Estudo mostra como a covid-19 afetou a saúde mental dos empreendedores
A empresa de inovação Troposlab, em parceria com a UFMG, realizou uma pesquisa para avaliar o estado mental dos empreendedores durante a pandemia
Carolina Ingizza
Publicado em 17 de novembro de 2020 às 10h32.
Última atualização em 17 de novembro de 2020 às 10h56.
Nos últimos anos, a saúde mental de empreendedores tem sido um tema presente na mídia, nacional e internacional, entretanto, no ambiente científico existem poucos estudos que relacionam a saúde mental ao empreendedorismo . A pandemia do novo coronavírus e o distanciamento físico alteraram de maneira significativa a rotina e o ambiente de negócios, e com isso, as incertezas em decorrência desse período abalaram profundamente o estado mental dos brasileiros.
Pensando nisso, a Troposlab, empresa especializada em inovação, em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), por meio do PPG Cogcom (Programa de Pós-Graduação em Psicologia: Cognição e Comportamento), realizou em junho deste ano, um estudo pioneiro no Brasil sobre a saúde mental dos empreendedores em tempos de pandemia. Foram obtidas 653 respostas de quase todos os estados brasileiros. O estudo contou com o apoio de instituições como o Sebrae, Inovativa e Anprotec, entre outras, sendo que esta é a primeira vez que se faz estudo desta natureza no Brasil.
A pesquisa observou que 51,1% dos empreendedores tiveram a vida afetada pela pandemia, mas que se sentem bem a maior parte do tempo, enquanto 24,9% dos empreendedores afirmaram que foram muito afetados. A necessidade do acompanhamento e cuidados com a saúde mental e início do uso de medicamentos, como antidepressivos, ansiolíticos ou ambos nesse período, foi relatada por 15,6% dos entrevistados.
De acordo com Marina Mendonça, sócia e diretora de cultura e times da Troposlab, a percepção de incerteza, a autoeficácia e o tipo de negócio afetam diretamente a saúde mental do empreendedor durante a crise.
“Os sintomas de doenças psicológicas aumentam à medida que o rendimento familiar cai, ainda que com força pequena. Mas quanto mais o empreendedor percebe que possui estratégias pessoais para lidar com os desafios trazidos pela pandemia, menores são os seus níveis de adoecimento psicológico”.
Os resultados encontrados apontam que as mulheres apresentam maior intensidade de sintomas para ansiedade (28,5%), quando comparadas aos homens (22,2%), estresse (5,36%) e nos homens (5,22%) e, também, maior prevalência de depressão (10,4% para mulheres e homens 3,4%).
O relatório afirma ainda, que 80% dos empreendedores apresentam níveis baixos de estresse, ansiedade e depressão, enquanto cerca de 4 a 6% apresentam níveis severos dos mesmos sintomas. Desses, 13,8% dos respondentes disseram que sim para depressão, enquanto 50,7% disseram que sim para ansiedade. Os estados de São Paulo, Goiás e Distrito Federal foram que mais apresentaram frequência em sintomatologia alta, o que poderia apontar para níveis de sofrimento psicológico mais altos.
“O levantamento desses dados é muito importante, pois a partir deles novas pesquisas sobre a saúde mental do empreendedor poderão ser geradas, o que abre portas para a discussão e sensibilização da importância do desenvolvimento saudável no ambiente de negócios”, esclarece Mendonça.
O estudo também mostrou que, durante a pandemia, aqueles empreendedores que conseguiram elaborar um plano de contingência, para o enfrentamento dos efeitos da pandemia nos negócios, conseguiram se sair melhor e com menos efeitos adversos em termos de ansiedade e depressão.
Nesse sentido, o presidente do Sebrae, Carlos Melles, uma das instituições que deu apoio ao estudo, lembra que ”os empreendedores que têm maior propensão a planejar suas ações, além de garantir maior chance de vida ao seu empreendimento, também conseguem reduzir os efeitos negativos da pandemia sobre sua qualidade de vida”.