Centro de distribuição do Magazine Luiza: varejista tem mais de 36 milhões de clientes — pouco mais de 15% do total da população brasileira (Leandro Fonseca/Exame)
Leo Branco
Publicado em 20 de agosto de 2021 às 16h13.
Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 17h12.
Fundador do Grupo Empreenda, uma consultoria de gestão de boa parte das maiores empresas brasileiras, César Souza é um entusiasta das histórias de empresas com alguma lição a ser repassada para outras empresas. Nesta sexta-feira, 20, Souza lança a pré-venda de O jeito de ser Magalu (Editora Rocco) um livro condensando boa parte das lições aprendidas com a trajetória da varejista fundada em Franca em 1957 e atualmente um negócio com valor de mercado acima dos 150 bilhões de reais.
Por que escrever o livro neste momento? “A simplicidade, a capacidade de inovar e a coerência do jeito de ser Magalu deveriam ser tema de estudo em todas as escolas de administração deste país e em todas as empresas, qualquer que seja o seu negócio", diz Souza.
"Neste atual momento econômico pelo qual passa o país, ganham as empresas que conseguem pensar diferente e ser ousadas, mesmo diante da maior pandemia enfrentada pela humanidade. E as lições do modelo de negócios e da filosofia de gestão daquele pequeno comércio do interior paulista que se expandiu bastante se aplicam, não apenas ao varejo, mas a empresas de qualquer segmento. Um gigante com alma de startup é definição perfeita dessa grande empresa pilotada por líderes notáveis.”
Leia um trecho do livro O jeito de ser Magalu:
Nasceu pequeno, pensou diferente e cresceu bastante.
De um negócio familiar em uma pequena cidade do interior paulista, o Magazine Luiza se transformou no Magalu, uma das maiores empresas de varejo do Brasil e do mundo, a melhor empresa do ramo para se trabalhar no Brasil e a segunda melhor no ranking geral, de acordo com a pesquisa Great Place to Work Brasil 2020.
Tudo começou em 1957, quando “Dona Luiza”, a ex-balconista Luiza Trajano Donato, decidiu abrir a sua primeira loja em Franca, a quase quatrocentos quilômetros da capital paulista, bem no ano em que a cidade ganhou seu primeiro arranha-céu, o edifício Franca do Imperador.
Decidida a não usar o nome herdado do dono anterior — A Cristaleira —, Dona Luiza fez sua primeira promoção: sorteou um sofá entre os ouvintes da rádio local que votassem na escolha do novo nome da loja. O vencedor? Magazine Luiza. “O marketing sempre correu em nossas veias, mesmo quando a gente não tinha dinheiro para marketing”, disse em várias ocasiões Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora e sua sucessora como líder do negócio, que depois passou a presidir o Conselho de Administração.
Outro lance ousado para a época ocorreu em 1974, quando a loja foi transferida para um imóvel mais nobre, de esquina, antiga agência do Banco do Brasil, em Franca. A partir daí, entrou em fase de expansão, inicialmente pelo Triângulo Mineiro e depois pelo interior paulista, a começar por Barretos, culminando com a inauguração simultânea de três lojas em Ribeirão Preto, em 1983.
A experiência bem-sucedida estimulou o Magazine Luiza a dar um passo mais audacioso, já sob o comando de Luiza Helena Trajano: entrar na capital paulista, vinte e cinco anos mais tarde, com a meta bastante arrojada de inaugurar cinquenta lojas em um só dia. Ao longo da sua gestão, ela expandiu a operação do negócio: de trinta lojas em 1991, quando tomou posse, com apenas trinta e nove anos de idade, para 445 em 2008.
No ano seguinte, a empresa ingressou em uma terceira fase, sob a direção de Marcelo Silva, executivo oriundo do Bompreço e das Casas Pernambucanas. Em 2011, foi feita a abertura do capital na bolsa de valores, e o Magazine Luiza continuou crescendo a ponto de atingir, em 2015, o número de 786 lojas e ultrapassar o expressivo valor de 10 bilhões de reais de faturamento.
O quarto ciclo começou em 2016, sob a liderança de Frederico Trajano, filho de Luiza Helena. Em apenas três anos, ultrapassou a marca das mil lojas e a impressionante cifra de 18 bilhões de reais de faturamento. Atualmente tem mais de 36 milhões de clientes — acima de 15% do total da população brasileira, de acordo com dados disponíveis no site da empresa (bloco Relação com Investidores, 9 de agosto de 2021). Tal salto foi dado já sob a bandeira da transformação digital, que alavancou o Magalu para um novo patamar.
Sem fazer alarde, partindo do interior para as metrópoles, Magazine Luiza foi se tornando, de longe, a varejista mais valorizada do Brasil. Antes de chegar à capital paulista, comprou rivais, como a Mercantil, em Franca, e a Móveis Brasil, em São Carlos, além de redes no Paraná e em Santa Catarina. Depois, continuou fazendo aquisições, como a das Lojas Maia, rede paraibana com 140 unidades espalhadas pelo Nordeste, e a das Lojas do Baú, com 121 pontos de venda nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
No final de 2020, o Magalu se tornou uma empresa bastante valorizada na Ibovespa, a bolsa paulista. A ascensão da varejista foi considerada um feito e tanto em um país em que as instituições financeiras, grandes indústrias e antigas estatais privatizadas sempre dominaram a preferência dos investidores.
Apesar do agravamento da pandemia de Covid-19, que obrigou o grupo a fechar temporariamente centenas de lojas físicas em certos períodos de 2020 e também no ano seguinte — devido às medidas de restrição determinadas pelas autoridades —, as vendas subiram consideravelmente. Este volume inclui o seu marketplace, que também passou a comercializar mercadorias de terceiros. O comércio on-line representava expressivo volume sobre o total das vendas, 17 pontos percentuais acima de 2019.
De fato, o Magalu nasceu pequeno, pensou diferente e cresceu bastante — e em alta velocidade — nos últimos anos. Demorou quarenta e três anos para faturar 1 bilhão de reais nas lojas físicas, origem da empresa, mas apenas dez anos para atingir a mesma marca em faturamento no e-commerce. Como um relâmpago, precisou somente de dois anos para alcançar o mesmo valor com a operação de marketplace, que, em dezembro de 2019, reunia 15 mil vendedores, indústrias e varejistas dos mais diversos tamanhos, origens e especialidades. Nos últimos anos, de acordo com o site do grupo, o Magalu fez a opção estratégica pelo crescimento exponencial, por atingir um ritmo de expansão que multiplica o tamanho e a abrangência da empresa, a fim de continuar relevante na economia digital.
Suas lojas físicas, distribuídas por mais de oitocentas cidades, em vinte e um estados, têm se transformado rapidamente em centros avançados de distribuição dos produtos da empresa e de outros sellers, vendidos on-line. Para abastecer esses pontos, foram abertos, em 2019, cinco novos centros de distribuição, totalizando quase vinte, localizados em diferentes regiões do país. A distribuição dos produtos fica a cargo da Logbee, empresa de tecnologia logística responsável pela entrega em grandes centros, como São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Goiânia, Recife e Campinas, e da Malha Luiza, composta por cerca de 2.500 caminhoneiros.
Gigante com alma de startup
Que fatores explicam o sucesso extraordinário do Magalu? Quais lições podemos tirar para inspirar nossos negócios? Será que o modelo Magalu é adequado apenas para o varejo? Ou pode ser extrapolado para outros tipos de empresas?
“Minha tia e minha mãe sempre pensaram fora da caixa. Não tiveram medo de errar”, aponta orgulhosamente Fred Trajano em reportagem de Fernando Scheller, publicada no jornal O Estado de São Paulo em 8 de novembro de 2020. Desse modo, ele salienta um traço característico do Magalu praticamente desde a sua origem: a mentalidade de startup. A varejista é uma gigante que não se deixa inebriar pelo sucesso nem pelo tamanho, e continua humildemente pensando e agindo como uma empresa que precisa se provar a todo instante.
Este livro propõe que a causa-raiz do sucesso do Magalu reside em cinco fatores que podem servir de lição a todos nós, empenhados em transformar nossos empreendimentos em cases de sucesso.