Empreender com segurança? Cresce o mercado de franquias no Brasil
De acordo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o mercado de franquias teve aumento de 6,4% no faturamento no primeiro semestre de 2019
Carolina Ingizza
Publicado em 11 de novembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 11 de novembro de 2019 às 07h00.
Para muitas pessoas, o empreendedorismo surge como uma alternativa à falta de emprego. Sem experiência e com receio de investir em uma ideia própria, procurar uma franquia acaba sendo uma opção que traz certa sensação de segurança – afinal, as empresas franqueadoras costumam oferecer apoio em todo o processo de abertura e gestão do negócio. Os números do setor também são animadores. De acordo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o mercado de franquias teve aumento de 6,4% no faturamento no primeiro semestre de 2019 em comparação com o mesmo período do ano passado.
A empreendedora Bárbara Correa Babeto decidiu que era hora de abrir uma franquia depois de deixar o emprego. Ela desejava não apenas uma mudança em sua vida profissional, como também aproveitou o momento para conciliar outro desejo: retornar para sua cidade natal, Florianópolis. Bárbara acabou optando por uma franquia de varejo no ramo de saúde. “Eu não sabia nada sobre o mercado de saúde nem entendia de comércio. Acreditamos na segurança da franquia, mas hoje vejo que isso também é um risco. Não existe garantia de sucesso”, explica.
dois anos, Bárbara enfrentou muitos desafios – como a gestão do estoque e o capital de giro necessário para manter o negócio até que ele se sustente. Ela investiu R$ 180 mil para conseguir abrir o negócio e hoje está em fase de recuperação do investimento inicial. Para aqueles que pensam em abrir uma franquia, Barbara aconselha que o candidato esteja consciente de que é preciso assumir riscos. “É preciso ter esse preparo emocional e também buscar a profissionalização de seu negócio, jamais confundi-lo com as finanças de sua vida pessoal”, diz.
Com a experiência adquirida, a empreendedora agora avalia a possibilidade de ter sua própria marca no futuro. “Hoje realmente conheço a importância de ter um capital de giro e separar uma parte do dinheiro para imprevistos com manutenção e folha de pagamento. Tudo que aprendi foi muito útil. Hoje me sinto mais forte e corajosa”, conta.
O exemplo de Bárbara mostra a importância de estar consciente sobre o real papel de quem assume uma franquia. O caminho pode ser facilitado com as orientações do franqueador, mas também há muita responsabilidade por parte de quem opta por esse modelo. “Como gestor de negócios, não há muita diferença entre a rotina de um franqueado ou aquele que possui um negócio independente. O principal ponto é que as boas franquias já têm seus manuais e processos definidos”, diz Ruy Barros, consultor de negócios do Sebrae-SP. “Por outro lado, o empreendedor independente tem mais liberdade de agir e tomar decisões”, completa.
Escala maior
O mercado de franquias também surge como oportunidade para quem tem uma ideia de negócio que pode ser reproduzida em escala maior, trazendo bons resultados para outros empreendedores – iniciantes ou não. Esse foi o caso do empreendedor Ricardo Campagnoli: durante uma viagem para os Estados Unidos em 2014, ele trouxe na mala a ideia de abrir a Cookie’n Ice, loja especializada em uma espécie de sanduíche de cookies com recheio de sorvete. Junto com um sócio, ele abriu sua primeira loja em Moema, mas desde o início já tinha a ideia de transformar o empreendimento em uma rede que pudesse ser franqueada.
O negócio deu tão certo que já no ano seguinte eles abriram a segunda nos Jardins e já havia fila de pessoas interessadas em tornar-se franqueadas da marca. Em agosto de 2015 foi aberta a primeira franquia, no formato bike food. “Tivemos um boom de mídia espontânea que nos ajudou muito. Eu também já tinha alguns locais escolhidos onde eu gostaria que lojas fossem abertas, então parti desse ponto para realizar a expansão”, conta Ricardo Campagnoli.
Depois de algum tempo, os sócios da Cookie’n Ice optaram por encerrar todas as lojas físicas e ficar apenas com as bikes, já que o custo operacional é menor e o faturamento acaba sendo maior. Os franqueados que trabalham nesta operação são em sua maioria jovens – menos de 30 anos – e costumam realizar as vendas em festas e eventos. Atualmente há três franquias bike em operação, mas eles chegaram a ter oito unidades quando também operavam com lojas físicas. Para investir no modelo completo o interessado gasta em média R$ 35 mil, com faturamento de cerca R$ 18 mil e retorno do investimento em cerca de sete meses. “Com a nossa experiência, vimos que é primordial para o sucesso do franqueado que ele realmente esteja à frente do negócio. Por isso não aceitamos interessados que querem apenas investir. É preciso ter muita disposição para trabalhar por longos períodos, durante a noite e aos fins de semana”, explica.
Para os empreendedores que pensam em franquear o seu negócio, Ricardo Campagnoli ressalta a importância de ter uma estrutura bem organizada para atender os franqueados – desde a criação de manuais para todos os procedimentos a um sistema em que seja possível monitorar as lojas e os consumidores de cada uma delas. “Conseguimos acompanhar e ensinar muito do nosso modelo para quem opta pela nossa franquia. Só não conseguimos ensinar algumas habilidades, como ser comunicativo e ter a disposição para colocar a mão na massa”, afirma.
O caso do empreendedor Williams Sergio Duarte, dono da Só Varais, mostra como a opção de oferecer franquias de um negócio exige também muito planejamento. Há 23 anos no mercado trabalhando com a venda de varais sob medida, o empreendedor levou três anos para estruturar todos os processos e estar pronto para oferecer sua franquia ao mercado. “Faço vendas online para o Brasil inteiro e não tenho representantes fora de São Paulo. Trabalho com mais de 30 tipos de varais e quero garantir que todos seguirão as normas da empresa”, explica.
Além do consumidor final, a empresa de Duarte atende também outros públicos – como arquitetos e construtoras. Para iniciar o processo de franqueamento, ele investiu R$ 35 mil e contratou uma consultoria para ajudá-lo em todo o processo. Para conseguir prospectar seu primeiro franqueado, ele tem participado de feiras para demonstrar o valor de seu produto. Entre os desafios, ele ressalta a dedicação para conquistar a confiança dos candidatos. “Vivo disso há muitos anos e sei que é um negócio rentável. Mas é um mercado diferente, não tem o mesmo glamour de uma cafeteria no shopping, por exemplo. Quero mostrar que existem sim muitas oportunidades de negócio”, diz.
O que é preciso saber
Franqueador
Ser franqueador significa ter um negócio testado, de sucesso comprovado que pode ser instalado em diferentes locais mantendo o mesmo padrão. Operar padrões vai além de reproduzir o mesmo sabor de um sanduíche ou até mesmo a forma de expor um sapato ou roupa, mas tudo aquilo que determina o que vai à frente do negócio e por trás do balcão. Isso implica em conhecer com profundidade como abrir e fechar a loja, como contratar, treinar, orientar, remunerar, decorar, expor, comprar, vender, atender, satisfazer, estocar, cobrar, financiar, enfim como ganhar dinheiro, tudo em detalhes.
Franqueado
Antes de entrar de cabeça em uma franquia, examine o negócio em detalhes. É importante visitar uma franquia primeiro como cliente, conversar com as pessoas que estão no negócio. Se o franqueado estiver lá, aproveite para conversar com ele. Pergunte se ele gosta do que faz. Analise os custos de implantação, se tem estoque e quanto custa, quais são as cobranças. Avalie também as informações técnicas fornecidas pelo franqueador, como taxas, royalties, faturamento médio mensal e tempo de retorno do investimento. Somente depois de ter essas informações detalhadas em mãos é possível tomar uma decisão.