Controlar o estoque e o capital de giro é a recomendação dos especialistas (Creative Commons/Aurelízia Lemos/Site Exame)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2011 às 05h24.
São Paulo – Para quem viveu na época em que a inflação era um pesadelo, ver que o índice começa a subir um pouco já é motivo para preocupação. Anunciada ontem, a inflação de janeiro foi de 0,83%. É a maior taxa mensal desde abril de 2005. Pela previsão dos analistas, publicada no Boletim Focus, o índice oficial para o ano deve ficar em 5,66%. Bem acima da meta do governo, de 4,5%.
Segundo o professor de finanças do curso de Administração da ESPM, André Accorsi, as pequenas empresas são diretamente afetadas por esse movimento. “A inflação é uma redistribuição de renda. Com isso, perdem os segmentos menos organizados: os que vivem de salários e as pequenas empresas que têm um poder de pressão menor”, diz.
O aumento da inflação impacta os empresários de pequeno porte de duas maneiras principais: no estoque e na busca por crédito. “Se a gente tem uma inflação subindo, a cada dia que passa o estoque está se depreciando e a inflação, comendo aquele valor. Quanto maior for a inflação, maior deve ser o controle sobre o estoque”, explica Maurício Galhardo, sócio-diretor da Praxis Education.
A inflação em alta faz com que o Banco Central mexa na taxa de juros para conter o aumento. A taxa Selic aumenta e faz com que os bancos aumentem também as taxas de empréstimos para as empresas. “Nesse sentido, as empresas em geral acabam pagando mais caro. As pequenas levam desvantagem por não ter um poder de negociação”, esclarece Accorsi. Isso afeta, de cara, o capital de giro que o negócio precisa.
O problema talvez não leve as empresas à falência mas barra o crescimento. “Em geral, a pequenas empresas têm ideias excelentes e precisam de capital do banco. O negócio se mantém mas não consegue crescer. A inflação não é um bom sócio”, diz o professor da ESPM.
Como evitar problemas
Prestar atenção no estoque e no capital de giro é a recomendação dos especialistas para evitar que o inflação impacte no negócio. Galhardo calcula que o empresário pode ter de 3% a 5% de perdas por causa do aumento da inflação em 1%.
Cuidar do estoque não é uma tarefa simples e muitos empresários não têm tempo para isso. “Se você compra e já vende nos primeiros dias, você está administrando bem esse estoque. Se vende depois de um mês, no máximo, tem um período curto de inflação impactando. Mas, se leva muito tempo, acaba tendo um desconto, mas o preço pago na compra permanece o mesmo”, ensina Galhardo.
Para não ter que correr ao banco em busca de empréstimos quando a empresa entrar no vermelho, a dica é fazer um planejamento financeiro detalhado e acompanhá-lo mês a mês. “Se você tem consciência e planejamento, você pode ganhar com a inflação mais alta. Quando sobrar dinheiro, faça um investimento, já pensando que daqui alguns meses pode ser que o negócio precise desse valor”, diz o executivo da Praxis Education.
Não é o que a maioria faz. Pouco adepto da poupança, o empresário brasileiro não costuma olhar para os próximos meses e prever quando vai precisar de dinheiro. Quando as contas não fecham, muitos optam pelo cheque especial ou pela antecipação de recebíveis. “O banco ou a factoring vai descontar uma taxa e o dinheiro entra para cobrir o buraco. Mas quem não tem um planejamento bem estruturado e um fluxo de caixa organizado não sabe quanto dinheiro pode antecipar”, explica Galhardo. Com taxas de juros cada vez mais altas, o empresário acaba perdendo o que mais importa em um negócio, o lucro.
Para incentivar a venda, muita gente dá mais prazo para o pagamento e normalmente não tem caixa para se manter e pede dinheiro no banco. “Com uma taxa de 3% para a antecipação, por exemplo, em três meses, já virou 9%. Vale mais a pena oferecer um desconto de 5% e incentivar a compra à vista para ter dinheiro no caixa”, conta o diretor da Praxis.