Ele formou 2 milhões de alunos
“Que Deus o abençoe. Espero que ele tenha achado o caminho do bem”. É frase que o empresário Wilson Giustino costuma usar quando se refere ao homem que lhe roubou tudo, há mais de 30 anos, e, que, por ironia do destino, abriu caminho para que ele se transformasse num grande empreendedor do setor educacional. […]
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2016 às 18h10.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.
“Que Deus o abençoe. Espero que ele tenha achado o caminho do bem”. É frase que o empresário Wilson Giustino costuma usar quando se refere ao homem que lhe roubou tudo, há mais de 30 anos, e, que, por ironia do destino, abriu caminho para que ele se transformasse num grande empreendedor do setor educacional. Giustino comanda o Centro Brasileiro de Cursos, o Cebrac, uma das maiores redes de franquias de educação do Brasil, atualmente em plena expansão. Em tempos de crise, o Cebrac espera crescer cerca de 15% em 2016. São 150 unidades espalhadas pelo país, um número ainda modesto comparado à meta que Giustino traçou para o grupo: chegar, nos próximos anos, a 500 unidades de ensino.
O empresário de fala mansa, mas de estilo impetuoso, era apenas um modesto empreendedor, dono de uma fábrica de joias, que abastecia basicamente as lojas da família (a maioria dos seus parentes atuava no ramo, mais precisamente na Rua Barão de Paranapiacaba, reduto do comércio de ouro e prata no centro de São Paulo), quando, no começo dos anos 1980, um assaltante invadiu sua fábrica e levou todo o seu estoque de ouro, além de peças que os clientes haviam deixado para reparos.
Com uma dívida enorme, que nos valores de hoje, segundo o empresário, ultrapassaria o 1 milhão de reais, a saída foi recomeçar tudo do zero, mais precisamente em Campinas, interior de São Paulo. Com uma disposição incomum para o trabalho – começou, contra a vontade do pai, a trabalhar aos 12 anos de idade como aprendiz de sapateiro numa fábrica – Giustino tornou-se vendedor de cursos de uma empresa especializada em informática. Saiu-se tão bem que conseguiu convencer o patrão a abrir uma filial em Poços de Caldas, gerida por ele próprio. Anos depois, já era dono de seu próprio negócio, o Centro Brasileiro de Computação, que, apesar de levar o nome de Cebrac, estava muito longe de ser o que o Cebrac é hoje.
Essa, aliás, foi a grande sacada de Wilson Giustino como empreendedor. Por que se limitar apenas a oferecer cursos de informática se ele podia também vender diversos cursos profissionalizantes para adolescentes de classe média? “No começo dos anos 1990, o mercado de cursos de informática estava saturado. E, por outro lado, era difícil achar bons cursos profissionalizantes”, afirma Giustino. “Eu fiz um teste: comecei a dar curso de secretariado na unidade em Ourinhos, interior de São Paulo. Em um mês e meio eu já tinha 1.200 alunos matriculados”. Desde então, o Cebrac já formou 2 milhões de alunos.
E como um empresário que, contra a vontade do pai, priorizou o trabalho e não os estudos se tornou, paradoxalmente, um grande empreendedor na área educacional? “A minha veia sempre foi a comercial. Fui me associando a colaboradores qualificados, pessoas que entendiam profundamente da área, e foquei na estratégia”, diz Giustino. “Talvez se eu fosse metido a entender do setor, a minha trajetória não seria tão bem-sucedida”.
Giustino tinha como plano chegar a 500 unidades até 2018. A mesma crise financeira que o obrigou a adiar por alguns a meta – o empresário prefere não fixar uma data – também o ajudou a rever conceitos. “Criamos um novo modelo de negócios, mais enxuto e com menos custos”, afirma. Trata-se de escolas menores, que serão abertas em pequenos municípios.
O Cebrac também vai apostar num novo e inédito curso profissionalizante, focado exclusivamente em empreendedorismo. “O ensino básico do nosso país não incentiva o aluno a buscar independência, seja na vida profissional ou pessoal”, afirma Giustino. “Eu fico imaginando como eu cresceria mais rapidamente se pudesse, ainda na adolescência, ter contato com um curso sobre empreendedorismo”.
Giustino, porém, não tem do que queixar. De uma quase tragédia – o assalto que lhe tirou tudo – nasceu o empreendedor. “Não vou dar essa moral toda para o ladrão, ele não merece, pois fez algo errado e deveria ser punido por isso. E tem outra: eu acho que estaria muito bem hoje vendendo as minhas jóias, trabalho não me faltaria”, diz.
(Tom Cardoso)