceiros.

EXAME.com – Muita gente tem dito que esse é o ano do empreendedorismo no Brasil. Você concorda?

Marcus Andrade – O Brasil está passando por um amadurecimento econômico muito importante e isso favorece o empreendedorismo. Isso porque existe um ecossistema que colabora: uma economia sustentável e mais financiamentos, tanto de fontes governamentais quanto de outras modalidades, como o investimento semente.

O que eu acho que é mais difícil, mas o Brasil vem desenvolvendo bastante, é que a cultura empreendedora não é muito disseminada. As universidades formam profissionais, mas não empreendedores. Acredito que os próximos dez anos vão ser espetaculares e o empreendedorismo vai ser uma forma de crescimento sustentável da economia, já que novos negócios geram mais renda e empregos.

EXAME.com – Isso te levou a empreender?

Marcus Andrade – Abrir um negócio é algo que sempre me interessei e gostei, desde muito novo. Acho que dentro da Endeavor essa semente brotou, vendo diversos empreendedores com cases de sucesso e insucesso. Por isso, conversei internamente, saí e comecei a idealizar o que seria o Guidu. Acredito muito no modelo da internet e está sendo uma experiência pessoal e profissional muito enriquecedora.

Fizemos uma mistura de guia com redes sociais. Os guias tradicionais são 100% editorial. A gente acha que o conceito tem que ser colaborativo, esse movimento de troca de experiência já existia offline.

É um negócio que eu realmente gosto, que é entretenimento, e um desafio muito legal todo esse processo de ter uma ideia que era um pedaço de papel e ter que vender esse projeto. As pessoas têm que acreditar no modelo que construíram.


EXAME.com – Quanto tempo levou na concepção do seu modelo? Quais os próximos passos?

Marcus Andrade – Do inicio até a concepção foram três meses. Depois, mais oito ou nove na construção do site em si e agora estamos no ar há três meses.

Já estamos preparando a expansão do site. Entre janeiro e fevereiro, vamos estar no Rio de Janeiro, em Curitiba, Belo Horizonte, Uberlândia e Brasília. Até o final do ano a gente pretende ter entre 15 e 20 cidades.

EXAME.com – Como você avalia os novos negócios ligados à internet?

Marcus Andrade – Eu acredito que tem muito potencial. Se você avalia o mercado brasileiro após a bolha, poucas coisas legais surgiram. Em compensação, lá fora foi muito bom.

Acho que 2010 foi o ano que começou a estourar. Muita coisa que era prometida em 1999, de infraestrutura, como banda larga, hoje é realidade. As pessoas tem mais acesso à internet, que é mais barata. Os próximos anos da internet brasileira vão ser espetaculares.

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