Na Le Postiche até a herdeira teve de começar como estagiária
Sócia da Le Postiche, Alessandra Restaino iniciou na empresa da família como estagiária para chegar ao topo
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2019 às 16h16.
Alessandra Restaino começou a trabalhar na empresa da família há 27 anos como estagiária. Atuou na área de vendas, foi supervisora de loja, assumiu o marketing, compras, diretoria comercial e, por fim, a presidência da maior rede de lojas de artigos para viagem, bolsas e acessórios do país, a Le Postiche .
Não foi fácil chegar ao comando da companhia. Alessandra enfrentou a desconfiança de pessoas ao seu redor e precisou estudar e se preparar para o cargo.
“No passado, acreditavam que a empresa familiar precisava de um filho homem. Quando fiquei mais velha, casei e tive filhos, questionavam se meu marido assumiria o negócio. Já vinha me preparando e formando minha autoconfiança ao longo dos anos. Eu tive que estudar mais, me preparar muito mais e as pessoas sempre olhavam muito para mim. Não foi fácil, mas fui conquistando meu espaço”, conta.
Formada em administração de empresas com especialização em gestão estratégica pela Fundação Getúlio Vargas e em administração pela Kellogg University, além de especialização e varejo pela NRF, Alessandra hoje é sócia-diretora da empresa, que passa por um processo de profissionalização.
Em entrevista ao Jornal de Negócios, Alessandra compartilha sua experiência na empresa, que completou 40 anos em 2018.
Como é comandar uma empresa familiar? Você sentiu mais pressão por ser mulher?
Comandar uma empresa familiar é desafiador: a responsabilidade de perenizar o legado que já foi construído e garantir que essa marca se perpetue ao longo dos anos. Tive que alcançar cada etapa com muito aprendizado, com muitos desafios e fui conquistando meu autoconhecimento. Aprendendo com a experiência e me posicionando abertamente diante das questões.
Onde posso, tenho levado a bandeira da igualdade no mercado de trabalho, participo de fóruns e palestras sobre o papel da mulher como líder. Quero dar voz aos números que mostram as poucas mulheres em cargos de liderança. Chamar atenção para o problema é papel do líder hoje.
Na Le Postiche, temos um quadro forte de mulheres, mais de 90% dos colaboradores. Na diretoria, temos metade das cadeiras ocupadas por elas. Procuramos empoderar as funcionárias para que tomem suas decisões na carreira e assumam posições superiores.
Você implantou que tipos de mudança?
Fui responsável por muitas mudanças: introdução dos indicadores de gestão das lojas (como os de performance); implementação de visual merchandising (conceitos que aprendi na especialização na NRF); desenvolvi a marca própria e produto exclusivo (área de estilo); implantação da nossa MegaStore (a maior loja da América Latina do segmento no ano 2000); e ainda estive envolvida no reposicionamento da marca nos anos de 2008 e 2009 (mudança de portfólio, revisão do projeto arquitetônico, reposicionamento de branding da companhia).
Qual o modelo de negócio da Le Postiche?
Temos lojas próprias e trabalhamos com licenciamento. São 80 próprias e, aproximadamente, 140 lojas licenciadas. Estas últimas possuem o projeto arquitetônico da marca padronizado, calendário promocional unificado no Brasil, campanhas alinhadas, mesmo material de ponto de venda, portfólios e preços. Operamos também um e-commerce.
Qual o principal desafio de uma empresa de varejo no Brasil?
Continuar em movimento e se reinventando porque o comportamento do consumidor sempre se transforma – a cada dia com novos desejos e novas premissas. O varejo é feito de muitos detalhes. Uma empresa, para funcionar no varejo, tem que ser muito dinâmica, ágil, e o diferencial está nos detalhes.
Com a empresa se atualiza sobre as tendências de moda?
Pesquisas de mercado no Brasil e no exterior. Frequentamos todas as feiras do segmento, e temos plataformas de moda – ferramentas para estarmos sempre atualizados e traduzirmos as tendências mundiais.
Como está a operação do e-commerce da marca?
Desde 2007, investimos bastante no e-commerce como uma ferramenta omnichannel, uma plataforma flexível e adaptável. Estamos nos preparando para trabalhar com marketplace (projeto a médio prazo) e introduzir o omnichannel – interação físico/virtual com o consumidor da melhor maneira.
E a crise? Como a empresa passou por esse período? Teve algum aprendizado?
Sim, tivemos muitos aprendizados ao longo da crise. Repensamos a companhia, fizemos fusões de alguns negócios, repensamos modelos e olhamos nossos talentos para sermos mais ágeis e produtivos.
Quais as dicas que você pode dar para quem quer empreender?
Importante que tenha vocação para o empreendedorismo e desejo de se entregar ao projeto com dedicação integral. Quando você empreende é responsável por tudo. No início, a estrutura é pequena, sendo o dono responsável por todo o processo. É importante que a companhia tenha propósito, alma, proposta de valor significativa para fazer a diferença.
Atualização (18/fev/2019): Mudamos o título para que refletisse melhor a história da empresária e o conteúdo do texto.