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Dos R$ 35 aos R$ 11 milhões: quem lucra com a barba alheia?

Por trás da tendência hipster, e-commerce de produtos para barba aposta no mercado de cosméticos masculino

BARBA DE RESPEITO: o e-commerce faturou cerca de 600 mil reais ainda em seu primeiro ano de funcionamento (Barba de Respeito/Divulgação)

BARBA DE RESPEITO: o e-commerce faturou cerca de 600 mil reais ainda em seu primeiro ano de funcionamento (Barba de Respeito/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 12 de julho de 2019 às 06h00.

“Em três horas criamos o logotipo, o rótulo, fizemos o site e a marca nasceu”. Para o empresário Thiago de Camargo, um dos quatro sócios da Barba de Respeito, e-commerce de cosméticos masculino criado em 2016, a necessidade pode fazer fortuna. Naquele ano, o antigo empreendimento de Camargo e seus amigos, uma agência de marketing instalada em uma sala de 50 m², estava prestes a falir quando o grupo percebeu uma nova tendência no mercado: a crescente preocupação dos homens com barbas bem cuidadas. 

Com a agência que prestava consultoria de marketing a comércios locais indo de mal a pior, os quatro amigos decidiram apostar na incerteza, já que, como diz Camargo, não havia muito a perder. “Estávamos prestes a desistir da agência e cada um seguir o seu caminho, até que um dos sócios trouxe um produto para corrigir falhas na barba e sugeriu que vendêssemos na internet. Como a gente não tinha muita coisa a perder, fomos nessa”, explica. 

Com a ideia na cabeça, Camargo explica que, no primeiro dia do negócio, o grupo adquiriu apenas uma unidade, por 35 reais, de um produto feito em farmácia de manipulação e que prometia o crescimento de pelos no rosto. Apostando, com pouco risco, no novo mercado, os amigos criaram rótulo e logotipo próprio e revendem o produto produzido por terceiros na internet.

A partir daí, tudo foi muito rápido. Em apenas uma tarde uma nova marca com direito a logotipo  e site próprio foi criada em um mercado pouco explorado no Brasil, o de cosméticos masculino. Com um investimento inicial de “apenas 35 reais”, como gosta de frisar Camargo, a Barba de Respeito logo se consolidou entre os barbudos e este ano, três após sua fundação, prevê um faturamento de pelo menos 18 milhões de reais, sete a mais do que os cerca de 11 milhões de reais que faturou no último ano.

O plano também inclui a internacionalização da empresa através de centros de distribuição na Europa, Estados Unidos, Equador e Peru. 

Com o lucro, a empresa investiu em formulações próprias com registro e aprovação sanitária para expandir o negócio. Diferente do início, quando a marca apenas reembalava e revendia itens de terceiros, agora, todos os produtos comercializados pela Barba de Respeito são pensados pela própria marca. A produção ainda é feita em parceria com empresas especializadas em pesquisa e fabricação de cosméticos.

Carro-chefe da empresa, o Blend Original foi o primeiro produto vendido e até hoje é o mais requisitado, com cerca de dez mil unidades vendidas mensalmente. Trata-se de uma mistura líquida que fortalece e ajuda a corrigir falhas e defeitos na barba. O produto, regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com formulação da própria marca, é apenas um no rol dos vários que hoje são comercializados pelo site no Brasil e no exterior. “No mesmo dia em que criamos o site vendemos um produto a 94,90 reais. Pensamos: se vendermos dez produtos por dia, no final do mês estaremos lucrando mais do que com a agência”, diz Camargo. 

Barba, cabelo e bigode

Para manter o sucesso inicial do empreendimento que apenas em seu primeiro ano faturou cerca de 600 mil reais e também para não ficar refém de uma única tendência, a da barba, a empresa precisou diversificar sua gama de produtos. “Com três meses, começamos inserir novos itens na linha, já que no início só vendíamos o Blend Original. A partir daí, fizemos um investimento em formulação própria, e hoje tudo o que vendemos é de formulação própria”, explica Camargo.

Além do suplemento que promete corrigir falhas nos pelos do rosto, atualmente a Barba de Respeito conta com uma linha de cuidados pessoais voltada ao público masculino. Entre shampoos de cerveja para barba e cabelo, esfoliantes para a pele e hidratantes para regiões tatuadas. A marca conta, hoje, com cerca de 35 produtos à venda em seu catálogo.

Em 2016, quando começaram o e-commerce, o setor de cosméticos masculinos faturou 4,5 bilhões de dólares em todo o mundo, um crescimento médio de 3% em relação aos cinco anos anteriores. Segundo o Global Industry Analysts Inc, o mercado global masculino deve duplicar seu crescimento e valerá 43,6 bilhões de dólares até 2020. As quatro empresas líderes deste segmento são Unilever, Procter & Gamble, Colgate-Palmolive e L’Oréal, que juntas representam 50% do mercado.

Camargo garante que, no início, o investimento na marca foi de apenas 35 reais, além da sala de 50m2 que até então abrigava sua agência de marketing. “O que fizemos foi comprar um produto por 35 reais na farmácia e revendê-lo por 94 reais em nosso site. Cada vez que vendíamos uma unidade, comprávamos mais uma. Dessa forma, conseguimos fazer um capital próprio sem nenhum empréstimo ou coisa do tipo, já que somos todos de famílias humildes.”, comenta. 

Devido à maior competitividade no mercado de consumo feminino, o empresário explica que atualmente tudo o que a Barba de Respeito faz é voltado ao público masculino. “Hoje há poucas marcas no Brasil que atendam exclusivamente todas essas necessidades”, explica Camargo, relembrando o início do e-commerce.

“Inicialmente não foi planejado. Nós simplesmente vimos um produto, colocamos ele na internet e deu muito certo. Coincidiu que nós vimos algo que ninguém vendia em um momento em que as barbearias estavam em uma ascensão muito forte. A volta do homem deixar a barba crescer, o estilo hipster… Começamos quando essa tendência estava no auge de seu crescimento”, diz. 

Todo mundo pode?

A narrativa de sucesso do grupo de empresários que criaram um negócio milionário em apenas uma tarde possa parecer uma carta branca para a entrada de qualquer um no mundo dos negócios. Será?   

No caso da Barba de Respeito, como admite o próprio fundador, Thiago Camargo, o sucesso esteve ligado a um fator que não se pode contar quando o assunto é dinheiro: a sorte. Mesmo que a empresa tenha iniciado suas atividades antecipando uma tendência que continua crescendo, o uso da barba, a marca nasceu do acaso, sem um plano de negócios bem definido. Com o amadurecimento do e-commerce, os sócios passaram a entender e determinar a linha do negócio, mas até aí, o sucesso veio como um bilhete premiado. 

Acasos à parte, o grande mérito da Barba de Respeito foi ter conseguido entender uma tendência que estava nascendo e saber como mergulhar nela. Mesmo assim, a marca continua rodeada de inúmeros e gigantes concorrentes do ramo de cosméticos masculinos. Assim como qualquer outro negócio de qualquer outro ramo, o empreendimento que superou expectativas pode tanto continuar surfando na ascensão desse mercado como ser esmagado por ele. 

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