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Por que Gustavo Franco resolveu ir para o Nubank

A decisão de contratar um grande nome do mercado é duplamente estratégica

Gustavo Franco: "os bancos ainda são muito focados em agências, papel e excesso de pessoas", afirmou (Divulgação/Divulgação)
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EXAME Hoje

Publicado em 27 de julho de 2017 às 12h07.

Última atualização em 27 de julho de 2017 às 15h05.

A empresa de cartões de crédito Nubank acaba de contratar o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Rio Bravo, com a missão de ajudar a fintech a crescer e lançar novos produtos. Com salário fixo e plano de opções de ações, ele começa a dar expediente na sede da empresa uma vez por semana em julho. “Desde 2014 buscávamos alguém que entendesse o mercado financeiro brasileiro e nos aconselhasse em assuntos que não temos experiência, como regulação”, diz o colombiano David Veléz, fundador do Nubank. A decisão de contratar um grande nome do mercado é duplamente estratégica. Ao mesmo tempo em que ajuda os fundadores a identificar oportunidades e obstáculos em novas searas além do cartão, traz credibilidade a startup, que tem pouco mais de três anos. “Temos pretensões maiores do que ser apenas um emissor de cartão. Agora começamos a pensar na nossa segunda fase de crescimento”, diz Veléz.

Em entrevista a EXAME, Franco afirma que a transformação do mercado financeiro nos próximos dez anos será “devastadora, no bom sentido”. “Os bancos ainda são muito focados em agências, papel e excesso de pessoas”, diz. “O público está buscando formas criativas, mais cômodas e baratas de fazer transações financeiras”. Sobre o prejuízo recorrente do Nubank, Franco diz ser natural que empresas pequenas e novas ainda precisem gastar grande parte dos recursos investindo no negócio. Confira a entrevista completa com Gustavo Franco.

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Por que se associar ao Nubank?

O lado tecnológico, financeiro e inovador do Nubank está em linha com o futuro que eu enxergo, onde consumidores têm produtos melhores e o ambiente seja de maior competição. Onde você encontra isso? Há muitas pessoas desafiando a indústria bancária e o Nubank é um caso bem sucedido. Em particular, um de seus ativos mais importantes é o relacionamento com o cliente, que é exemplar. Hoje ninguém na indústria financeira brasileira tem isso. Representa um novo equilíbrio de forças que a indústria financeira vai ter no futuro.

O senhor já acompanhava o crescimento do fenômeno das fintechs no Brasil?

Todo mundo no sistema financeiro está olhando para isso. Seja pelo encanto com a tecnologia e suas possibilidades que as fintechs trazem para os negócios financeiros. Pela Rio Bravo chegamos a investir em uma empresa de cartão de crédito consignado chamada Unik, que foi vendido a uma companhia americana há três anos. Mas, nada muito parecido com o que vemos no Nubank. No cenário que temos hoje, de alta concentração bancária no varejo, e sem perspectiva de que isso vai mudar em breve, a não ser que os bancos públicos sejam privatizados, é natural que surjam concorrentes mais eficientes.

E como o senhor vê o futuro das fintechs?

Vemos uma mudança muito profunda. O uso de mobile no setor financeiro, por exemplo, é algo que estamos bem atrasados. Os bancos ainda são muito focados em agências, papel e excesso de pessoas, mas, ao mesmo tempo, têm um legado importante. Não se joga fora essa infraestrutura. Ela vai permanecer até que se venha outra melhor em custo e comodidade ao consumidor e a própria concorrência vai fazer os incumbentes se sacudirem e migrarem suas plataformas para outros formatos. Além da tecnologia, a preferência do público pela plataforma aberta é outra mudança importante. As pessoas querem ser donas de seu próprio dinheiro e, dentro dos bancos, estão sempre sujeitas a ofertas de produtos e serviços do próprio banco. Há um conflito de interesse permanente, que cria uma espécie de má vontade estrutural contra o banco que já é grande em razão de taxa de juros. Existe uma disposição muito grande por parte do público por alternativas, a demanda por produto novo, inovação, concorrência, formas criativas, mais cômodas e baratas de fazer as coisas no mundo financeiro, está no ar. Essas transformações vão, ser nos próximos dez anos, devastadoras, no bom sentido.

Qual sua missão na empresa?

Novas ideias e novos produtos. Não que aqui não tenha boas ideias, mas eu estou vindo com um ângulo diferente de observação e, com a experiência que eu tive em política econômica, no Banco Central e em mercado de capitais, tenho um olhar diferente sobre as possibilidades de expansão. Complementar aos talentos que eles têm aqui.

O senhor continua na Rio Bravo ou vai se dedicar exclusivamente ao Nubank?

Terei uma dedicação semanal no Nubank, como tenho na Rio Bravo, mas não serei executivo de linha. Vou trabalhar de forma similar a um conselheiro de administração de uma empresa de capital aberto. Continuo na Rio Bravo e na Endeavor também. Já fiz trabalhos antes com o Nubank, mas agora me dedicarei mais. Já comecei também a participar de algumas reuniões estratégicas sobre os caminhos a seguir em produtos. Parte do jogo também é olhar exemplos internacionais. Muita coisa é aproveitável e idêntico, mas é preciso olhar sempre de forma humilde para os avanços internacionais e compreender as singularidades brasileiras.

Também vai participar das discussões das associações com o Banco Central sobre questões regulatórias das fintechs?

Sim, mas o que menos o pessoal quer fazer é associativismo com regulador. O ideal é que temos menos tempo dedicado a isso possível.

No que ainda estamos atrasados em relação ao mundo?

O Brasil é muito avançado em algumas questões, às vezes até pelas razões erradas. Foi a inflação que fez o Brasil avançar em meios de pagamento. Agora é um momento diferente. Hoje as pessoas têm acesso a muita informação. Sabem as taxas de juros praticadas e quais créditos são mais caros. Essa transparência abriu a discussão para o regulador permitir que o mercado seja mais competitivo. Todo mundo está a favor da inovação e do benefício ao cliente.

O fato de o Nubank ter prejuízo não o preocupa?

O Nubank é uma empresa de pouca idade ainda, apesar de ser já grande e nem poder ser comparada a pequenas startups. Prejuízo não quer dizer tanta coisa porque é preciso olhar o que eles já fizeram e o que vão anunciar em breve. O balanço fornece poucas informações para os analistas tirarem muitas conclusões. É natural que empresas pequenas e novas ainda precisem gastar grande parte dos recursos investindo no negócio, mas elas virarão grandes instituições financeiras e terão novas atividades que serão mais fontes de receitas.

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