Após vender Waze por US$ 1,3 bilhão ao Google, o que faz Uri Levine?
O cofundador do aplicativo para evitar engarrafamentos recusou um cargo no Google para continuar empreendendo e investindo
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de abril de 2019 às 14h00.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 14h00.
O economista israelense Uri Levine é mais conhecido por um dos criadores do aplicativo para evitar engarrafamentos Waze , vendido ao Google por 1,3 bilhão de dólares em 2013 -- mas ele não quer depender de apenas uma história de sucesso.
Levine cofundou o Waze em 2007, junto com os cientistas da computação Amir Shinar e Ehud Shabtai. Ele foi o único a não aceitar um cargo de diretoria no Google após a compra do aplicativo, hoje usado por 250 milhões de motoristas. Parte dos 38 milhões de dólares obtidos com a venda foi revertida para novas startups de Levine, seja como fundador ou como investidor.
O empreendedor participa de 12 startups. Está como cofundador ou fundador na Engie, que analisa a situação de automóveis antes da visita a um mecânico; na FairFly, que monitora tarifas aéreas mesmo após a reserva de um voo; na FeeX, que expõe taxas desconhecidas pelos usuários; na Fibo, que permite a empregados preencherem seus impostos de maneira simples; na Life Care, aparelho de monitoramento da saúde de idosos; na Refundit, uma plataforma de reembolso simples de impostos sobre consumo; e na Roomer, marketplace para vender reservas de hotéis que não teriam reembolso.
Como investidor e/ou membro do conselho de administração, Levine atua na Here, plataforma global de localização pública; na Moovit, o Waze para transportes públicos; na SeeTree, que permite administrar colheitas de forma inteligente; na WeTrip, plataforma de planejamento de viagem para millenials; e na ZeeK, marketplace de crédito não utilizado. A SeeTre anunciou hoje sua chegada ao Brasil, concentrando-se em fazendas de frutas cítricas em São Paulo.
Mesmo assim, o principal alvo de Levine continua em sua terra natal, Israel. Apelidado de “nação das startups”, o país aparece constantemente em listas de vendas de startups e possui negócios inovadores em setores como cibersegurança, indústria automotiva, inteligência de negócios e internet das coisas com aplicação industrial. Segundo o estudo Global Startup Ecosystem Report, Israel é o país com mais startups per capita do mundo.
Em passagem pelo país para uma palestra sobre empreendedorismo no C6 Bank, Levine falou a EXAME sobre o que tornou o Waze tão bem sucedido; qual sua tese de investimento em novos negócios; e o que falta para o Brasil ter um ecossistema de empreendedorismo tão forte quanto Israel.
Confira, abaixo, os principais trechos da conversa com Uri Levine:
EXAME -- O Waze foi lançado em 2009, quando smartphones ainda estavam começando. Por que vocês investiram em um aplicativo de navegação naquela época?
Uri Levine -- O Waze não é apenas para navegação, mas para a idas e voltas diárias. Combinamos o smartphone com o sistema de posicionamento global para evitar engarrafamentos. Esse é o principal benefício visto pelos usuários do Waze e a razão para seu uso diário e sua expansão em diversos mercados, incluindo o brasileiro. A simplicidade de uso também foi um grande incentivador para o crescimento. Se você criar valor aos seus usuários, você terá um negócio bem sucedido.
O suporte do ecossistema de empreendedorismo israelense, de empreendedores a investidores e apoiadores públicos, foi fundamental para o crescimento do Waze?
Mais startups são criadas por ano em Israel do que no Brasil, mesmo que tenhamos populações respectivas de 8 milhões e 200 milhões de habitantes. Nosso ecossistema é mais poderoso, inclusive pelo investimento do governo. Se eu investisse em uma startup do Brasil, teria de pagar impostos. Em Israel, não se paga imposto na mesma situação e isso encoraja investidores a entrarem nesse mercado.
Por que você decidiu recusar continuar no Waze, por meio de um cargo no Google, e no lugar investir em startups?
Eu sou um empreendedor, estou sempre construindo startups, seja como fundador, adquirindo ou participando do processo. E tenho sido bem-sucedido nisso, com casos como Engie, Moovit e SeeTree.
Qual sua tese de investimento em empreendedores e suas startups?
Eu geralmente começo ajudando com aconselhamentos, e não apenas investindo. A maioria desses contatos é feita antes mesmo do negócio começar. Empreendedores vêm até mim e, se vejo um problema que merece ser solucionado, converso com os empreendedores sobre como performar bem e executar os planos e resolver as questões propostas de maneira real. Se eles decidirem construir a empresa, ajudamos nesse estágio inicial e eu posso me tornar o primeiro investidor, com uma rodada de capital semente. Tenho um fundo, chamado Founders Kitchen, que cuida da parte de investimento.
Quantas startups você já ajudou?
Hoje estou em 12 startups e para mim já é suficiente no momento. Mas, com o tempo, esses negócios precisarão menos do meu tempo. Vamos continuar investindo nas startups atuais e, nos próximos anos, procuraremos outras.
Essa relação de aconselhamento falta no ecossistema de empreendedorismo brasileiro?
Há diversas pessoas apaixonadas por negócios e dispostas a ajudar outros empreendedores no Brasil. O que falta é uma estrutura, um modelo a ser seguido, que faça essas combinações entre empreendedores que buscam ajuda e empreendedores experientes serem mais frutíferas. Essas relações são mandatórias para criar um ecossistema de empreendedorismo de alto desempenho.