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Eu quero ser demitido! Me demitir, nunca!

Distribuição de lucros, seguro-saúde vale isso, vale aquilo - nada prende alguém cuja mentalidade é pular de emprego em emprego

Nenhum benefício muda a mentalidade do funcionário que quer ser demitido (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2013 às 06h32.

São Paulo - Não sei como é na sua empresa, mas na minha ninguém mais pede demissão. Não, não estou dizendo que ninguém quer sair. Eu disse que o funcionário que quer sair não pede demissão - ele pede para ser demitido.

A conversa é sempre a mesma: "Eu queria fazer um acordo, sabe? Se vocês me mandarem embora, daí eu não perco o seguro-desemprego e também posso pegar o Fundo de Garantia." Não são apenas os que têm anos de casa e, portanto, juntaram um bocado de dinheiro no FGTS que dizem isso. Mesmo os que chegaram ontem vêm com essa história.

Antigamente, eles pelo menos propunham um acordo - devolver a multa sobre o FGTS e o valor correspondente ao aviso-prévio. Hoje, eles pedem para levar tudo mesmo. Se a gente não topa, fica com reputação de empresário malvado. Se topa, cria um problema - no mês seguinte aparece outro querendo a mesma coisa.

Para pôr a mão na grana extra, o pessoal mancha a Carteira de Trabalho sem necessidade. Fico imaginando o sujeito, na entrevista do próximo emprego, explicando que foi mandado embora, mas não foi. Que foi só um jeitinho de passar por cima da lei, como se isso não tivesse nada demais.

Para mim, tem. Eu sei que demissão fantasma virou coisa normal. Mas não é por ser normal que é correto. Afinal, é uma mentira. E, se a pessoa mente, bom sinal é que não é.

Fico pensando por que será que esse comportamento virou padrão. Há uns 20 anos, quando comecei como empreendedor, as pessoas se contentavam com o salário sempre em dia e com a oportunidade de subir na empresa. Era o que eu podia oferecer. Mesmo assim, muitos aceitaram. Tenho funcionários com mais de 20 anos de casa - gente que começou como recepcionista e hoje é gerente.

Virou moda falar que, para dar certo, uma empresa precisa repartir lucro, emprestar dinheiro, promover passeios de bicicleta, colocar as pessoas em botes para descer o rio e sei lá mais o que para mantê-las motivadas. Mas motivação é algo que está dentro da pessoa. Tem gente que está sempre motivada. E tem gente que, não importa o que receba, vive reclamando do mundo.

Se oferecemos vale-refeição, a pessoa pede vale-bebida. Se da­mos vale-transporte, quer vir de carro e também receber o vale-transporte. Pagamos seguro-saúde, e ela quer assistência para a família inteira,  mais a ex-mulher ou o ex-marido. Damos bolsa de estudo, e a pessoa vem pedir para sair mais cedo nos dias de prova. Pagamos seguro de vida, e ela pede seguro-funeral. Nada disso prende alguém cuja mentalidade é pular de emprego em emprego.

Que não me venham esses especialistas em recursos humanos falar de "retenção de talentos", como se a culpa fosse minha. Esse pessoal já era impaciente bem antes de aparecer aqui. Recebo jovens de apenas 25 anos com mais de oito registros na carteira. Gente assim é talento?

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São Paulo - Não sei como é na sua empresa, mas na minha ninguém mais pede demissão. Não, não estou dizendo que ninguém quer sair. Eu disse que o funcionário que quer sair não pede demissão - ele pede para ser demitido.

A conversa é sempre a mesma: "Eu queria fazer um acordo, sabe? Se vocês me mandarem embora, daí eu não perco o seguro-desemprego e também posso pegar o Fundo de Garantia." Não são apenas os que têm anos de casa e, portanto, juntaram um bocado de dinheiro no FGTS que dizem isso. Mesmo os que chegaram ontem vêm com essa história.

Antigamente, eles pelo menos propunham um acordo - devolver a multa sobre o FGTS e o valor correspondente ao aviso-prévio. Hoje, eles pedem para levar tudo mesmo. Se a gente não topa, fica com reputação de empresário malvado. Se topa, cria um problema - no mês seguinte aparece outro querendo a mesma coisa.

Para pôr a mão na grana extra, o pessoal mancha a Carteira de Trabalho sem necessidade. Fico imaginando o sujeito, na entrevista do próximo emprego, explicando que foi mandado embora, mas não foi. Que foi só um jeitinho de passar por cima da lei, como se isso não tivesse nada demais.

Para mim, tem. Eu sei que demissão fantasma virou coisa normal. Mas não é por ser normal que é correto. Afinal, é uma mentira. E, se a pessoa mente, bom sinal é que não é.

Fico pensando por que será que esse comportamento virou padrão. Há uns 20 anos, quando comecei como empreendedor, as pessoas se contentavam com o salário sempre em dia e com a oportunidade de subir na empresa. Era o que eu podia oferecer. Mesmo assim, muitos aceitaram. Tenho funcionários com mais de 20 anos de casa - gente que começou como recepcionista e hoje é gerente.

Virou moda falar que, para dar certo, uma empresa precisa repartir lucro, emprestar dinheiro, promover passeios de bicicleta, colocar as pessoas em botes para descer o rio e sei lá mais o que para mantê-las motivadas. Mas motivação é algo que está dentro da pessoa. Tem gente que está sempre motivada. E tem gente que, não importa o que receba, vive reclamando do mundo.

Se oferecemos vale-refeição, a pessoa pede vale-bebida. Se da­mos vale-transporte, quer vir de carro e também receber o vale-transporte. Pagamos seguro-saúde, e ela quer assistência para a família inteira,  mais a ex-mulher ou o ex-marido. Damos bolsa de estudo, e a pessoa vem pedir para sair mais cedo nos dias de prova. Pagamos seguro de vida, e ela pede seguro-funeral. Nada disso prende alguém cuja mentalidade é pular de emprego em emprego.

Que não me venham esses especialistas em recursos humanos falar de "retenção de talentos", como se a culpa fosse minha. Esse pessoal já era impaciente bem antes de aparecer aqui. Recebo jovens de apenas 25 anos com mais de oito registros na carteira. Gente assim é talento?

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