Estudo da Capital Empreendedor mostra quais bancos tiveram as melhores e as piores taxas para cada linha de crédito (BernardaSv/Thinkstock)
Karina Souza
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 16h30.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 12h29.
A busca por crédito faz parte da rotina de empresas – e, seja para financiar a própria expansão ou garantir a própria sobrevivência, fato é que muitas recorrem aos bancos nesse momento. Na pandemia, essa situação ganhou proporções ainda maiores: o governo se mobilizou para oferecer novas linhas de crédito aos empreendedores e as cinco principais instituições financeiras do país (que, juntas, detêm 70% do mercado) emprestaram às empresas R$ 1,09 trilhão entre março e dezembro, segundo a Capital Empreendedor, marketplace de crédito para empresas.
O valor representa uma evolução de R$ 199 bilhões durante a pandemia no país -- um montante consideravelmente superior ao registrado em anos anteriores, de acordo com a empresa.
Ganha pouco, mas gostaria de começar a guardar dinheiro e investir? Aprenda com a EXAME Academy
A análise foi elaborada a partir de dados disponíveis no Relatório Semanal de Juros do BC entre 10/03/20 e 31/12/20. Os valores dizem respeito a cinco modalidades de crédito pré-fixadas: antecipação de recebíveis de cartão de crédito; capital de giro com prazo de até 365 dias; capital de giro com prazo superior a 365 dias; cheque especial; conta garantida; e desconto de duplicatas.
De acordo com a empresa, o saldo da linha de crédito que mais cresceu entre março e dezembro foi a de Capital de Giro com prazo de até 365 dias, que cresceu 73% de março a dezembro com crédito disponível de R$ 69,9 bilhões, ante R$ 40,4 bilhões.
O levantamento da Capital Empreendedor aponta que a linha corresponde a 7% dos recursos livres de crédito oferecidos às empresas, atrás apenas da linha de Capital de Giro com prazo superior a 365 dias, com 33% do saldo de crédito disponível (R$ 361,97 bilhões), e do Desconto de Duplicatas, com 10% do saldo de crédito (R$ 125,97 bilhões).
Em seguida, a Antecipação de Faturas de Cartão de Crédito atingiu uma redução média de 16% no período considerado. A linha representa 4% do saldo total de crédito com recursos livres no mercado, com R$ 45,32 bilhões concedidos até 30 de dezembro.
Por fim, a Conta Garantida sofreu uma queda de 38% no uso durante a pandemia, representando R$ 21,59 bilhões em dezembro (2% dos recursos totais) ante os R$ 37,06 bilhões oferecidos em março de 2020. E o Cheque Especial tem uso cada vez menor: em dezembro, apenas 0,66% do saldo de crédito disponível vem dessa linha, o que representa R$ 6,1 bilhões e uma queda de 43% sobre o início do ano.
De acordo com a Capital Empreendedor, esse movimento está relacionado à própria característica de incerteza em relação ao futuro (com as medidas de isolamento social). “Esse estudo mostra importantes dados relacionados ao comportamento do crédito ao longo de meses em que empresários precisaram ser ainda mais resilientes e atentos às opções disponíveis no mercado”, afirma Juliano Graff, fundador da Capital Empreendedor, à EXAME.
Ainda segundo o estudo, o spread bancário (diferença entre a taxa de juros aplicada nos empréstimos e a taxa de captação de recursos) nas linhas de crédito para empresas foi aumentou 52% de março a dezembro, passando de 259% a 343% em relação à taxa Selic.
Mesmo assim, a Febraban explica que os patamares gerais dos juros estão bastante abaixo do período pré-crise (fevereiro de 2020). “Não à toa, a taxa média de juros da carteira PJ Livre está em 11,7%, com sua mínima alcançada em set/20, de 11,5%. Em fevereiro do ano passado, a taxa estava em 17%, ou seja, já recuou 5,3 p.p.”, explica a instituição, em nota.
De acordo com a Federação, “85% do spread se devem aos custos da atividade de emprestar. Entre eles estão os custos associados à inadimplência (37%), as despesas tributárias, regulatórias e fundo garantidor de créditos (23%) e os gastos administrativos (25%). Cerca de 15% representam a margem financeira, o lucro dos bancos”, finaliza a Febraban, em nota.
Melhores e piores taxas para cada linha de crédito
A Capital Empreendedor mostrou quais bancos tiveram a “maior queda” nas taxas de juros das linhas de crédito analisadas, a “menor queda”, a “melhor taxa” e a “pior taxa”. Olhando exclusivamente para os bancos que se mantiveram mais caros – portanto, com a pior taxa – durante o período analisado, o banco Santander ocupa essa posição para três das seis linhas analisadas: antecipação de faturas de cartão de crédito, capital de giro com prazo superior a 365 dias e cheque especial.
Ao mesmo tempo, segundo o estudo, o banco tem as melhores taxas para as modalidades de conta garantida e desconto de duplicatas.
Questionado a respeito porquê ser mais caro do que os demais nas três modalidades de crédito citadas acima, o banco afirma que “tem, historicamente, um posicionamento competitivo e de proximidade com os diversos grupos de clientes com que se relaciona. Vale informar que o banco não trabalha com um preço único, mas sim com preços que variam conforme o perfil da garantia, setor econômico e faixas de faturamento da empresa. Desta forma, as médias apontadas pelo estudo em questão refletem menos o preço em si do que o mix de vendas”, em nota.
O banco também defende que tem uma postura próxima aos empreendedores e que, em 2020, lançou algumas iniciativas para facilitar o crédito, como: "linha de capital de giro com três meses de carência, o sistema Copiloto, que facilitar a gestão de pequenas e medias empresas e o Programa Avançar, com cursos online, podcasts e artigos sobre temas relevantes para o desenvolvimento do empreendedor", completa o banco, em nota.
A Caixa foi classificada como a pior taxa em duas das modalidades analisadas: Capital de Giro com prazo de até 365 dias e desconto de duplicatas. A única linha de crédito que foi classificada como “melhor taxa” entre os demais foi a de cheque especial. A EXAME entrou em contato com o banco para identificar o porquê de ser mais caro do que os demais nessas linhas e o banco não se pronunciou até à publicação desta reportagem.
O Bradesco aparece como a pior taxa em uma modalidade de crédito: Conta Garantida. Também figura como a “melhor taxa” em apenas um segmento, o de antecipação de faturas de cartão de crédito.
Em resposta aos questionamentos a respeito do porquê de ter taxas mais caras do que os demais na modalidade citada acima, o banco afirma que “As taxas de juros das operações de crédito seguem as características de cada modalidade de crédito, os modelos de precificação levam em consideração diversas variáveis como: risco de crédito, relacionamento do cliente com o banco, eventuais garantias, entre outras variáveis”, em nota.
O Banco do Brasil não foi classificado como a pior taxa em nenhuma das modalidades analisadas. Contudo, o banco obteve a “melhor taxa” para duas delas: capital de giro com prazo de até 365 dias e capital de giro com prazo superior a 365 dias.
Por fim, o Itaú não teve nenhuma de suas linhas analisadas como a melhor ou a pior taxa entre os demais.
Escolher o banco mais adequado para o crédito que cada empresa necessita pode ser um desafio – enfrentar a burocracia pode ser um desafio e tanto. “Queremos ser um ‘google’ do crédito, especialmente para as pequenas e médias empresas”, afirma Juliano Graff, fundador da Capital Empreendedor.
Em suma, os empreendedores se cadastram na plataforma e a empresa faz o meio de campo entre eles e as instituições financeiras. Nenhuma taxa é cobrada para se cadastrar, mas, quando algum negócio é fechado por meio da plataforma, um porcentual do valor do empréstimo é cobrado de quem toma o crédito.
De todo modo, para tomar crédito sem cair em cilada, o Sebrae fornece diferentes dicas em seu portal, abordando pontos que vão desde as próprias linhas de crédito a serem analisadas, até o financiamento e consultoria para aprovação de crédito.
Para Lucia Gomes, consultora do Sebrae há mais de dez anos, o principal cuidado a ser tomado nessa etapa é o planejamento financeiro. “Uma grande dificuldade é enxergar o crédito como algo que deverá entrar na agenda de contas a serem pagas por parte das empresas. O crédito não pode ser um ‘cobertor curto’ em que as empresas se apoiam para manter a operação funcionando indefinidamente”, afirma.
Outros pontos ressaltados por ela são a atenção aos locais onde as empresas buscam tomar crédito. Além dos bancos, olhar para outras linhas pode ajudar a obter juros mais baixos durante algum tempo. Para isso, é necessário estar com a documentação da empresa (e pessoal) organizada, a fim de facilitar o processo de tomada de crédito.
“Dê uma olhada na ‘grama do vizinho’ e veja o que cada instituição é capaz de oferecer à sua empresa. Não misture os documentos e as finanças da empresa com os pessoais e organize financeiramente ambos para conseguir ter acesso ao máximo de alternativas possíveis”, finaliza.
Para Juliano Graff, fundador da Capital empreendedor, o melhor momento para captar crédito é agora. Com a expectativa da Selic a 3,75% até o fim do ano, a percepção é de que os empréstimos também devem ficar mais caros daqui até lá.
“A Selic despencou e muitos empresários ainda não fizeram a portabilidade da dívida. Outro ponto é a própria tomada de crédito em si. É melhor ir atrás disso agora, enquanto a Selic está baixa, do que no fim do ano ou até no ano que vem, quando a precisão do mercado é Selic a 5%. Como consequência clara, os juros também vão aumentar e será mais difícil tomar esse dinheiro”, finaliza Graff.