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Estes engenheiros desafiaram seus chefes – e salvaram vidas

Três funcionários queriam inovar em equipamentos para atendimentos médicos críticos. Então, criaram um negócio que faturou 34 milhões só no ano passado

Toru Kinjo, Tatsuo Suzuki e Wataru Ueda, da Magnamed: engenheiros queriam tornar o atendimento emergencial de pacientes mais eficiente (Claudio Cammarota/Magnamed/Divulgação)

Toru Kinjo, Tatsuo Suzuki e Wataru Ueda, da Magnamed: engenheiros queriam tornar o atendimento emergencial de pacientes mais eficiente (Claudio Cammarota/Magnamed/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 20 de abril de 2017 às 06h00.

Última atualização em 20 de abril de 2017 às 18h52.

São Paulo – Os engenheiros Tatsuo Suzuki e Wataru Ueda, formados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), passavam por uma situação comum a muitos funcionários: suas ideias não eram ouvidas por seus chefes.

O que é incomum nessa história é o fato de que suas propostas poderiam ajudar a salvar mais vidas. Suzuki e Ueda trabalhavam em uma empresa que fabricava equipamentos de ventilação hospitalar, que são essenciais para pacientes em situações críticas.

“A gente começou a ver que poderíamos melhorar muito os produtos que eram fabricados na época, em termos de montagem, uso e confiabilidade dos equipamentos. Tentamos conversar, mas não conseguimos. Então, eu decidi sair e convidei o Tatsuo [Suzuki] a sair também, alguns meses depois”, diz Ueda. Seis meses depois, o engenheiro Toru Kinjo se juntou ao negócio, que se chamaria Magnamed.

O risco assumido pelos três empreendedores valeu a pena: a Magnamed exporta seu equipamento medicinal, chamado OxyMag, para mais de 50 países. O empreendimento estima salvar um milhão de vidas por ano, apenas em equipamentos vendidos para o transporte de pacientes em situação crítica.

No ano passado, o negócio faturou 34 milhões de reais. Para este ano, espera crescer tal valor em 40%.

Começo de negócio

“A gente adquiriu muitos conhecimentos e experiência no nosso antigo trabalho, mas queríamos devolver o resultado dos nossos estudos para a sociedade, ao abrir um negócio próprio”, diz Ueda.

O grande objetivo da Magnamed era projetar um equipamento de ventilação de emergência que resolvesse os problemas que os engenheiros costumavam ver como funcionários: peso, complexidade, custo e duração da bateria, por exemplo.

O empreendimento passou seus primeiros seis meses baseada na garagem da mãe de Ueda, no ano de 2005. Os empreendedores desenharam seu plano de negócio e pensaram nos próximos passos – o que incluiu a ideia de participar de um processo de incubação.

No ano seguinte, o projeto foi selecionado para integrar o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), baseado na Universidade de São Paulo. “Lá, começamos a realmente fazer a pesquisa e desenvolvimento do produto, colocando em prática nossa ideia de negócio.”

Foram dois anos de incubação, com pesquisas financiadas por entidades como CNPQ, Fapesp e Finep. O fundo de investimentos de capital semente Criatec, mantido com recursos do BNDES, fez outro investimento no negócio dos engenheiros: ao todo, cinco milhões de reais foram investidos na Magnamed naqueles anos.

O aporte do Criatec deu um novo fôlego ao negócio, que já se encontrava sem muitos recursos para continuar o desenvolvimento. No fim de 2008, o chamado OxyMag estava finalizado e a primeira fábrica na Magnamed foi montada, em Cotia (São Paulo).

Diferenciais de produto

O OxyMag é um ventilador pulmonar portátil, que ajuda médicos e paramédicos a agirem de forma mais rápida em momentos de emergência – por exemplo, ao transportar pacientes em ambulâncias.

“A gente olhou muito para o que existia em termos de equipamentos no mercado internacional, indo além do Brasil, já que a maioria dos nossos equipamentos já são importados mesmo. Queríamos entrar direto em terapia intensiva [UTI], mas vimos que havia uma concorrência forte. Então, focamos em um setor pouco atendido, que era o de ventiladores de transporte”, diz Ueda.

O primeiro entrave que os empreendedores perceberam foi a duração da bateria dos equipamentos vistos por aqui: elas duravam cerca de uma hora e meia, o que inviabilizava o uso do produto em viagens mais longas – por exemplo, para um hospital em outro estado. Além disso, quanto mais leve o equipamento, mais fácil seria o manuseio e transporte – os tradicionais pesam cinco quilos. Por isso, o OxyMag foi projetado com uma bateria de seis horas e um peso de três quilos.

Outro grande diferencial foi simplificar a operação do equipamento. “O profissional alemão, por exemplo, é muito treinado no uso de cada funcionalidade do equipamento. Pensamos em dar mais acessibilidade para profissionais brasileiros usarem o aparelho, apenas com as funções essenciais”, explica Ueda.

Os profissionais foram elencando as necessidades do aparelho e projetaram de acordo. O aparelho possui, por exemplo, uma tela com três ícones: neo-natal, pediátrico e adulto. Segundo o empreendedor, essa configuração mais simples facilitou muito a venda do OxyMag.

Exportações e expansões

O produto foi finalmente lançado no final de 2010, quando obteve a Certificação Europeia (CE) para equipamentos industriais. Com isso, o negócio exportou desde seu primeiro dia de operação.

“Desde 2007 já participávamos de feiras internacionais do setor, e formamos contatos nelas. Assim que conseguimos a CE, em 2010, participamos de licitações internacionais. Nesse mesmo ano, já conseguimos fornecer 250 OxyMags para a África do Sul”, explica Ueda.

A certificação pela Anvisa só viria no ano seguinte. Com o tempo, a Magnamed atendeu o mercado nacional e conseguiu ir além das ambulâncias e dos transportes interhospitalares: o negócio começou a participar de licitações públicas e firmar acordos com hospitais privados para fornecer equipamentos de ventilação também para tratamentos intrahospilatares críticos – transporte entre a UTI e a sala de raio-X, por exemplo.

“Como nosso know how já era forte na terapia intensiva, onde pensamos em entrar primeiro, vimos que podíamos fazer um produto com a tecnologia que tínhamos para essa área também”, diz Ueda. “Aos poucos, estamos oferecendo serviços agregados de manutenção e reposição de peças, o que reduz o custo ao longo da vida do equipamento.”

Ao todo, a Magnamed já vendeu cinco mil equipamentos em sua história de negócio. O ticket médio é de 25 mil reais por aparelho. Ueda estima que, apenas nas vendas para transportes, um milhão de vidas são salvas por ano: cada equipamento atende cerca de dois pacientes por dia.

Em 2011, 70% do volume de vendas da Magnamed era feito de exportações. Hoje, o quadro se reverteu: 70% das vendas estão no mercado brasileiro. A Magnamed, por exemplo, foi a fornecedora oficial dos equipamentos de ventilação de emergência das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016.

Mesmo com tanto volume nacional, o empreendimento continua exportando para mais de 50 países, especialmente na América Latina e no Sudeste Asiático. “Em breve, devemos começar a trabalhar o mercado dos Estados Unidos, que é o maior do mundo em equipamentos médicos”, diz Ueda.

A expansão deve acompanhar um crescimento de faturamento: a expectativa é crescer 40% sobre o número de 2016, que foi de 34 milhões de reais.

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