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A franquia que cabe na mochila

Tom Cardoso  O empresário Marcos Mendes tomou quatro grandes decisões na vida: só acertou na terceira. Com 1m98 de altura e algum talento para o esporte, tentou ser jogador de basquete. Jogou uma temporada no Corinthians até chegar ao Clube Esperia, na época – anos 1980 – uma das forças do basquete brasileiro. Desistiu ao […]

MARCOS MENDES, DA ACQUAZERO: o investimento para se tornar franqueado com uma mochila começa em 3.499 reais / Isadora Brant/Folhapress
DR

Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2016 às 10h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h54.

Tom Cardoso

O empresário Marcos Mendes tomou quatro grandes decisões na vida: só acertou na terceira. Com 1m98 de altura e algum talento para o esporte, tentou ser jogador de basquete. Jogou uma temporada no Corinthians até chegar ao Clube Esperia, na época – anos 1980 – uma das forças do basquete brasileiro. Desistiu ao perceber que não teria grandes chances de buscar a independência financeira como atleta amador. Partiu para um carreira mais segura, na área de TI, que lhe deu, de fato, estabilidade econômica, mas não prazer: passava as madrugadas gerenciando as plataformas de empresas, sem tempo para o filho, que acabara de nascer. Depois, tentou conciliar a vida profissional com um pequeno negócio, um lava-rápido, que não durou muito, afetado pela ausência do dono.

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Por ironia do destino, depois de passar por várias crises, existenciais e econômicas, Mendes foi beneficiado por duas delas: a crise financeira que assola o país e a crise hídrica, que afetou diariamente a rotina dos paulistanos a partir de 2014. Com o conhecimento adquirido durante a experiência como dono de um lava-rápido tradicional, Mendes decidiu apostar todas as fichas numa nova tendência, a limpeza ecológica de carros, que dispensava o uso de grande quantidade de água. Nascia a Acquazero, em 2009, que só se consolidou como franquia a partir do recrudescimento da crise hídrica e econômica. “Havia um preconceito muito grande do cliente em relação a serviços de limpeza de carros que não seguiam o modelo tradicional”, afirma Mendes, que, em seu sistema, usa apenas 300 ml de água para cada veículo. “Com a crise hídrica, essa desconfiança praticamente desapareceu”.

O brasileiro postergou o plano de comprar o carro zero – em julho, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontou queda de 21,5% na venda de veículos novos em relação ao mesmo período do ano passado – e passou, consequentemente, a ter mais cuidado com o seu usado. Esse fenômeno fez com que a Acquazero fechasse o primeiro semestre deste ano faturando 20% a mais e corrigindo suas previsões. A franquia deve praticamente dobrar de tamanho até o fim de 2016, pulando das atuais 250 unidades para 460. Em 2015, a Acquazero fechou com faturamento na casa dos 30 milhões de reais.

Mendes estava com a ideia certa no lugar certo e tinha uma oferta simples e direta para clientes e franqueados. O problema: a Acquazero era facilmente copiável. Com o aumento do desemprego, segundo Mendes, os candidatos a franqueado estavam migrando para outras franquias de limpeza ecológica com menos força no mercado, mas que ofereciam a oportunidade de investimento menor.

A solução foi apostar num modelo de negócios que até existia dentro da empresa, mas não era prioridade. A ideia era que o franqueado, com um investimento pequeno, usasse um carrinho de fibra com os produtos de limpeza para ir até o cliente. Em maio deste ano, a Acquazero melhorou o negócio e criou a “Franquia da Mochila”, que permite ao franqueado transportar, de carro, moto, ônibus e até mesmo de bicicleta, os mesmos produtos até o cliente, carregando apenas três quilos carga na mochila.

O investimento para se tornar franqueado nessa modalidade começa em 3.499 reais. Até o fim do ano, a Acquazero pretende contar com 60 unidades deste modelo. Segundo Mendes, o faturamento já no primeiro mês pode chegar a 5.000 reais.

Vai saber. O fato é que franquias de outros setores também investem em modelos parecidos – pequenos, baratos e sob medida para os 12 milhões de desempregados Brasil afora. É o caso da Retrô Gol, franquia especializada na venda de camisas retrô de futebol, que lançou a Bike Store, inspirada nas “food bikes”, bicicletas adaptadas para a venda comida. A Bike Store nada mais é do que uma bicicleta acoplada a um armário, que simula uma loja na bicicleta e que fica parada em pontos estratégicos de shopping centers. Já a Cheirin Bão, franquia especializada em café artesanal, também com quiosques em shoppings, acaba também de lançar um modelo reduzido, um mini-quiosque, que pode ser levado para eventos e festas.

“Essa é uma tendência muito forte, com investimento pequeno e risco reduzido”, afirma Eládio Toledo, consultor da US Franchising. As franquias de mochila têm tudo a ver com a crise. A dúvida é o que acontece quando a bonança voltar – seja em 2017, ou um pouco mais pra frente.

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