José Santos, da Target MP: fintech para os caminhoneiros (Target MP/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 19 de janeiro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 19 de janeiro de 2020 às 09h00.
O Brasil vive uma explosão de fintechs, as startups de serviços financeiros. São mais de 500 delas que transacionam todos os dias bilhões de reais de pessoas físicas e outras empresas, muitas cobrando taxas menores do que as de bancos tradicionais.
Mas o empresário José Santos achou que os produtos disponíveis, embora abundantes, ainda não eram suficientes para atender a uma parcela específica da clientela: os caminhoneiros.
Santos, que já tinha experiência tanto com meios de pagamento quanto com o público caminhoneiro em empresas anteriores, criou em 2014 uma empresa que ajudasse os caminhoneiros a lidar com suas finanças. Assim nasceu a Target Meios de Pagamento (ou Target MP), uma "fintech dos caminhoneiros" e que oferece serviços como cartão de crédito e conta digital voltados para as especificidades desses trabalhadores.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), são mais de 2 milhões de caminhoneiros trabalhando no Brasil, sendo 700.000 deles por conta própria. "Para o pessoal que trabalha com logística, como os caminhoneiros, é preciso entender do negócio, falar a língua deles. Só assim é possível oferecer bons produtos financeiros", diz Santos.
O público da Target MP vai de caminhoneiros autônomos àqueles que são funcionários de alguma transportadora. Hoje, a fintech tem um braço corporativo que atende também empresas de logística e agronegócio, que usam as ferramentas da empresa para pagar seus funcionários ou fornecedores.
Com clientes que transacionam milhares de reais ao mês, o faturamento da Target MP foi de 1 bilhão de reais em 2018. A projeção para 2019, cujos números ainda não foram totalmente contabilizados, era ter alta de 70% na receita e faturar 1,7 bilhão de reais.
Um dos braços da empresa tem desde 2015 produtos feitos em parceria com o banco Bradesco, oferecendo um cartão do banco aos clientes com a bandeira Visa. No ano passado, contudo, a Target decidiu também criar um produto financeiro próprio, e lançou a Target MP Conta Digital -- que não tem vínculo com o banco. A Target tem ainda parceria com empresas como o Sem Parar, que permite evitar filas para o pagamento de pedágios.
Para além da conta e de cartões em si, as plataformas da Target oferecem aos caminhoneiros soluções para controlar a vida financeira, no trabalho e fora dele, diz Santos. O aplicativo da empresa reúne comprovantes de pagamento de contratos e certificações de que ele pagou impostos devidos na estrada (como o chamado "vale-pedágio"). "Se ele pegar uma fiscalização na estrada, é só mostrar, está tudo reunido ali", diz Santos.
A plataforma faz ainda cálculo de quanto dinheiro será gasto em pedágio ou valor de fretes, estimativa de rotas para economizar combustível e rastreamento para que as empresas consigam saber onde estão as cargas. Santos afirma que, ao usar os produtos, um caminhoneiro autônomo ou uma empresa conseguem planejar melhor as finanças e maximizar os lucros.
O objetivo é cada vez mais virar "a startup das estradas" em todos os momentos de necessidade dos clientes. Para o futuro, a Target está negociando com algumas instituições financeiras a possibilidade de oferecer também antecipação de recebíveis aos caminhoneiros autônomos, para que eles possam usar o adiantamento dos serviços prestados para comprar itens como peças e pneus ou fazer empréstimo pessoal. Outro projeto para os próximos meses é passar a permitir transações por WhatsApp, usados pela maioria dos caminhoneiros.
Do lado das empresas de logística, a Target também quer, em breve, oferecer um serviço de antecipação de recebíveis: sempre que uma transportadora fecha um contrato de serviço com alguma empresa, demora ainda cerca de um mês para receber, embora precise de fluxo de caixa imediato. Pela proximidade com caminhoneiros e o setor logístico, a Target também se aproximou de clientes no agronegócio, que enfrentam problemas parecidos e tendem a ser contratantes das próprias transportadoras clientes da Target.
A sede da Target MP fica no Rio de Janeiro, e a empresa tem também um escritório no bairro do Alphaville, região metropolitana de São Paulo. Há cerca de 40 funcionários nos escritórios, além de outros 20 responsáveis pelas vendas e que circulam para convencer caminhoneiros e transportadoras em todo o Brasil a usar os produtos.
Quando Santos criou a Target MP, as fintechs ainda não eram tão populares. Era difícil encontrar um brasileiro que falasse com naturalidade termos como "carteira digital" ou conhecesse empresas como Nubank e PicPay, embora elas já existissem.
Agora, mesmo com uma centena de serviços disponíveis (e sendo potenciais concorrentes), o empresário acredita que a Target ainda tem espaço para crescer justamente por "entender as dores" dos caminhoneiros, coisa que as outras startups não conseguem. "Se um cara de fintech ouvir esses jargões de caminhoneiros, não vai entender nada. Um serviço de nicho é necessário", diz.