10 passos para ser um empreendedor louco (isso é um elogio)
Thomas Edison, Walt Disney e outros tantos empreendedores foram considerados malucos antes que seu negócio decolasse. Veja como entrar para este clube.
Mariana Desidério
Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 05h04.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h20.
São Paulo – Você tem uma ideia de negócio meio maluca? Ou ainda, já adotou métodos pouco ortodoxos para conseguir colocar sua empresa de pé? Pois saiba que você não está sozinho. Segundo Linda Rottenberg, fundadora da Endeavor – uma rede mundial de apoio a pequenos e médios negócios – boa parte dos empreendedores bem sucedidos já foram chamados de loucos. E melhor: segundo ela, o adjetivo deve ser considerado um elogio. “Se você não for chamado de louco quando propuser algo novo, talvez não esteja pensando com ambição suficiente”, afirma Linda no livro “De empreendedor e louco todo mundo tem um pouco” (Editora HSM Educação Executiva). Na obra, Linda aproveita o contato que já teve com empreendedores de todas as partes do mundo (além de sua experiência pessoal como CEO da Endeavor), para elencar algumas dicas direcionadas a quem quer abrir o próprio negócio, mas ainda não sabe como. Está interessado em entrar para esse clube? Então navegue pelos slides acima e veja dez conselhos pouco usuais para você apostar naquela sua ideia maluca e empreender. Todas as dicas foram tiradas do livro de Linda Rottenberg. Cada conselho da autora é exemplificado por casos reais de empreendedores “loucos”.
“O apoio decisivo que você precisa para começar qualquer empreendimento não é o oferecido por sua mãe, pai, esposa ou marido, patrão, financiador ou amigo nem por nenhuma outra pessoa. É a confiança vinda de você mesmo. E, no entanto, você é o agente mais difícil de convencer”, escreve Linda. Ainda segundo a autora, a decisão de se tornar um empreendedor não ocorre na parte da nossa cabeça de onde vêm as ideias brilhantes. É na parte onde estão as dúvidas, as inseguranças, a preocupação com o sustento da família. O empreendedor surge quando a vontade de empreender supera esses medos. “A única pessoa capaz de aprovar sua disposição para assumir riscos é você”, conclui. Para exemplificar essa ideia, Linda nos dá o exemplo de Thomas Edison, o criador da lâmpada elétrica. Segundo a autora, apesar de depois ter sido reconhecido como um grande inventor, no final do século 19, Edison era o “tolo de Nova Jersey”. Na época em que decidiu desenvolver a lâmpada, o empreendimento era considerado um fracasso certo. Além disso, a população acreditava que a luz elétrica poderia causar doenças oculares. Apesar de tudo, o inventor acreditou em sua ideia e não esperou a aprovação alheia para seguir em frente. Resultado: revolucionou a iluminação de casas, empresas e lugares públicos.
Parece contraditório, mas um dos principais conselhos de Linda para quem quer começar um negócio é: planeje menos e faça mais. Portanto, se você está há alguns meses elaborando minuciosamente seu plano de negócios, esqueça-o (pelo menos por ora). “Não estou dizendo que os planos de negócios são, em si, ruins. (...) O que importa é o momento em que o plano é desenvolvido: se fizer isso cedo demais, o empreendedor corre o risco de sufocar seu ímpeto e enterrar o entusiasmo sob uma enxurrada de dúvidas e números consolidados”, afirma a autora. A autora cita o caso da empreendedora Margart Rudkin. Seu filho tinha uma dieta restrita a alimentos naturais e por isso Margaret decidiu preparar um pão que ele pudesse comer. Depois de errar algumas vezes, ela chegou a uma receita que agradou ao filho e também ao médico dele, que passou a indicar os pães de Margaret a outros pacientes. Ela então foi oferecer seus pães à mercearia do seu bairro, e logo seu produto começou a fazer sucesso. “Margaret Rdkin tinha se tornado uma empreendedora sem querer. Tudo o que tinha era um motivo, uma cozinha e uma receita”, resume a autora. O que ela não tinha? Um plano de negócios.
Você acha que ser um empreendedor louco é arriscar tudo o que tem sem olhar para trás? Se a resposta for sim, você está redondamente errado. “O que empreendedores inteligentes sabem é como viabilizar uma ideia gastando o mínimo, com exposição reduzida e responsabilidade limitada”, explica Linda. Para esta dica, o exemplo da autora é do caso de uma empreendedora dos Estados Unidos chamada Sara Blakely que trabalhava como vendedora de aparelhos de fax. Sara inventou a Spanx, uma espécie de meia calça sem pés, para ser usada por baixo das calças brancas. O slogan do produto é “Não se preocupe, nós mantemos seu bumbum coberto.” Porém, após inventar a Spanx, Sara não largou seu emprego logo de cara. “Durante dois anos, [Sara] comercializou equipamentos de escritório em todos os dias da semana, das nove às cinco, e à noite e nos finais de semana vendia meias-calças. Só pediu demissão quando se sentiu segura quanto à possibilidade de que seu empreendimento daria certo”, conta Linda. E quando foi isso? Quando ninguém menos que a apresentadora Oprah Winfrey disse que a Spankx era um de seus acessórios favoritos. Portanto, aposte em sua ideia, mas não arrisque tudo de uma vez.
É isso mesmo que você leu. A dica de Linda Rottenberg é que não é uma boa ideia contar sua mais nova ideia de negócio para amigos ou familiares. “As pessoas queridas tendem a reagia à sua ideia de duas maneiras, e nenhuma delas útil para você”, afirma Linda. As duas reações típicas são bajulação (“Nossa como sua ideia é ótima!”) ou pessimismo (“Alguém já deve ter pensado nisso”). Para exemplificar esse conselho, a autora conta a história de Mel e Patricia Ziegler, criadores da marca de roupas Banana Republic. No início do negócio, o casal fez um catálogo caseiro, com ilustrações de Patricia e diálogos escritos por Mel. Animados, eles mostraram o catálogo para dois amigos. “Depois de folhear as páginas do catálogo, um deles perguntou: ‘Vocês não acham que isso vai vender alguma coisa, não é?’. O outro acrescentou, ‘Vocês têm certeza de que querem mandar isso pelo correio?’”, narra a autora. Felizmente, o casal de namorados não desistiu da ideia. Hoje a marca tem mais 600 lojas pelo mundo e foi comprada pela Gap. Segundo a autora, um dos motivos que gerou interesse pela marca foi justamente o catálogo confeccionado a mão.
Se você não nasceu em berço de ouro, nem tem uma agenda cheia de contatos quentíssimos, você deve exercitar uma habilidade fundamental para empreendedores: a ousadia (também conhecida como cara de pau). Para exemplificar, Linda usa um exemplo de uma empresa brasileira, a Proteus, especializada em segurança de rede. Os empreendedores Marcelo Romcy e João Mendes queriam atrair clientes de fora do país e, para isso, usaram uma estratégia nada ortodoxa. Em um evento da Endeavor na Jordânia, a dupla se apresentou a um CEO da região e, para provar que aquele presidente precisava dos serviços da Proteus, os dois se ofereceram para violar o sistema de sua empresa. “Três dias depois, Marcelo telefonou para o CEO: ‘O senhor quer que diga qual é a senha do seu e-mail?’, perguntou o jovem. ‘Estou lendo suas mensagens nesse exato momento’”, narra a autora. Resultado: a empresa se tornou cliente da Proteus e ainda indicou seus serviços para outras organizações da região.
Linda Rottenberg ressalta que o recurso da cara de pau não se restringe à busca por novos clientes. Também pode ser usado para conseguir aliados em seu negócio ou mesmo para estudar a concorrência.
A dica de Linda é simples: invariavelmente você vai encontrar revezes em seu caminho. Portanto, saiba aproveitá-los. “Todos os sonhadores enfrentam obstáculos algum dia. Não importa de que maneira você lida com os riscos, no final vai... dar com a cara na parede”, escreve a autora. Para ilustrar o conselho, Linda lembra a história de Walt Disney. Antes de se tornar um gigante da animação, Disney passou por alguns revezes. No pior deles, uma distribuidora de filmes acabou “roubando” uma série animada de Disney, além de ter ficado com sua equipe de animadores e os direitos autorais. E foi neste momento que Walt Disney criou o famoso Mickey Mouse. “Uma das criações mais épicas da história da cultura popular nasceu de uma combinação de medo com desespero. Mickey Mouse foi concebido em um momento de caos”, resume Linda. Portanto, aprenda a transformar o caos em aliado.
A partir de sua experiência de contato com centenas de empreendedores, Linda Rottenberg afirma que todos os empreendedores, em algum momento de sua trajetória, passam por uma situação limite em que precisam tomar uma grande decisão: seguir em frente ou abandonar o navio. A autora conta que com Henry Ford não foi diferente. No início do século passado, Ford tinha um projeto maluco: vender carros para a massa, numa época em que o bom negócio era vender para os ricos. Quando o protótipo de seu carro popular ficou pronto, aconteceu algo crucial na trajetória de Ford. No dia da montagem do primeiro veículo, “os operários envolveram o motor em uma corda de 15 metros de extensão, ergueram no ar e, aos poucos, o abaixaram de forma a encaixá-lo no chassi. (...) O motor começou a girar cada vez mais rápido, até se soltar da corda e despencar no chão, desfeito em milhares de fragmentos”, narra a autora. O que Henry Ford fez? “Sem alarde, se levantou e anunciou que ele mesmo iria construir um motor substituto”.
Segundo a CEO da Endeavor, um erro comum dos empreendedores iniciantes é “esquecer” que lideram uma equipe. “Depois de montar as startups e de colocá-las em marcha, muitos fundadores esquecem que é preciso administrar a organização que criaram”, afirma a autora. Uma das chaves para ser um bom líder na sua empresa é a agilidade. E, para isso, não é permitido temer o fracasso. No livro, Linda cita uma pesquisa feita com 500 empresas norte-americanas que mostrou que 40% dos executivos consultados “apontaram o temor de serem responsabilizados por erros ou falhas como o maior obstáculo para tomar iniciativas”. Para exemplificar, a autora cita a história da WD-40 Company, empresa que comercializa um produto contra ferrugem. Segundo Linda, para chegar à fórmula ideal contra ferrugem, foram necessárias 40 tentativas. A autora conta: “Em honra às origens da empresa, Garry Ridge, atual CEO, transformou o direito de errar em uma característica central das operações cotidianas da organização. (...) ‘Aqui não existe punição pela falta de sucesso’, falou ele”.
Existe no mundo dos negócios o mito de que o empreendedor é aquele que faz tudo sozinho. Segundo a CEO da Endeavor, essa imagem está “totalmente equivocada”. Para ter sucesso, o empreendedor precisa de ajuda, e muita. Por isso, o conselho da autora para quem quer ter um negócio de sucesso é: tenha um mentor (ou melhor, vários). Porém, para isso é preciso esta disposto a ouvir coisas muitas vezes desagradáveis, avisa Linda. O exemplo que a autora traz é o de Amin, um jovem empreendedor jordaniano que montou uma empresa de treinamento de professores. A empresa dele enfrentava dificuldades e estava estagnada. Foi então que o jovem empreendedor ouviu um conselho duro, vindo de um dos mentores da Endeavor, o empreendedor Kevin Ryan. “Coube a Kevin fazer o cruel anúncio: ‘Adoro a área em que você está atuando’, falou para Amin, ‘mas essa empresa não justifica o tempo que você investe nela’”, narra a autora. As palavras foram duras para Amin. Porém, graças a elas, no ano seguinte o empreendedor abriu outra empresa, focada na reforma do ensino, e que em menos de dois anos gerava uma renda de 4 milhões de dólares.
Hoje, empreendedores interessados em abrir um novo negócio buscam inovar e impactar positivamente a sociedade de alguma forma. Mas qual a preocupação que eles têm da porta para dentro? Segundo Linda, essa é uma questão fundamental. O que significa isso? Significa cuidar da qualidade de vida dos seus funcionários e criar um ambiente de trabalho propício para que eles desenvolvam sua criatividade e se sintam bem. “(...) achar que seus colaboradores precisam apenas de um holerite é uma visão ultrapassada”, resume a autora. Como exemplo, Linda cita o caso da Globant, uma empresa de tecnologia argentina fundada em 2003. Uma de suas iniciativas pró-funcionário envolveu nada menos que a localização da sede da empresa. “A ideia dos fundadores era reunir todos os colaboradores em uma construção no centro da cidade, mas, quando identificaram no mapa os endereços dos colaboradores, descobriram que quase ninguém morava na região central. (...). Por isso, os empreendedores apostaram em um movimento contrário: construíram três unidades menores em localidades escolhidas para evitar a complicação no deslocamento”, narra a autora.