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Os novos universitários são um bom mercado

Enquanto estão na faculdade, os estudantes podem até viver na pindaíba — mas é a eles que as famílias emergentes recorrem quando querem e informar antes de comprar algo importante

Mirella: jornada diária para chegar à faculdade (Marcelo Correa / EXAME PME)

Mirella: jornada diária para chegar à faculdade (Marcelo Correa / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 8 de maio de 2014 às 13h23.

São Paulo: O que o empreendedor Marcus Ribeiro, de 25 anos, mais fez em 2013 foi pechinchar. Ele perdeu as contas de quantas vezes se reuniu com executivos de editoras como a Campus-Elsevier e a Cengage Learning para pedir descontos na compra de exemplares de seus livros.

Ribeiro é um dos fundadores da GoBooks, startup carioca de aluguel de livros pela internet. Os clientes são universitários, que pagam para utilizar um volume por seis meses. Por esse aluguel, eles desembolsam um terço do que gastariam para comprar um exemplar novinho em folha.

"O esquema ajuda quem não pode adquirir livros acadêmicos, que costumam ser caros", afirma Ribeiro. "Para as editoras também é vantagem, pois é melhor os estudantes pagarem para alugar um livro do que tirar fotocópias." 

Em 2013, seu primeiro ano de atuação, a GoBooks faturou cerca de 100.000 reais com o empréstimo de mais de 1.200 livros a estudantes de administração, economia e engenharia. Há poucos meses, a empresa recebeu um aporte de quatro investidores-anjo. "Vamos dobrar a base de títulos até o meio do ano", diz Ribeiro.

Os clientes da GoBooks fazem parte de um grupo cada vez mais numeroso. Segundo o Ministério da Educação, o Brasil tem pouco mais de 7 milhões de universitários — o dobro do registrado em 2002. Com a ajuda de programas de financiamento estudantil, muitos brasileiros que antes não poderiam arcar com as mensalidades agora têm a chance de entrar na faculdade.

Só em 2013, o Fies — programa do governo pelo qual é possível fnanciar o curso e começar a pagá-lo só depois da formatura — teve mais de meio milhão de contratos firmados, 50% mais do que no ano anterior. O ProUni, que custeia bolsas a alunos de baixa renda, contemplou mais de 250.000 estudantes em 2013 — ante 241.000 em 2010.


A carioca Mirella Costa, de 22 anos, é uma dessas bolsistas. Ela está prestes a iniciar o quarto ano da faculdade de design na PUC do Rio de Janeiro. Para conseguir o benefício, Mirella teve de provar que sua renda familiar não ultrapassa 1.086 reais mensais por pessoa. "Sem a bolsa, não poderia estar na faculdade agora", afirma Mirella.

Em 2014, ela pretende começar um estágio para ajudar com as contas da casa onde mora com a flha Giovana, de 2 anos, e os pais — o aposentado Cosme da Costa, de 54 anos, e a auxiliar de creche Ana Angélica Cavalcante da Costa, de 51. "Estou esperando a resposta
de oito empresas", diz Mirella. "Não vejo a hora de poder cuidar do meu dinheiro."

A pesquisa da Consumoteca, feita em parceria com Exame PME, mostrou que a infuência dos universitários nos hábitos de consumo das famílias é alta — sobretudo nas emergentes, como a de Mirella. "Muitos dos universitários de hoje são os primeiros da casa a entrar na faculdade", diz Michel Alcoforado, da Consumoteca. "Suas opiniões são muito valorizadas pelos parentes e amigos próximos."

Os empreendedores Vinicius Oberg, de 27 anos, e André Mota, de 25, aproveitam bem o poder de influência que os jovens exercem nos que estão a seu redor. Eles são os fundadores da República, agência carioca que envolve universitários nas campanhas de marketing de seus clientes.

Em 2013, a República faturou 3 milhões de reais, 60% mais do que em 2012. Uma das empresas atendidas é a fabricante de canetas e material de escritório Compactor, para quem a República criou o projeto Notáveis, que divulga o trabalho de artistas que estudam em faculdades do Rio de Janeiro.

Em 2012, cerca de 30 estudantes foram convidados a produzir pinturas, gravuras e ilustrações com produtos da Compactor. Os trabalhos foram exibidos nas próprias universidades, documentados em vídeo e postados na internet. "Alcançamos mais de 40.000 jovens e quadruplicamos o número de fãs da Compactor nas redes sociais", afirma Mota. "Os alunos fzeram o papel de embaixadores digitais das marcas de nossos clientes."


Um dos desejos que muitos estudantes gostariam de realizar antes de sair da faculdade é morar um tempo fora do país. De acordo com a pesquisa da Consumoteca, eles acreditam que ter os horizontes culturais ampliados num intercâmbio pode ajudá-los a arranjar um emprego depois de formados.

O empreendedor gaúcho Sandro Saltz, de 39 anos, organiza a cada dois meses encontros em universidades do Rio Grande do Sul para reunir estudantes em busca de informações sobre cursos no exterior. Ele é sócio da S7 Study, agência especializada em organizar
programas de intercâmbio estudantil.

Em 2013, a S7 Study faturou 17 milhões de reais, 25% mais do que em 2012. Os clientes da S7 Study não querem só estudar, passear e fazer festa fora do Brasil. Entre os destinos mais procurados estão países que permitem aos alunos trabalhar enquanto estudam, como Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

"Muitas famílias economizam por um bom tempo e até vendem o carro para pagar passagem, matrícula e hospedagem", diz Saltz. "Com o dinheiro extra, os alunos conseguem recuperar parte do investimento feito na viagem."

O que saber

As descobertas da pesquisa e como aproveitar o potencial de consumo dos novos universitários

Mito: Um universitário que se preze passa o ano inteiro de festa em festa. Nem adianta desenvolver produtos e serviços específicos para eles — boa parte ainda depende da ajuda financeira dos pais, que vivem reclamando que os filhos gastam demais com coisas que não devem. Só depois de formados e de conseguir emprego é que os estudantes formam um público consumidor realmente expressivo. 

Realidade: Em muitas famílias que melhoraram de vida recentemente, os jovens universitários são os primeiros da casa a ter a chance de seguir um rumo diferente do traçado pelos pais. O acesso à educação faz deles os consumidores mais bem informados do pedaço. Suas opiniões são fundamentais para a decisão de compra de todo tipo de produto ou serviço.

O dinheiro pode não sair do bolso deles, mas eles sabem onde procurar as informações que ajudam a tomar a melhor decisão de compra.

Oportunidade: Os universitários anseiam por independência. Empresas que os ajudem a economizar com gastos típicos da faculdade ou que lhes ofereçam trabalho em meio período são muito bem-vistas. Boa parte dos alunos não teve uma boa educação básica — por isso, serviços de reforço em disciplinas como matemática e português podem ser bem-aceitos.

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