Contribuição chinesa ao PIB do Brasil deve perder força
Economistas acreditam que o país só retomará ritmo vigoroso com melhora do cenário global
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2012 às 17h36.
São Paulo - Como se não bastasse o fraco desempenho econômico do Brasil neste ano, uma notícia divulgada nesta sexta-feira conseguiu adicionar mais tensão entre empresários e investidores brasileiros. A China , segunda maior economia do mundo, está desacelerando a olhos vistos. Falar que o país cresceu “apenas” 7,6% no segundo trimestre deste ano parece ironia, mas é um número que preocupa o mercado por ser a menor patamar desde o primeiro trimestre de 2009.
Já era certo que a piora da crise internacional e, consequentemente, a queda da demanda global levariam a China a um cenário de desaquecimento. O dado revelado nesta sexta-feira apenas confirmou a força deste movimento. O temor reinante hoje no Brasil reside nos efeitos dessa desaceleração, haja vista que a atividade econômica doméstica não está em sua plena forma. O IBC-Br, do Banco Central, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 0,02% em maio, após ter crescido apenas 0,10% no mês anterior. Com isso, analistas já revisam – para baixo – suas estimativas de expansão do PIB para este ano.
Na avaliação do economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, o ponto mais preocupante refere-se à diminuição no ritmo de expansão de encomendas, especialmente nos segmentos mineral e agropecuário. “Todos os países emergentes estão sendo impactados pela desaceleração chinesa, já que o país compra muitos produtos primários. Na Ásia, África e América Latina, os efeitos são mais vigorosos”, disse.
Em outras palavras, dificilmente o Brasil será beneficiado por taxas de crescimento das exportações ao mercado chinês tão expressivas como as de 2009/2010 (alta de 52,47%) e 2010/2011 (43,94%). Há três anos, a China é o principal parceiro comercial do país. As exportações nacionais para os chineses somaram 44,3 bilhões de dólares no ano passado – número que representou 17,3% do total das vendas externas, de 256,0 bilhões de dólares.
Roberto Dumas Damas, especialista em economia chinesa do Insper, é um pouco mais incisivo quantos aos efeitos dessa velocidade menor do avanço econômico chinês. Ele destaca que o desaquecimento da economia mundial acabou levando Pequim a procurar novos países consumidores para seus produtos, já que Estados Unidos e Europa diminuíram drasticamente seu patamar de consumo. O Brasil é uma das opções "à mesa". “A China vai intensificar a venda de produtos excedentes ao mercado brasileiro. Com isso, as indústrias têxtil, calçadista e de manufaturados, em especial, serão afetadas pela maior concorrência”, prevê. Em maio, a produção industrial brasileira caiu 0,9%.
Alimentos
Na ponta da exportação brasileira, há uma ressalva a ser feita. Ainda que a China, agora em ritmo mais lento, reduza a intensidade das aquisições de commodities metálicas e energéticas, não se espera impacto significativo nas compras de produtos agrícolas. "As indústrias metalúrgica e de mineração serão as mais afetadas, enquanto a de soja, por exemplo, não deve sentir muito os efeitos já que as pessoas não param de se alimentar”, diz o professor do Insper.
O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Hsia Hua Sheng, é mais otimista. Ele crê que não haverá grande impacto no médio e longo prazo no Brasil porque a estrutura da economia chinesa continua saudável. “É possível que a demanda em relação aos produtos brasileiros sofra pequena redução no curtíssimo prazo devido ao agravamento da crise europeia, que afeta a demanda de produto chinês”, fala. Porém, ele acredita que a economia chinesa vai, aos poucos, adaptar-se a uma 'nova filosofia' de crescimento menor e mais duradouro, passando a contar mais com o próprio mercado interno.
A passos lentos
Damas destaca que a economia chinesa deve demorar pelo menos dois anos e meio para começar a dar sinais de melhora, dependendo da conjuntura internacional, porque seus três pilares de crescimento (consumo, investimentos e exportações líquidas) estão abalados. “O governo está tentando puxar o PIB pelo investimento, já que o consumo não mudará muito e as exportações estão em baixa. A China continuará desacelerando”, afirma.
Em maio, o governo anunciou medidas de estímulo à economia bem mais tímidas do que o megapacote anunciado em novembro de 2008, que garantiu a expansão chinesa em meio à recessão global. Em 7 de junho, o Banco do Povo da China realizou o primeiro corte de juros desde o fim de 2008. Nova redução foi anunciada menos de um mês depois, em 5 de julho, em um sinal de que as medidas de estímulo adotadas até então não estavam surtindo o efeito desejado.
Os economistas ouvidos pelo site de VEJA afirmam que está muito distante o momento em que a economia da China terá contribuição mais significativa de sua demanda interna. O país, apesar de seu inegável desenvolvimento, ainda convive com milhões de pessoas com patamar de renda muito baixo. Adicionalmente, seu mercado de crédito não é tão desenvolvido e as famílias têm costume de poupar, em detrimento do consumo.
São Paulo - Como se não bastasse o fraco desempenho econômico do Brasil neste ano, uma notícia divulgada nesta sexta-feira conseguiu adicionar mais tensão entre empresários e investidores brasileiros. A China , segunda maior economia do mundo, está desacelerando a olhos vistos. Falar que o país cresceu “apenas” 7,6% no segundo trimestre deste ano parece ironia, mas é um número que preocupa o mercado por ser a menor patamar desde o primeiro trimestre de 2009.
Já era certo que a piora da crise internacional e, consequentemente, a queda da demanda global levariam a China a um cenário de desaquecimento. O dado revelado nesta sexta-feira apenas confirmou a força deste movimento. O temor reinante hoje no Brasil reside nos efeitos dessa desaceleração, haja vista que a atividade econômica doméstica não está em sua plena forma. O IBC-Br, do Banco Central, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 0,02% em maio, após ter crescido apenas 0,10% no mês anterior. Com isso, analistas já revisam – para baixo – suas estimativas de expansão do PIB para este ano.
Na avaliação do economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, o ponto mais preocupante refere-se à diminuição no ritmo de expansão de encomendas, especialmente nos segmentos mineral e agropecuário. “Todos os países emergentes estão sendo impactados pela desaceleração chinesa, já que o país compra muitos produtos primários. Na Ásia, África e América Latina, os efeitos são mais vigorosos”, disse.
Em outras palavras, dificilmente o Brasil será beneficiado por taxas de crescimento das exportações ao mercado chinês tão expressivas como as de 2009/2010 (alta de 52,47%) e 2010/2011 (43,94%). Há três anos, a China é o principal parceiro comercial do país. As exportações nacionais para os chineses somaram 44,3 bilhões de dólares no ano passado – número que representou 17,3% do total das vendas externas, de 256,0 bilhões de dólares.
Roberto Dumas Damas, especialista em economia chinesa do Insper, é um pouco mais incisivo quantos aos efeitos dessa velocidade menor do avanço econômico chinês. Ele destaca que o desaquecimento da economia mundial acabou levando Pequim a procurar novos países consumidores para seus produtos, já que Estados Unidos e Europa diminuíram drasticamente seu patamar de consumo. O Brasil é uma das opções "à mesa". “A China vai intensificar a venda de produtos excedentes ao mercado brasileiro. Com isso, as indústrias têxtil, calçadista e de manufaturados, em especial, serão afetadas pela maior concorrência”, prevê. Em maio, a produção industrial brasileira caiu 0,9%.
Alimentos
Na ponta da exportação brasileira, há uma ressalva a ser feita. Ainda que a China, agora em ritmo mais lento, reduza a intensidade das aquisições de commodities metálicas e energéticas, não se espera impacto significativo nas compras de produtos agrícolas. "As indústrias metalúrgica e de mineração serão as mais afetadas, enquanto a de soja, por exemplo, não deve sentir muito os efeitos já que as pessoas não param de se alimentar”, diz o professor do Insper.
O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Hsia Hua Sheng, é mais otimista. Ele crê que não haverá grande impacto no médio e longo prazo no Brasil porque a estrutura da economia chinesa continua saudável. “É possível que a demanda em relação aos produtos brasileiros sofra pequena redução no curtíssimo prazo devido ao agravamento da crise europeia, que afeta a demanda de produto chinês”, fala. Porém, ele acredita que a economia chinesa vai, aos poucos, adaptar-se a uma 'nova filosofia' de crescimento menor e mais duradouro, passando a contar mais com o próprio mercado interno.
A passos lentos
Damas destaca que a economia chinesa deve demorar pelo menos dois anos e meio para começar a dar sinais de melhora, dependendo da conjuntura internacional, porque seus três pilares de crescimento (consumo, investimentos e exportações líquidas) estão abalados. “O governo está tentando puxar o PIB pelo investimento, já que o consumo não mudará muito e as exportações estão em baixa. A China continuará desacelerando”, afirma.
Em maio, o governo anunciou medidas de estímulo à economia bem mais tímidas do que o megapacote anunciado em novembro de 2008, que garantiu a expansão chinesa em meio à recessão global. Em 7 de junho, o Banco do Povo da China realizou o primeiro corte de juros desde o fim de 2008. Nova redução foi anunciada menos de um mês depois, em 5 de julho, em um sinal de que as medidas de estímulo adotadas até então não estavam surtindo o efeito desejado.
Os economistas ouvidos pelo site de VEJA afirmam que está muito distante o momento em que a economia da China terá contribuição mais significativa de sua demanda interna. O país, apesar de seu inegável desenvolvimento, ainda convive com milhões de pessoas com patamar de renda muito baixo. Adicionalmente, seu mercado de crédito não é tão desenvolvido e as famílias têm costume de poupar, em detrimento do consumo.