Criado por brasileira nos EUA, biquíni das famosas enfim mira o Brasil
Marca fundada por uma brasileira na Califórnia há 15 anos vende mais de 50.000 peças por mês em todo o mundo com foco no público de alta renda
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2018 às 13h52.
Se você não esteve recentemente nas praias da Grécia ou da Espanha, pode não ter notado, mas uma marca de biquíni brasileira ganhou espaço nas areias mais disputadas do hemisfério norte. Entre seus clientes estão celebridades como Marina Ruy Barbosa, Juliana Paes e Izabel Goulart.
A marca em questão é a ViX, fundada e comandada pela economista capixaba Paula Hermanny, que fez fama entre as consumidoras das lojas chiques dos Estados Unidos e da Europa muito antes de querer conquistar o Brasil. Fundada em 2003, a marca começou a vender suas peças no Brasil em 2007. Neste ano, está expandindo sua rede de lojas próprias no país, com a abertura de três novas unidades.
Dar um passo de cada vez, com segurança, é a filosofia de negócio de Hermanny. “Nunca pedi empréstimo no banco nem tive investidor, a ViX foi avançando com a reaplicação dos seus próprios lucros”, conta a empresária de 45 anos, que aos 20 saiu do Espírito Santo para passar uma temporada estudando inglês em San Diego, na Califórnia, costa oeste dos Estados Unidos.
Apaixonada por praia, a economista surfa desde os 12 anos. “E sempre fui viciada em biquíni, eu pedia até de presente de Natal”, lembra. No seu gosto por moda, também foi influenciada pela avó espanhola, que levava exemplares da revista Vogue europeia para a neta quando a visitava, na infância. “O estilo clássico e sofisticado dela me inspirou muito.”
Ao chegar à Califórnia, a então estudante não conseguia achar nas lojas modelos bonitos de biquíni para comprar. “Naquele tempo, nos Estados Unidos, não havia exatamente uma moda praia. Os trajes de banho eram pensados apenas para a prática de esportes, não para pegar sol. Não tinham estilo”, relata. Surgiu, então, a ideia de importar as peças do Brasil e revender para as americanas.
A economista fez uma parceria com uma fábrica de biquínis do interior do Rio de Janeiro, que seguia as suas orientações para adaptar as peças ao gosto americano – com calcinhas maiores do que as exibidas em Ipanema.
O pulo do gato foi participar de uma feira de vestuário, de onde a empresa da brasileira saiu com encomendas de redes de varejo conceituadas nos grandes centros dos Estados Unidos, como a Urban Outfitters e a Victoria’s Secret. Nessa época, a revista Sports Illustrated, bíblia dos amantes de esportes e da vida ao ar livre, chegou a estampar uma modelo em sua capa usando um biquíni criado por Hermanny.
Lá e cá
Em 2003, Hermanny decidiu que era hora de ter total controle sobre a produção das peças e contratou uma fábrica no interior do Rio para confeccionar as coleções próprias da ViX – sua grife de moda praia foi batizada com o código internacional do aeroporto de Vitória a fim de manter o espírito brasileiro, embora só comercializasse os biquínis em território americano.
A capixaba fez cursos de marketing e de plano de negócios para aprender a administrar seu negócio. Desde o começo, percebeu as vantagens de empreender nos Estados Unidos, onde mora até hoje. “Aqui, as coisas funcionam de um jeito muito redondo”, afirma a economista, que viaja para a capital fluminense, onde mantém um apartamento, cerca de seis vezes por ano. “Tudo acontece conforme estipulado nas regras. Não tem burocracia.”
A operação globalizada da grife só deu certo por causa da simplicidade das regras de comércio internacional e tributos da Califórnia. Um carregamento de biquínis sai do Rio toda sexta-feira e, na segunda seguinte, é pontualmente entregue na sede da marca em San Diego. “Para ter sucesso vendendo nos Estados Unidos, é preciso ser muito sério. Atrasos não são tolerados pelos revendedores”, diz Hermanny.
A situação é bem diferente no Brasil. A ViX importa alguns acessórios aplicados nos biquínis – cordinhas, botões, berloques – da China, porém nunca tem garantias de que vai receber os enfeites no prazo devido às complicações alfandegárias. “Se demorar muito, acaba a temporada e podemos perder toda aquela carga.”
Na avaliação de Hermanny, para além do profissionalismo nos relacionamentos comerciais, a modelagem caprichada, que deixa o biquíni perfeitamente moldado ao corpo, e o cuidado com os detalhes são os diferenciais que fizeram a marca cair nas graças de beldades estrangeiras como a atriz Jessica Biel e Pippa Middleton, irmã da duquesa de Cambridge, Kate Middleton.
Ela afirma que, assim como as brasileiras, nenhuma dessas personalidades estrangeiras ganha os biquínis que usa ou recebe cachê para fazer propaganda. “É tudo espontâneo”, diz a dona da marca, inventora do franzido na calcinha que empina o bumbum e virou febre em 2014.
Dividindo-se entre Estados Unidos e Brasil, a ViX lança três coleções diferentes por ano em cada país (hoje em dia, porém, os estilos são bastante semelhantes). São confeccionados 500 exemplares de cada modelo ou estampa, para que a cliente não corra o risco de encontrar outra banhista com um biquíni igual nas areias de Saint-Tropez.
O custo médio de cada top ou calcinha é de 200 reais, e a empresa vende cerca de 50.000 peças por mês globalmente – dez vezes mais do que no início, em 2003. Como é focada em um público de poder aquisitivo maior, e no mercado internacional, a grife não sentiu os efeitos da crise pela qual a economia brasileira passou nos últimos anos. Em 2018, o crescimento das vendas está em cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano passado.
A marca emprega 250 pessoas em sua fábrica própria em Petrópolis, na região serrana do Rio, e mais 100 na capital do estado para cuidar da administração. O Brasil tem aproximadamente 1.200 indústrias de moda praia, as quais produzem 260 milhões de peças por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
O crescimento da ViX trem sido acelerado, recentemente, pela diversificação de produtos. Além dos biquínis, agora também há shorts, caftãs e blusas no catálogo. As peças para uso depois da praia já respondem por cerca de 50% das vendas. No mês passado, a grife colocou nas araras também um modelo de sunga, em duas cores. “As clientes que iam fazer compras reclamavam que não tinha nada para os seus parceiros”, diz Hermanny.
Ao passo em que, nos Estados Unidos, a distribuição continua concentrada em lojas multimarcas, com o e-commerce alcançando 40% do total, no Brasil a empresa optou por ter pontos de venda próprios em complemento às boutiques autorizadas.
Contando com a localizada no Catarina Fashion Outlet, no interior de São Paulo, aberta neste mês, a de Campinas, que começa suas atividades em outubro, e a de Recife, em novembro, serão12 lojas exclusivas no país. A empresária demorou quatro anos para oferecer seus biquínis no Brasil porque, segundo ela, “como Brasil já tinha muitos ótimos estilistas de moda praia, a ViX poderia não se destacar”.
Vencido o receio, é a hora de acelerar.