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Idosos abrem empresas para pessoas como eles nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, cerca de 25% dos novos empreendedores tinham entre 55 e 64 anos em 2019, um aumento de 15% em relação a 20 anos antes

A empreendedora americana Mary Anne Hardy: Nos Estados Unidos, cerca de 25% dos novos empreendedores tinham entre 55 e 64 anos em 2019, um aumento de 15% em relação a 20 anos antes, de acordo com a Fundação Ewing Marion Kauffman, ONG que promove o empreendedorismo (Ting Shen/The New York Times)
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Leo Branco

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 10h59.

Mary Anne Hardy estava em uma encruzilhada em sua carreira na enfermagem. A campanha de saúde para a qual trabalhava tinha chegado ao fim e, como ainda não pretendia se aposentar, queria descobrir qual seria seu próximo passo.

Em uma conferência, ela ouviu falar dos grupos de defesa dos direitos dos pacientes, que ajudam as pessoas, especialmente os idosos e seus filhos adultos, a compreender o cada vez mais complexo sistema de saúde americano. "Foi como uma lâmpada que se acendeu. Pensei no que meus pais tinham vivido e isso me motivou", contou Hardy, de 65 anos, que se tornou defensora certificada e começou a atender clientes em 2013.

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Hardy, que vive em Derwood, Maryland, disse que, ao escolher a nova carreira, pensou que poderia ajudar outras pessoas a evitar o "pesadelo" que havia enfrentado anos antes. Sua mãe teve um AVC e, em seguida, foi submetida a uma cirurgia no intestino, o que deu origem a uma série de infecções e outros problemas evitáveis. A mãe foi transferida de uma instituição para a outra, com pouca comunicação entre os profissionais médicos ou com ela.

"As pessoas se sentem perdidas no sistema médico", comentou Hardy. Com ela ao lado, os pacientes sentem que "são ouvidos e levados a sério".

Como muitos empreendedores mais velhos, Hardy está em busca de oportunidades de negócios com os próprios colegas. Essas pessoas estão usando uma vida toda de habilidades acumuladas para iniciar uma nova carreira vendendo produtos e serviços para o crescente mercado de consumidores idosos. Em alguns casos, como o de Hardy, as próprias experiências levaram a uma mudança na carreira quando outros estavam se aposentando.

Hardy está em um ponto de interseção entre duas tendências que estão se desenvolvendo há muito tempo: o número cada vez maior de empreendedores mais velhos e o crescimento do "mercado da longevidade".

Em 2019, cerca de 25 por cento dos novos empreendedores tinham entre 55 e 64 anos, um aumento de 15 por cento em relação a 20 anos antes, de acordo com a Fundação Ewing Marion Kauffman, ONG que promove o empreendedorismo.

E, em 2015, pessoas com mais de 50 anos gastaram US$ 5,6 trilhões em bens e serviços, superando os gastos de consumidores com menos de 50 anos, de acordo com um estudo preparado para a AARP (associação sediada nos EUA que se concentra em questões que afetam pessoas com mais de cinquenta anos) pela Oxford Economics, empresa de previsões econômicas. Além dos gastos mais elevados com a saúde, os idosos gastaram mais com serviços financeiros, bens de consumo duráveis e não duráveis e veículos motorizados .

Para os aspirantes a empreendedores idosos que querem conquistar uma parcela do mercado relacionado ao envelhecimento, "é preciso pensar em como usar suas habilidades e paixões e adaptá-las a uma nova área", disse Mary Furlong, consultora de marketing de longevidade.

A chave para o crescimento da empresa de Sharon Emek foi sua proeminência como importante executiva do setor de seguros em Nova York. Em 2010, quando tinha 64 anos, Emek fundou a Work at Home Vintage Experts, ou WAHVE, que conecta companhias de seguros a profissionais com mais de 50 anos que trabalham remotamente como prestadores de serviço.

Duas grandes mudanças no setor convenceram Emek de que o empreendimento tinha potencial. Segundo ela, os trabalhadores jovens estavam deixando o setor de seguros de lado, em busca de trabalho em Wall Street. E muitos trabalhadores experientes não queriam se aposentar, mas desejavam contratos de trabalho mais flexíveis, talvez para viver mais perto dos netos. As mulheres, em especial, tinham medo de viver para além do que haviam poupado.

"Pensei nisso porque era algo que eu mesma estava vivendo. Eu definitivamente não queria me aposentar – preciso me manter produtiva. Senti que poderia ajudar outras pessoas a continuar trabalhando e as empresas poderiam ter acesso a talentos incríveis por um valor mais baixo", explicou Emek.

Durante os dois primeiros anos, Emek não recebeu salário. Agora, a empresa tem um faturamento de US$ 22 milhões e gerencia 530 contratos, informou a empresária. A média de idade dos profissionais gira em torno de 60 anos e cerca de 90 por cento são mulheres.

De acordo com ela, desde o início da pandemia do coronavírus sua empresa "tem recebido mais contatos, já que as companhias não sabem como fazer entrevistas e contratar remotamente".

Serviços e produtos voltados para idosos que não saem de casa são um bom negócio para empreendedores mais velhos, garantem especialistas. Concierges mais velhos, por exemplo, podem ajudar outros idosos em seus afazeres ou lhes fazer companhia. Já alguém que passou a vida trabalhando no setor de construção civil pode se tornar um especialista certificado no preparo de casas para pessoas idosas, tornando-as mais seguras.

Tecnologias que monitoram a saúde e a segurança de idosos, como máquinas que liberam medicamentos automaticamente e aparelhos auditivos digitais, também encontraram um mercado aquecido.

"Todos os dias converso com algum especialista no setor de tecnologia que migrou para o mercado da longevidade", observou Furlong.

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