Emerson Salomão: fundador da Avell saiu da posição de presidente em janeiro de 2023 (Avell/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 11 de dezembro de 2019 às 12h13.
Quando viu um notebook pela primeira vez, ainda na faculdade de tecnologia da informação na década de 1990, Emerson Salomão se impressionou com o poder do aparelho. Na época, mesmo os computadores de mesa eram coisa para poucos e davam os primeiros passos no Brasil. Mas pela portabilidade dos notebooks e o fato de conseguir levar o equipamento para qualquer lugar, o empresário de Santa Catarina achou que aquela era a "tecnologia do futuro".
Foi com esse entusiasmo que Salomão criou em Joinville uma empresa para participar desse movimento. Fundada em 1997, então sob o nome de Notebook Century (ou "século do notebook"), a empresa começou revendendo notebooks de outras marcas. Após vários formatos de negócio, a hoje chamada Avell se consolidou quando decidiu vender somente notebooks de alta performance.
O público-alvo são gamers, os jogadores de videogame, ou profissionais que precisam de equipamentos top de linha. Na clientela há desde arquitetos e editores de vídeos a dentistas ou outros profissionais de medicina, que usam softwares 3D que demandam muito do processador. "Não é qualquer notebook que atende nesses casos. E eu percebi que fazia esse tipo de produto [de alta performance] melhor dentro de casa do que se comprasse de uma outra marca", diz Salomão.
O preço médio de um computador da Avell é de 7.000 reais, mas há computadores da marca que podem passar de 13.000 reais. Os modelos não são customizados por encomenda, mas o sistema de vendas da empresa busca aconselhar os clientes na busca pelo aparelho adequado, indicando os produtos que melhor se encaixam às necessidades e ao orçamento.
Os 10.000 notebooks vendidos anualmente pela empresa catarinense compõem uma parte específica de um grupo de 4 milhões de notebooks comercializados no Brasil no ano passado. A cada dez computadores vendidos no país, oito são notebooks e somente dois são desktops, os chamados computadores de mesa, segundo a consultoria IDC, especializada em tecnologia. As vendas de notebooks no Brasil totalizaram 10,3 bilhões de reais em 2018 e as de computadores desktop, 3,6 bilhões de reais.
Com foco em seu público mais nichado, a Avell conseguiu faturar no ano passado 58 milhões de reais. A expectativa é fechar 2019 com faturamento de 70 milhões de reais.
Os computadores da Avell são todos fabricados em Joinville e feitos com boa parte das peças importadas. Trabalham na fabricação cerca de 20 dos 60 funcionários da companhia. Com o crescimento dos negócios, a Avell investiu 10 milhões de reais para construir uma segunda fábrica, na Zona Franca de Manaus, área com incentivos tributários para a indústria, no Amazonas. A planta será inaugurada no ano que vem.
Quando fundou a empresa na década de 90, Salomão temia que, em pouco tempo, as grandes empresas de tecnologia estrangeiras fossem esmagá-lo. De fato, isso aconteceu rapidamente, com nomes como Samsung, Acer, Dell e Sony vendendo produtos de todos os modelos e preços no Brasil. "As empresas estrangeiras chegaram aqui vendendo em 12 vezes sem juros, eu não conseguia competir", diz.
Foi então que, por volta de 2010, a empresa catarinense, que até então somente revendia produtos de outras fabricantes ou montava notebooks mais baratos, começou a estudar o mercado de gamers, que exigia um equipamento mais especializado. Trazendo a expertise que já tinha na montagem de notebooks, a Avell começou a fabricar os próprios produtos e lançou notebooks próprios, todos de alta performance. Em 2013, a empresa parou de vez de vender computadores de outras marcas. "Naquele momento, criar uma marca própria de alta tecnologia no Brasil foi um movimento um tanto ousado, mas que se provou acertado", diz.
Atualmente, grandes fabricantes de computadores também trouxeram para o Brasil linhas avançadas para gamers e outros profissionais, mas Salomão afirma que há espaço para todos.
A Avell tem três lojas, duas em Joinville e Florianópolis, ambas em Santa Catarina, e uma em Curitiba, capital do Paraná. O próximo passo é abrir espaços em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em Belo Horizonte, em Minas Gerais, e em Rio de Janeiro e São Paulo, onde está o maior público da empresa, segundo Salomão.
A empresa não trabalha com revenda de seus notebooks, de modo que vende os produtos somente nas lojas próprias, em seu site e em sites parceiros via marketplace (em que consegue controlar a venda e a entrega). Salomão acredita que o perfil do produto exige um amplo esforço de pré e pós-venda, e é preciso que a Avell esteja em contato próximo com o cliente caso haja alguma dúvida ou problema. "São produtos caros, então, se o cliente comprar um modelo que não roda o programa que ele precisa, não adianta. Não conseguimos ainda deixar essa consultoria a cargo de revendedores", diz o fundador.
Duas décadas depois de fundar a Avell, o encantamento de Salomão com o potencial dos notebooks continua. Mesmo em um cenário em que, só no primeiro trimestre de 2019, os brasileiros compraram mais smartphones do que todos os notebooks vendidos em 2018 -- foram 10,7 milhões de smartphones vendidos no Brasil no trimestre, segundo a IDC.
Os celulares cada vez mais cumprem tarefas que outrora eram dos notebooks, mas Salomão ainda considera os aparelhos com mouse, tela e teclado insubstituíveis. "Vai demorar muito para um celular fazer tudo o que um computador faz", diz. Enquanto isso, a Avell espera seguir firme e forte dentro de seu pequeno nicho na tecnologia nacional.