Unidade da Cia. da Consulta em Guarulhos (Cia da Consulta/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 20 de dezembro de 2021 às 08h00.
Última atualização em 29 de dezembro de 2021 às 10h33.
A Cia. da Consulta, rede de clínicas e tecnologia voltada à saúde, está levantando investimento para expandir sua atuação em um mercado em transformação. Com nove clínicas na Grande São Paulo, a rede que nasceu com foco no público sem plano de saúde já fez cerca de 200 mil atendimentos. Agora quer crescer com parcerias com os planos de saúde. “Nosso foco é ampliar o acesso à saúde de qualidade”, afirma o fundador Victor Fiss.
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Fiss vem de uma família de médicos e começou o projeto quando tinha apenas 19 anos. Ele cursava administração no Insper, e abandonou o curso para se dedicar à ideia. O projeto nasceu em 2016 com um piloto dentro de uma faculdade de medicina. Com os testes feitos, o empreendedor foi em busca de investidores para colocar o negócio de pé.
Dentre os investidores que apostaram na ideia ainda no “Power Point” estão nomes como Marcel Telles, da 3G Capital, Claudio Haddad, fundador do Insper, e Elie Horn, fundador da construtora Cyrela (que não está mais no negócio). “Eu não conhecia nenhum deles, fui com a cara de pau e a pasta embaixo do braço, procurando eventos em que sabia que eles estariam”, diz Fiss. De lá para cá, a Cia. da Consulta já levantou 45 milhões de raeis em investimento.
De 2017 a 2019, o foco da companhia esteve no atendimento ao público sem plano de saúde, com atenção primária, secundária e exames. Para isso, a rede abriu unidades em pontos estratégicos na Grande São Paulo, como shopping centers e locais próximos ao transporte público. O Brasil tem cerca de 160 milhões de pessoas fora do sistema de saúde suplementar, público que está cada vez mais na mira de empresas do setor. As soluções disponíveis no mercado têm se multiplicado, com planos de saúde mais baratos (como é o caso de QSaúde e Sami), e assinaturas que dão direito a desconto em consultas e exames (como faz a Dr. Consulta, pioneira na oferta de serviços para esse segmento da população).
Um dos principais focos da Cia. da Consulta para fazer um bom atendimento com preço acessível foi a estruturação de um modelo de remuneração dos profissionais visando garantir a qualidade do atendimento ao paciente. “Investimos em um modelo que garante alinhamento do médico com a qualidade do tratamento, com incentivos para a entrega de uma boa experiência ao cliente. Meu médico não tem incentivo para gerar custo desnecessário”, afirma Fiss. Para isso, uma das ferramentas usadas é o NPS (Net Promoter Score), metodologia que mede a satisfação do cliente numa escala de -100 a 100.
Outro investimento importante foi em tecnologia. “As soluções que encontramos no mercado não funcionavam bem, o agendamento demorava, a personalização era mais difícil. Decidimos desenvolver a nossa própria tecnologia”, diz. A Cia. da Consulta criou então uma solução que é usada em toda a operação, o que deu autonomia e flexibilidade ao negócio.
Em 2020, com a chegada da pandemia, a empresa precisou se adaptar e acelerar alguns planos. As clínicas localizadas em shoppings ficaram fechadas, o que impactou a receita. Porém, como a tecnologia da operação era própria, a adaptação à nova realidade foi rápida, e em duas semanas a Cia. da Consulta conseguiu implementar o atendimento via telemedicina, além da testagem domiciliar.
As mudanças levaram a empresa a olhar também para outra fatia do mercado, buscando soluções para atender as operadoras de planos de saúde. “Eu tinha capilaridade, tinha qualidade, meu NPS é de 85, e tinha um modelo diferenciado de gestão do corpo clínico. Então tinha todos os pilares para oferecer um serviço diferenciado para o mercado”, diz.
A nova frente se acelerou em 2021, e a companhia vai fechar o ano com o dobro do faturamento de 2020. A meta para 2022 é dobrar novamente.
Dentre os projetos neste segmento está um acordo com a operadora de planos Amil para a criação de cinco clínicas odontológicas, no modelo white label -- ou seja, a clínica atende apenas beneficiários da Amil, mas é operada pela Cia. da Consulta.
“É um modelo em que a nossa empresa tem total alinhamento de incentivos com a Amil, para entregar nível de serviço e qualidade técnica, mas também olhando para indicadores financeiros, para garantir que estamos entregando uma sinistralidade baixa”, diz.
A solução responde a uma dor antiga do sistema de saúde suplementar que é a relação muitas vezes dissonante entre operadora do plano de saúde e o prestador de serviço médico, como hospitais e clínicas. No modelo de remuneração mais difundido, o fee for service, o prestador recebe por cada atendimento realizado. No limite isso leva a uma lógica em que o prestador ganha mais se o paciente precisar ser atendido mais vezes, gerando mais custos para as operadoras e afetando a qualidade de vida do cliente.
Outra parceria recente é com a operadora QSaúde, na qual as clínicas da Cia. da Consulta entram como rede credenciada para um produto recém lançado pela operadora, o plano QFácil, com mensalidades a partir de 163 reais. A rede também está credenciada na São Cristóvão e na Unimed.
Como atrativo para as operadoras, a Cia. da Consulta oferece modelos de remuneração diferenciados, nos quais ela própria assume parte do risco. Há por exemplo o pagamento de um valor fixo mensal, em uma espécie de assinatura, ou o modelo híbrido, com parte da remuneração fixa e parte variável. Hoje a frente de atendimento às operadoras de planos de saúde já responde por mais de 60% do faturamento da empresa.
A meta agora é levantar dinheiro para ampliar os investimentos em tecnologia e vendas e expandir a rede de clínicas. Os atendimentos particulares continuam, mas o foco principal passou a ser as parcerias com planos de saúde e outros players do setor, como hospitais.
A avaliação é de que todas as novas soluções de saúde que estão surgindo no mercado têm um ponto em comum: o paciente vai precisar ser atendido em algum lugar. E a Cia. da Consulta tem um modelo que oferece eficiência e qualidade para fazer esse atendimento, independentemente da porta de entrada.
A mudança de foco do cliente final para a operadora não muda o objetivo da empresa, traçado lá em 2016, que é ampliar o acesso à saúde de qualidade no setor privado. “Com nossos modelos de remuneração, trazemos mais previsibilidade para as operadoras, e assim elas conseguem ter preços mais agressivos. Com isso, continuo no meu propósito de melhorar o nível de serviço do setor de saúde e dar mais acessibilidade”, afirma.
Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.