Exame Logo

Fabricante de bike elétrica é primeira a instalar pontos de recarga em SP

Com mais de 2.000 bicicletas elétricas vendidas, a fabricante Vela começa a instalar pontos de recarga em cafés de São Paulo para estimular uso do produto

Victor Hugo Cruz, da Vela: empreendedor criou a empresa ao desenhar um protótipo de bicicleta elétrica para si mesmo (Vela/Divulgação)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 5 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 5 de julho de 2019 às 12h04.

A fabricante de bicicletas elétricas Vela vai instalar pelo menos 50 pontos de recarga em cafés da cidade de São Paulo para que seus usuários possam carregar os equipamentos fora de casa. É a primeira empresa a instalar pontos de recarga para bicicletas no Brasil. A startup comprou material suficiente para instalar 100 pontos até o fim do ano.

Por ora, os pontos de recarga só serão instalados no centro e na zona oeste da capital paulista. A localização foi definida após uma pesquisa feita pela empresa, que revelou que seus clientes usam as bicicletas mais em regiões como Berrini, Faria Lima, Sumaré, Paulista e Consolação. Em cerca de dois meses, a Vela também vai lançar um aplicativo em que os usuários poderão consultar os pontos de recarga (hoje disponíveis no site da empresa).

Veja também

O plano é que, em breve, as máquinas carreguem também equipamentos elétricos de outros fabricantes — o que poderia servir, por exemplo, para os patinetes da Grow (empresa de locação de patinetes e bicicletas criada após a fusão da brasileira Yellow com a mexicana Grin ).

Com as primeiras unidades vendidas em 2014, a Vela fabrica e vende as bicicletas, e, ao contrário do modelo da Grow, não as aluga. A empresa só trabalha com bicicletas elétricas, e já vendeu cerca de 2.000 unidades até hoje, com 1.500 delas sendo vendidas na capital paulista. A Vela faz as bicicletas em sua fábrica em Diadema e as vende por encomenda no site e em quatro lojas (além de Pinheiros, em São Paulo, há lojas em Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília).

Para a iniciativa, a Vela precisou desenvolver carregadores mais rápidos do que os que tinha até então. Os carregadores nos cafés -- que são compactos e do tamanho de uma caixa de sapato -- serão capazes de carregar o suficiente para 10 quilômetros com uma carga de 10 minutos.

O custo de 800 reais por equipamento ficou por conta da empresa. Segundo o fundador e presidente da Vela, Victor Hugo Cruz, o investimento pode impulsionar o uso de bicicletas elétricas na cidade. Cruz acredita que bicicletas elétricas também podem ser uma alternativa em regiões menos planas, o que acontece em muitos bairros paulistanos.

As bicicletas elétricas respondem por menos de 1% das vendas de bicicletas no Brasil, com 31.000 unidades vendidas em 2018. A expectativa é que as vendas anuais cheguem a 280.000 unidades em 2022.

O crescimento faria as bicicletas elétricas alcançarem 5 ou 6% do mercado brasileiro de bicicletas, segundo estudo da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) e do Laboratório de Mobilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lamob/UFRJ).

Em países europeus, como a Alemanha, as bicicletas elétricas já são de 20% a 30% das bicicletas vendidas. A empresa de pesquisas de mercado Technavio estima um crescimento médio anual de 21% do mercado de compartilhamento de bicicletas elétricas entre 2018 e 2022.

Estação de recarga da Vela, em São Paulo: carregador disponível nos cafés faz recarga de 70% da bateria das bicicletas em 40 minutos (Vela)

Da garagem até os clientes

O embrião da Vela surgiu em 2012, quando Victor Hugo Cruz, logo após terminar a faculdade de Engenharia Mecânica, percebeu que passava muito tempo no trânsito e decidiu comprar uma bicicleta elétrica. Como na época não havia muitas opções, o recém-formado engenheiro se desafiou a fazer sua própria bicicleta.

A princípio, a ideia não era fazer uma empresa. Com o interesse dos amigos por seu protótipo, contudo, Cruz fez em 2014 uma campanha no site de financiamento coletivo Catarse.

“Clientes que nem conheciam a gente de repente pagavam 4.000, 5.000 reais pela bicicleta. De repente, me vi com a responsabilidade de entregar 80 bikes e parei de enxergar como um hobby de construir bicicleta só para mim”, conta.

Assim, a Vela começou com três pessoas trabalhando em uma garagem de 30 metros quadrados. Depois, ganhou o apoio de clientes que viraram investidores-anjo, o que levou à primeira fábrica, em Pirituba, em São Paulo. Hoje, são 16 sócios com alguma participação no negócio, a maioria clientes que compraram os produtos logo no começo.

A Vela tem atualmente dois modelos de bicicletas: a Vela S (vendida a 5.990 reais) mais esportiva, e a Vela 1 (a 6.390 reais), para quem usa a bicicleta diariamente, com mais conforto e preparada para trajetos. O cliente precisa encomendar a bicicleta nas lojas ou pelo site e pode adaptar o equipamento, escolhendo cor e altura.

No ano passado, as vendas da Vela cresceram 82% em relação a 2018, com 712 unidades vendidas no ano (cerca de 2% das bicicletas elétricas vendidas no Brasil), o que coloca a empresa em um faturamento anual de mais de 4 milhões de reais. Com a alta na demanda, a Vela chegou a ter quatro meses de fila de espera neste ano.

Crescer sem deixar de cumprir os prazos para a entrega dos produtos — um dilema muito vivido por outra fabricante de motores elétricos, a americana Tesla — é um objetivo. Agora, a Vela se prepara para zerar a fila e estabelecer um prazo de 30 dias para a entrega das bikes.

A hora das bicicletas

Apesar das expectativas de crescimento para o futuro, no Brasil, a bicicleta elétrica ainda tem limitações como o alto valor do produto. Há também problemas de logística nas grandes cidades brasileiras, como falta de ciclovias e vias seguras para bicicletas.

Cruz admite que o produto continua sendo voltado a um grupo específico, com grande parte dos clientes da Vela ainda sendo um nicho de apaixonados por bicicletas. Contudo, o empresário aposta na mudança de cultura em relação ao uso das bicicletas em grandes cidades.

A empresa também não se assusta com uma potencial competição com empresas como a Grow, que começou a testar neste ano a adição de opções de bicicletas elétricas no atual portfólio de bicicletas mecânicas da Yellow . O projeto ainda é um piloto e com poucas unidades.

A empresa de transporte por aplicativo Uber também pretende lançar no decorrer deste ano oJump, seu serviço de aluguel de bicicletas, começando pela cidade de São Paulo. Nos Estados Unidos, a empresa de transporte por aplicativo Lyft, rival da Uber no país, já oferece o serviço e planeja expandir sua frota de bicicletas elétricas para locação neste ano.

Cruz acredita que uma possível entrada de empresas de locação no mercado de bicicletas elétricas poderia até mesmo ajudar as fabricantes, apresentando o produto a novos potenciais clientes. “A pessoa poderia usar uma bicicleta da Yellow para testar, mas nem sempre ela estará disponível. Então, se o usuário gostar do produto e quiser usá-lo com frequência, pode optar por comprar uma própria”, diz.

O próprio movimento do aluguel de bicicletas da Yellow, que começou a ganhar corpo em 2018, além da construção de ciclovias intensificada em São Paulo, ajudou a naturalizar o uso de bicicletas nas cidades.

Embora o protagonismo entre os ciclistas ainda deva ficar na boa e velha bicicleta mecânica, a esperança da Vela é que ver uma bicicleta elétrica andando pela cidade seja, algum dia, quase tão comum quanto encontrar patinetes elétricos estacionados nas esquinas.

Acompanhe tudo sobre:BicicletasGrow (Grin+Yellow)Patinetes elétricasYellow

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de PME

Mais na Exame