6 segredos para empreender tendo um emprego ao mesmo tempo
Quer ser dono do próprio negócio, mas sem abrir mão da segurança de seu atual emprego? Veja o que fazer
Anderson Figo
Publicado em 11 de abril de 2017 às 06h00.
Última atualização em 11 de abril de 2017 às 06h00.
São Paulo - Um dia inteiro afundado em reuniões e resolvendo problemas. À noite, em vez de descanso, um segundo turno de trabalho. Você teria fôlego para isso? Muitos empreendedores têm.
São geralmente pessoas recém introduzidas no mundo do empreendedorismo e que não querem abrir mão da segurança de ter um emprego fixo enquanto se arriscam a abrir o próprio negócio. Mas tudo isso tem um preço.
“É possível, mas não é nada fácil”, diz David Kallás, professor de estratégia do Insper . “É preciso fazer um excelente planejamento, especialmente se estiver começando um negócio do zero. Também é imprescindível ter consciência do tamanho do desafio.”
Não existe uma receita para o sucesso, mas prestar atenção nas seis dicas abaixo pode fazer toda a diferença se você estiver pensando em entrar para o time dos empreendedores com emprego fixo.
1) Acerte na escolha do negócio
A escolha do negócio é extremamente importante, já que você não vai poder dedicar 100% do seu dia a ele.
“Um posto de gasolina, por exemplo. Se você esquecer a loja de conveniência, terá poucos produtos à venda. É possível controlar o fluxo financeiro de um negócio como esse com pouco envolvimento. Não precisa estar lá para isso”, diz Kallás.
“Quando você pensa em empresas de tecnologia, startups digitais, você também não precisa estar presencialmente em algum lugar para controlá-las. Eventualmente, você consegue fazer isso nos intervalos do seu dia”, completa o professor.
Para Newton Campos, professor e coordenador do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVcepe) da FGV , escolher um negócio já pronto pode ajudar quem quer empreender sem largar o emprego.
“É o chamado empreendedorismo por aquisição. Em vez de começar algo do zero, a pessoa compra o que já está funcionando. Isso facilita um pouco a gestão. Os desafios serão mais parecidos com o que ela já sabe fazer”, diz.
“Por isso que as franquias costumam dar certo para quem não quer deixar o emprego. Elas já têm uma receita. É uma boa estratégia para quem está começando.”
2) Faça tudo às claras
Se você está pensando em abrir o próprio negócio, mas não pretende falar com seu chefe sobre isso, já começou mal. “A melhor opção é mesmo ser sempre verdadeiro. Sou da opinião de que se você está escondendo alguma coisa, é porque essa coisa não é boa, senão não esconderia”, diz Kallás, do Insper.
Ao abrir o jogo com seu chefe, avisando que está montando um negócio próprio, mas que segue comprometido com a empresa e com suas metas, muito provavelmente ele vai interpretar a iniciativa como corajosa, uma demonstração de responsabilidade, maturidade e vontade de obter crescimento profissional.
“Por outro lado, se ele descobre que você está fazendo isso sem avisá-lo, e ele vai descobrir porque uma hora este tipo de notícia sempre vem à tona, então a única interpretação que ele pode ter é de que você não está satisfeito na companhia e isso não é nada bom para você”, avalia o professor do Insper.
3) Cada um no seu quadrado
Tome muito cuidado para não misturar seu trabalho com o novo projeto. “O ideal é que uma pessoa contribua para o negócio com o que ela tem de melhor. Pode ser uma ampla rede de contatos, uma carteira consolidada de clientes etc. Mas isso não pode, de jeito algum, entrar em conflito com o trabalho formal”, explica Campos, da FGV.
Por exemplo, se você for contratado por uma empresa que vende computadores e passar a ser sócio de um negócio que vende peças para computadores, muito provavelmente as carteiras de clientes de ambas as companhias entrarão em conflito.
“Você não pode aproveitar os clientes do seu trabalho para oferecer produtos vendidos pelo seu negócio próprio. Isso é errado e o seu empregador pode até mesmo processá-lo caso descubra”, afirma Campos. “Uma solução adequada, nesse caso, seria propor algum tipo de parceria entre as empresas.”
4) Não se esqueça das finanças
A má administração do dinheiro é uma das principais causas de falência das novas empresas. De acordo com Kallás, do Insper, a primeira coisa que se deve fazer ao abrir um negócio é criar uma conta bancária da companhia. Isso vale principalmente quando você mantém o trabalho formal e, portanto, recebe rendimentos de dois canais distintos.
“O dinheiro do negócio vai para a conta do negócio e o seu salário do emprego formal vai para a conta pessoal. Não dá para deixar tudo junto em uma conta só. Mesmo se você contar com parte do seu salário mensal para reforçar o caixa da nova empresa, deve retirar a parcela da conta pessoal e colocar na conta jurídica”, afirma.
A medida se torna ainda mais importante se você não for o único dono do seu negócio. “Quando há sociedade, ter uma conta jurídica que possa ser movimentada por todos os sócios é também uma forma organizada e mais clara de prestação de contas. Todo mundo pode acompanhar o que está sendo feito a todo momento”, diz Campos, da FGV.
5) Mantenha bons relacionamentos
Virei chefe, posso ser esnobe. Este é um pensamento que você deve abominar o quanto antes. Mesmo que o seu negócio esteja indo bem e quase andando com as próprias pernas, não faz o menor sentido você desprezar seu colegas de trabalho.
“A probabilidade de um negócio recém formado não dar certo é alta, então você não pode pisar na bola com quem ainda aposta em você. Nunca se sabe quando você vai precisar das pessoas ou não. Contato é tudo. Não pode ‘se queimar’ na profissão, mesmo que o seu novo negócio seja em outra área. A gente nunca sabe o dia de amanhã”, afirma o professor da FGV.
6) Não menospreze o custo social
Com um segundo turno de trabalho, você já sabe: vai sobrar menos tempo para família e amigos. Esta é uma questão que deve ser considerada, uma vez que afeta diretamente sua vida social.
O grande desafio é conseguir administrar tudo sem deixar nenhum prato cair. Algumas vezes será preciso trabalhar até de madrugada, durante um almoço de família ou até mesmo em um “dia de folga”, faz parte. A família tem que estar consciente disso, explica Campos.
“Especialmente os negócios que partem do zero demandam muita energia e tempo. São muitos aborrecimentos, comemorações, mas também frustrações. Abrir um negócio é uma montanha-russa de emoções: num dia você está super feliz porque fechou um grande contrato, e no dia seguinte está triste porque seu principal funcionário te deixou.”