A trajetória de 6 estilistas depois que venderam suas marcas
Entre brigas e aumento na receita, a venda para grandes grupos teve resultados diferentes para vários estilistas brasileiros
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2014 às 12h49.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h14.
São Paulo – Coleções leves, femininas e fluidas têm sido vistas nos últimos dias nas passarelas da São Paulo Fashion Week . Por trás de boa parte dos estilistas que desfilam estão grandes grupos de moda , como a Inbrands e a AMC Têxtil. O que parece funcionar muito bem lá fora, com grupos como o LVMH, que comanda grifes como Louis Vitton e Fendi, não deu tão certo para os empreendedores brasileiros. “Eu vejo com muito pesar que no Brasil esse movimento não tenha funcionado na maioria das vezes em bons termos”, diz Lorenzo Merlino, professor do curso de design de moda da FAAP. Do ponto de vista de mercado, os grupos costumam trazer logística e operação mais eficientes, mas esbarram no modelo de negócio dos estilistas, muitos ainda têm processos artesanais e que demoram a ganhar escala. “O grande problema é que roupa não é um produto. Você vende uma imagem, um desejo e muitas vezes o industrial não entende isso”, explica. Há casos, no entanto, bem sucedidos deste formato. “O Alexandre [Herchcovitch] tem um produto de qualidade, de design, pertencendo a uma estrutura de grande grupo. Ele está conseguindo equacionar isso. Não é impossível”, diz. Veja o destino de seis estilistas depois que venderam suas marcas.
Herchcovitch é um dos nomes mais promissores da moda brasileira. Em 2008, vendeu sua marca para o grupo Inbrands, que detém também o próprio São Paulo Fashion Week. O estilista passou a atuar na direção criativa da marca. Tem lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Tóquio. Assina linhas para redes como Zelo e Tok&Stok. Apesar dos boatos de que o relacionamento entre estilista e grupo estaria estremecido, Herchcovitch nega desentendimentos. Sua parceria com o grupo teria sido acordada até 2015.
Tufi Duek começou cedo a trabalhar no mercado de moda. A Triton, sua primeira marca, foi criada ainda nos anos 70. Depois, vieram Forum e Tufi Duek, dando origem ao grupo TF Modas. Em 2008, vendeu suas marcas ao grupo AMC Têxtil, o mesmo que controla a Coca Cola Clothing e a Colcci, por mais de 200 milhões de reais. Depois da aquisição, Tufi ficaria três anos como diretor criativo da marca, mas se afastou em 2009. Depois de um hiato de 5 anos, o estilista volta ao mercado de moda através da grife de sua filha, Carina Duek.
Fause Haten teve um dos casos mais polêmicos de aquisições deste mercado. Em 2008, o estilista vendeu sua grife para o grupo I'M (Identidade Moda). Cinco meses depois, se desligou do cargo de diretor criativo por não ter recebido o combinado em contrato. Brigou na justiça para ter de volta a marca e sua loja. No mesmo ano, começou a desenhar suas coleções de forma independente sob a marca FH. Músico e ator, Fause desenha seus modelos hoje em um espaço em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
No mercado de moda desde os 18 anos, Marcelo Sommer passou por marcas como Zoomp e Calvin Klein e criou sua própria etiqueta, a Sommer. Em 2004, o estilista vendeu a marca ao grupo AMC Têxtil e ficou encarregado da direção criativa. Dois anos depois, ele deixou o grupo e passou a se dedicar a projetos esporádicos, como consultorias para redes de fast fashion e coleção em parceria com grandes redes como o supermercado Extra. Comandou ainda a marca Do Estilista, até 2010. Hoje, trabalha com parcerias com grandes redes, figurinos, uniformes e licenciamento de sua marca.
Em 1993, Amir Slama assumiu a pequena confecção do pai e deu vida à grife Rosa Chá, de moda praia. Em 2006, o grupo Marisol comprou parte da marca e, dois anos depois, Amir vendeu 100% do negócio e saiu da grife. Especula-se que a venda tenha sido de 25 milhões de reais e a saída do estilista estaria ligada a desentendimentos. Em 2012, o grupo Restoque, dono da Le Lis Blanc, comprou marca do Marisol por 10 milhões de reais. Desde 2012, Amir desenvolve sua marca S.A.W, de moda íntima, e faz licenciamentos, como uma linha que leva seu nome para a marca de cosméticos Phebo.
A estilista carioca Isabela Capeto vendeu, em 2008, 50% de sua grife para a Inbrands, que comanda as marcas Alexandre Herchcovitch e Richards. Depois de três anos, e vários desentendimentos, Isabela desfez o acordo e voltou a atuar de maneira independente. Nesse meio tempo, duas lojas da estilista haviam sido fechadas. Até hoje, Isabela abriu apenas um novo ponto no Rio de Janeiro.